Investing.com — Em sua proposta orçamentária para 2025, o governo francês prevê uma redução do déficit fiscal de 6,1% do PIB em 2024 para 5% no ano seguinte. No entanto, uma análise do Citi sugere que essa projeção pode ser "irrealista", especialmente considerando os desafios enfrentados neste ano e o fato de que o plano do governo depende mais do crescimento das receitas do que de cortes de gastos.
O plano envolve um ajuste de €60 bilhões, que seria alcançado por meio de uma combinação de aumento de receitas e cortes de despesas. Porém, esses cortes são baseados nas projeções para 2025, não sendo reduções absolutas. O relatório destaca que o governo pretende elevar a arrecadação fiscal em quase 10%, com aumentos significativos nos impostos sobre empresas, energia e rendas mais altas.
Uma das maiores preocupações do Citi é a confiança excessiva do governo nesses aumentos de receita, que podem ser mais difíceis de alcançar do que o previsto. Por exemplo, o orçamento de 2024 do governo inicialmente projetou um aumento de 27% nas receitas de impostos corporativos — uma meta ambiciosa que se mostrou desafiadora devido ao crescimento econômico mais lento do que o esperado.
Embora o governo preveja um crescimento real do PIB de 1,1% para 2025, os analistas do Citi são mais cautelosos e sugerem uma taxa de crescimento de 0,7%, considerando o efeito restritivo do orçamento. Um crescimento mais baixo poderia prejudicar as projeções de receita, levando a mais um ano de metas fiscais não atingidas.
Além disso, o relatório questiona a viabilidade do plano de redução do déficit a médio prazo. O governo planeja reduzir o déficit para menos de 3% do PIB até 2029, mas o Citi acredita que esse objetivo provavelmente exigirá reformas estruturais, que podem não ter o apoio político necessário para serem aprovadas.
A instabilidade política do governo francês também agrava as incertezas. Sem uma maioria clara no parlamento, a aprovação do orçamento pode enfrentar dificuldades, o que poderia forçar o governo a recorrer ao Artigo 49.3 para garantir a aprovação da legislação. Embora esse método mantenha a governabilidade, ele pode gerar intensos debates políticos nas próximas semanas.
Do ponto de vista dos mercados, o Citi acredita que o impacto pode ser limitado, já que grande parte dessas informações já era esperada. Os spreads dos títulos franceses já se ampliaram, refletindo a percepção do mercado sobre esses desafios fiscais. No entanto, as agências de classificação de risco podem adotar uma abordagem mais rigorosa, e o Citi destaca que a próxima avaliação da Fitch, prevista para esta sexta-feira, será um teste importante da credibilidade do governo em sua gestão fiscal.