Por Laura Sanchez
Investing.com – Os mercados europeus operavam no vermelho nesta quinta-feira, acompanhando o tom negativo do fechamento de ontem em Wall Street e as quedas dos mercados asiáticos nesta madrugada, após o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante a coletiva de imprensa pós-decisão de juros.
Na ressaca pós-Fed, analistas apresentam suas visões e perspectivas sobre o que esperar a partir de agora.
O comportamento do mercado “foi claramente de mais para menos, com o comunicado do Fomc e a posterior coletiva de imprensa do seu presidente, Jerome Powell, como ponto de inflexão do dia”, explicou a Link Securities em seu relatório diário.
A “enterrada” no mercado, de acordo com o informe diário do Bankinter, foi “o fato de Powell dizer que, para começar a reduzir as taxas, seria necessário ter certeza de que a inflação está convergindo para a meta de 2%, restando ainda muito caminho pela frente”.
O BBVA (BME:BBVA) Research afirmou que o Fed indubitavelmente foi mais rígido (“hawkish”, no jargão do mercado) com a frase: “ainda temos mais trabalho a fazer”.
Mensagem indubitavelmente “hawkish”
Como apontou a Link Securities, depois que o Fed elevou os juros em 50 pontos-base (pb), dentro da expectativa, as surpresas começaram:
- O Fed deixou claro que continuará subindo os juros para combater a inflação elevada e o fará até alcançar níveis acima do que era esperado em setembro (5,1% vs. 4,6%) e do que o mercado estava precificando (4,86%).
- O Fed também descartou a intenção de começar a cortar juros em 2023, algo que não acontecerá até 2024, quando a inflação mostrar claros sinais de que está convergindo para a meta de 2%.
- O Fed revisou para baixo suas expectativas de crescimento econômico para 2023 e 2024.
- O Fed revisou para cima suas expectativas de inflação, uma variável que não ficará perto de 2% até 2025 (o banco espera 2,5% em 2024).
O que esperar a partir de agora?
Charles Diebel, diretor de renda fixa do Mediolanum International Funds Limited (MIFL), ressalta que a “determinação do Fed de elevar os juros para acabar com os riscos inflacionários pode ser interpretada como uma inclinação a favor da política monetária, mas provavelmente reflete a recente flexibilização das condições financeiras, demonstrando seu empenho em controlar as pressões de preço no devido tempo”. Além disso, “uma variável-chave a partir de agora será como o crescimento se firmará diante do aperto maior”.
“Embora esse cenário de juros maiores, crescimento mais baixo e inflação persistentemente elevada seja o mais factível, acabou se consolidando pelo discurso de Powell e pela análise do cenário macroeconômico apresentado pelo Fed, bem como pela reação ‘moderada’ de queda dos mercados acionários ontem, levando-nos a acreditar que muitos investidores ‘não acreditam no Fed’, ao demonstrar disposição em enfrentá-lo, o que historicamente sempre foi um erro grave. Cabe dizer ainda que os mercados futuros continuam prevendo cortes de juros no segundo semestre de 2023, o que nos parece ser muito improvável”, complementou a Link Securities.
“O fato de que o Fed não abandonou a linguagem de ‘aumentos contínuos’ no comunicado sugere que pretende subir os juros várias vezes (pelos menos duas vezes) no próximo ano”, ressalta o BBVA Research.
“A mediana das projeções para a taxa dos fundos federais no fim de 2023 foi revisada para 5,1%. Isso sugere uma perspectiva agressiva, com um aperto adicional de 75 pb”, disseram os analistas.
Apesar da queda das ações, “os títulos e o dólar praticamente não se mexeram, o que parece sugerir que os investidores estão céticos quanto à manutenção dos juros elevados, diante de um impacto maior que o esperado no ciclo”, conclui a Renta 4.