Investing.com – O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deve fornecer novas pistas sobre o rumo da política monetária dos EUA nesta semana, mas, ainda que seus comentários não tenham o mesmo tom de “dor” do ano passado, a expectativa do Goldman Sachs é que o chefe do banco central americano cogite a ideia de juros mais altos por mais tempo.
O pronunciamento de Powell deve enfatizar a ideia de “concluir o trabalho”, na avaliação dos estrategistas do banco de Wall Street, mas isso ainda significa uma economia com um crescimento abaixo do potencial e uma inflação com uma trajetória clara e sustentável de queda.
Para concluir o trabalho em relação à inflação, o Fed também pode ter de elevar a taxa de juros de longo prazo ou neutra, isto é, aquela que nem estimula nem freia o crescimento econômico, apontando para uma trajetória de alta para os juros no futuro.
Uma eventual mudança na visão sobre a taxa neutra merece atenção, como aponta o Morgan Stanley, pois isso implicaria uma alteração na trajetória esperada para a política monetária e, consequentemente, para a curva de juros como um todo.
Mercado de títulos teme comentários de Powell sobre juro neutro mais alto
Os mercados de títulos, porém, não estão aguardando no escuro pelos novos comentários de Powell. Eles parecem estar se antecipando a uma postura mais “hawkish”, ou rígida, da política monetária, com taxas mais altas por um período prolongado, à medida que caem as expectativas de cortes de juros no início do ano.
A taxa do título de 10 anos do Tesouro americano alcançou seu patamar mais alto desde 2007 na segunda-feira, com o aumento dos temores de que Powell possa aventar a possibilidade de uma taxa neutra mais elevada.
Em junho, as autoridades monetárias projetaram uma estimativa mediana da taxa neutra de juros de 2,5%, implicando uma taxa de juro real (o chamado “r*” ou “r-estrela”, obtido pela subtração da inflação de 2% do Fed) de 0,5%.
“Em termos conceituais, se a taxa básica estiver acima do r*, a política monetária está desacelerando a economia, e se a taxa básica estiver abaixo do r*, está estimulando a economia”, afirmou o Morgan Stanley em uma nota.
Essa taxa real de juro neutro não mudou desde 2019 e, após a retomada econômica pós-covid, menos sensível a juros, alguns têm defendido uma taxa neutra mais alta para tornar a política monetária restritiva, ajudando a conter o crescimento e a inflação.
“As famílias estão em boa condição, com bastante excesso de poupança e bom cenário de emprego, o que faz com que a economia seja menos sensível aos juros, já que o investimento não vem de endividamento”, declarou Phillip Colmar, estrategista global da MRB Partners, em uma entrevista a Yasin Ebrahim, do Investing.com, no mês passado.
“Este não é um ciclo impulsionado pelo crédito, então é necessário um custo de capital mais alto para sufocar a economia”, acrescentou Colmar.
Powell quer controlar apostas em “virada” da política monetária, mas reconhece progresso com a inflação
O conjunto recente de dados, incluindo um aumento mais forte nas vendas do varejo em julho, mostrando que o consumo segue firme, indica que não há “muita justificativa” para que Powell adote uma postura mais “dovish”, ou flexível, no simpósio de Jackson Hole, declarou o MUFG em uma nota.
Embora aqueles que defendem cortes de juros mais cedo não sejam tão numerosos e vocais como nos últimos meses, há aspectos positivos que o presidente do Fed deve enfatizar quando assumir o centro do palco na manhã de sexta-feira.
Ao contrário do que aconteceu há um ano, quando o presidente do Fed alertou que taxas de juros mais altas causarão “alguma dor” para o consumidor, o Goldman Sachs afirma que o cenário atual é muito mais tranquilizador e um "pouso suave parece mais plausível agora do que em qualquer momento ao longo do último ano".