Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - O Senado da Argentina iniciou nesta quarta-feira o debate de um amplo projeto de lei que é chave para os planos de reforma econômica do novo presidente libertário, Javier Milei, enquanto os manifestantes ateavam fogo e entravam em confronto com a polícia nas ruas do lado de fora do Congresso.
A câmara alta, dividida quase ao meio em relação ao projeto, deve passar por uma maratona de debates. O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em abril na segunda tentativa e com muitas mudanças.
O governo Milei, que tem apenas uma pequena minoria nas duas Casas, tem negociado para atrair aliados. Sabe que o projeto será modificado, mas espera conseguir pelo menos uma aprovação geral para ele. Rejeição completa seria um golpe forte contra o governo.
Legisladores locais e veículos de imprensa estimaram que os senadores estão igualmente divididos. O projeto de lei precisa de 37 votos dos 72 senadores para conseguir uma maioria.
“É uma votação bem equilibrada: está 36 a 36”, afirmou Guadalupe Tagliaferri, parlamentar conservadora do Juntos pela Mudança, aliado do governo. Ela acrescentou que a votação pode acabar sendo desempatada pela vice-presidente, que preside o Senado.
O principal bloco de oposição peronista de esquerda, estreitamente aliado aos sindicatos, deve votar contra a chamada “Lei Bases” e um pacote fiscal separado. O principal projeto inclui planos para privatizar empresas públicas, conceder poderes especiais ao presidente e estimular investimentos.
"A vida do povo argentino está em jogo. Já bebemos esse veneno várias vezes: ter inflação zero com atividade econômica zero", disse o manifestante e líder social Luis D'Elia, enquanto milhares de pessoas protestavam contra as reformas planejadas.
"Esse veneno falhou várias vezes na Argentina e não permitiremos que isso continue."
Imagens da Reuters das ruas de Buenos Aires mostraram um carro incendiado, com manifestantes dispersos atirando pedras e garrafas, enquanto a tropa de choque da polícia usava gás lacrimogêneo, mangueiras de água e balas de borracha.
O gabinete de Milei emitiu um comunicado parabenizando as forças de segurança por conter "grupos terroristas" armados com bastões e granadas que "tentaram perpetrar um golpe de Estado" Ele não forneceu mais evidências.
Milei, um extravagante economista e ex-comentarista que entrou em conflito com parlamentares e regularmente chamou o Congresso de “um ninho de ratos”, vinculou muita coisa ao projeto. Seu governo diz que é a chave para desfazer uma grande crise econômica que ele herdou.
"Vamos mudar a Argentina, vamos fazer uma Argentina liberal. Seremos o país mais liberal do mundo e em 40 anos nos tornaremos a primeira potência mundial", disse Milei em um fórum econômico nesta quarta-feira.