Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a terça-feira em baixa no Brasil, com a curva a termo reagindo aos dados melhores que o esperado da inflação e precificando chances maiores de o Banco Central acelerar o ritmo de cortes da Selic, mas não em setembro.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23% em agosto, depois de alta de 0,12% em julho, resultado abaixo da expectativa apontada em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,28%.
A inflação de serviços, acompanhada de perto pelo BC, também mostrou um cenário mais benigno ao desacelerar para 0,08% em agosto, ante 0,25% em julho. O grupo de Alimentação e Bebidas mostrou queda pelo terceiro mês consecutivo, de 0,85%.
Os números, considerados positivos pelo mercado financeiro, elevaram um pouco as apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC poderá acelerar o ritmo de cortes da taxa básica Selic, de 0,50 para 0,75 ponto percentual, ainda que não no curtíssimo prazo. A Selic está atualmente em 13,25% ao ano.
Na curva a termo, a perspectiva de corte de meio ponto na reunião deste mês do colegiado segue largamente majoritária, mas para os encontros de novembro e dezembro aumentaram as apostas de corte de 0,75 ponto percentual.
O economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, chamou a atenção durante a tarde para o fato de a curva estar precificando cerca de 40% de chances de corte de 0,75 ponto percentual em dezembro.
O movimento de queda nas taxas futuras foi mais pronunciado no contrato para janeiro de 2026, que apresentou queda de quase 10 pontos-base.
“Essa parte da curva sofre bastante influência das taxas curtas. Você tem um número bom no IPCA, então coloca a probabilidade de ou o BC cortar mais a Selic mais cedo, ou terminar os cortes com a Selic mais baixa”, disse Serrano.
Apesar do IPCA favorável, Serrano afirma que ainda não há condições para que o BC, de fato, acelere o ritmo de cortes. Esta também é a percepção do gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
“Tem muita gente que acha que o BC vai ter que acelerar o ritmo de cortes em algum momento. Mas talvez ele espere para ver qual será o ritmo do Fed, do BCE. Com um cenário externo menos nebuloso, o BC pode pensar nisso”, avaliou.
O futuro da política monetária do Federal Reserve e do Banco Central Europeu é um dos fatores de influência sobre os juros no Brasil. Na quarta-feira, saem os dados de inflação ao consumidor nos EUA, que podem passar mais indicações sobre o futuro da política monetária no país.
Com o movimento do dia, perto do fechamento a curva a termo precificava apenas 5% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 95%.
“O dado cheio do IPCA volta (com) aquela tese dos 75 pontos-base (de corte) -- não na reunião de agora, na reunião de agora estão mais do que contratados os 50 pontos-base”, afirmou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, em comentário enviado a clientes. “Mas até o fim do ano temos encontros da autoridade monetária e, a depender dos dados, pode ser... que esta chance fique mais forte.”
No fim da tarde desta segunda-feira a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,3%, ante 12,324% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,425%, ante 10,487% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,055%, ante 10,154%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,3%, ante 10,39%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,635%, ante 10,708%.
No exterior, a curva de juros norte-americana registrava alta na ponta curta, mas recuava entre os contratos mais longos, com investidores à espera dos dados de inflação da quarta-feira.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos --que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- subia 1,00 ponto-base, a 5,0052%.O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento--, a 4,2682%.