Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após três dias de queda, as taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quarta-feira em alta, em um dia marcado por certa recomposição de posições antes do feriado no Brasil, pela divulgação de dados de inflação favoráveis e por um movimento mais acomodado dos rendimentos dos Treasuries de 10 anos nos EUA.
Na segunda e na terça-feira, declarações de autoridades do Federal Reserve com tom dovish (brando com a inflação) abriram espaço para uma forte queda dos rendimentos dos Treasuries, com investidores vendo chances menores de o banco central norte-americano subir mais os juros.
Somado a isso, houve um movimento de busca dos investidores pelos títulos norte-americanos como forma de proteção, após o início dos conflitos no Oriente Médio, o que também pesou sobre os yields.
Somente na terça-feira -- após o feriado do Dia de Colombo da segunda nos EUA -- os rendimentos dos títulos norte-americanos de 10 anos cederam 13 pontos, depois de terem atingido na sexta-feira os maiores níveis em 16 anos. No Brasil, a queda dos rendimentos dos títulos norte-americanos se traduziu em baixa firme das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
Nesta quarta-feira, o movimento de queda dos yields foi mais acomodado na maior parte da sessão, o que também se refletiu no Brasil.
“Com o conflito no Oriente Médio, houve um alívio nas taxas dos Treasuries de 10 anos, em um movimento bem forte. Além disso, os diretores do Fed viraram a mão, com um discurso mais brando”, pontuou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Este rali dos Treasuries de 10 anos deu uma acalmada agora.”
O feriado de quinta-feira no Brasil, quando os mercados globais permanecerão abertos, também trouxe certa cautela aos negócios nesta quarta-feira. Alguns investidores preferiram elevar posições compradas em taxa para enfrentar o feriado prolongado.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que subiu menos que o esperado, foi bem recebido pelo mercado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador teve alta de 0,26% em setembro, após avanço de 0,23% em agosto.
O resultado ficou bem abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de alta de 0,34%. Além do IPCA cheio, a composição do IPCA agradou, com queda do índice de difusão e da média de núcleos de inflação.
“De forma geral, esse IPCA corrobora a nossa tese de que a inflação continua numa trajetória baixista -- os últimos dados vêm mostrando que a inflação brasileira segue mais controlada comparado aos últimos meses”, disse o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, em comentário a clientes.
Apesar do IPCA favorável, o dia foi de alta para as taxas futuras no Brasil, após os recuos mais recentes. A divulgação da ata do último encontro de política monetária do Fed, durante a tarde, pouco mudou o cenário.
Operador ouvido pela Reuters pontuou que as declarações dos membros do Fed na segunda e na terça-feira, consideradas mais brandas com a inflação, acabaram por esvaziar a ata.
Agora, as atenções se voltam para a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA na quinta-feira -- quando o mercado brasileiro estará fechado.
No fim da tarde desta quarta-feira a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,222%, ante 12,208% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,885%, ante 10,751% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,665%, ante 10,553%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,85%, ante 10,781%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,12%, ante 11,069%.
Com o movimento, perto do fechamento a curva a termo precificava em 95% as chances de o corte da Selic em novembro ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual -- uma possibilidade surgida após os avanços recentes -- eram precificadas em 5%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em queda.
Às 16:50 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 7,80 pontos-base, a 4,5767%.