Após uma manhã de instabilidade e troca de sinais, o dólar se firmou em baixa no mercado doméstico de câmbio ao longo da tarde, em sintonia com o aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior. Sem indicadores econômicos de peso, ativos de risco se recuperaram com alívio nos mercados de renda fixa na esteira de intervenção do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) via compra temporária de títulos de longo prazo. Também contribuiu para o bom humor dos investidores o fato de o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, não ter feito comentários sobre a política monetária em evento pela manhã.
Com recuperação parcial da libra esterlina e do euro dos tombos recentes, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente uma cesta de seis moedas fortes - desceu do patamar de 114,000 pontos para operar ao redor dos 112,600 pontos. Como raras exceções, o dólar caiu em bloco frente a divisas emergentes e de exportadores de commodities. As taxas dos Treasuries, que vinham pressionadas, recuaram e tocaram mínimas à tarde, alinhadas ao desafogo nos títulos britânicos (gilts).
Por aqui, o dólar registrou mínima a R$ 5,3237 (-0,98%) na segunda etapa de negócios, cerca de dez centavos abaixo da máxima (R$ 5,4233). No fim do dia, a divisa era negociada a R$ 5,3497, em baixa de 0,50%. Apesar do refresco nesta quarta, a moeda ainda acumula alta de 1,93% na semana - o que leva os ganhos em setembro a 2,85%. No ano, o dólar apresenta perdas de 4,06%.
O real, que costuma se destacar entre pares em episódios de recuperação do apetite ao risco, desta vez teve um desempenho relativo modesto. Moedas emergentes como o rand sul-africano e o peso mexicano subiram mais de 1% frente ao dólar. A falta de fôlego da moeda brasileira foi atribuída por profissionais de mercado à postura defensiva dos agentes às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial.
Parece ter se esvaído nos últimos dias o tal "efeito Meirelles", alusão ao apoio do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas de intenção de voto. Promessas de responsabilidade na gestão das contas públicas feitas pelo petista na terça em jantar com grandes empresários não foram capazes de reduzir as incertezas sobre qual será a âncora fiscal em caso de volta de Lula ao Planalto, dizem operadores.
"O cenário poderia ser de dólar mais para baixo, porque o Brasil já fez a lição de casa na política monetária e tem algum crescimento. O real acaba sofrendo com essa questão eleitoral, que deixa o investidor bem arisco", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. "Se houver uma sinalização positiva sobre o gasto público, o dólar vem para baixo de R$ 5. O Brasil está melhor que outros emergentes e o investidor estrangeiro não tem para onde ir".
O Banco Central informou nesta quarta-feira à tarde que o fluxo cambial foi negativo em US$ 2,274 bilhões na semana passada (de 19 a 23), com saída de US$ 812 milhões no canal financeiro e de US$ 1,462 bilhão via comércio exterior. Em setembro (até o dia 23), o saldo é negativo em US$ 3,895 bilhões, sobretudo em razão do lado financeiro (-US$ 2,479 bilhões). Em 2022, o fluxo total se mantém positivo em US$ 17,290 bilhões.