SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia ante o real nesta sexta-feira, depois de três quedas consecutivas, com investidores captando o clima arisco no exterior em meio a temores de mais abalo econômico decorrente de medidas para conter o coronavírus, os quais sobrepujavam o anúncio na véspera de um pacote trilionário de estímulos nos Estados Unidos.
Riscos de lockdowns mais rígidos na Alemanha e na França --as duas maiores economias da zona do euro-- e uma ressurgência de casos de Covid-19 na China --a segunda maior economia global-- levavam investidores a buscar mercados mais seguros em detrimento de moedas emergentes e petróleo, entre outros ativos de risco.
Às 10h08, o dólar negociado no mercado interbancário subia 0,91%, a 5,2585 reais na venda. A cotação vem de três baixas, nas quais acumulou perda de 5,29%, quase zerando os ganhos no ano.
O real tinha o segundo pior desempenho global, melhor apenas que o shekel israelense, que caía mais de 2% após o banco central do país aumentar o volume de intervenção para conter os ganhos da moeda, a qual bateu recentemente uma máxima em 25 anos.
No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de rivais avançava 0,24%, enquanto moedas de perfil semelhante ao do real se depreciavam.
Os mercados digeriam o anúncio feito na véspera pelo presidente eleito dos EUA, Joe Biden, de proposta de estímulo econômico de 1,9 trilhão de dólares. Mas o próximo mandatário norte-americano deve enfrentar obstáculos no Congresso.
"Biden anunciou um grande estímulo. Mas os mercados estão caindo. Tanto o mercado não acredita que irá acontecer (o plano de estímulo) quanto ele já estava precificado depois do vazamento no noticiário um dia antes --ou os mercados estão simplesmente cansados", disse Jens Nordvig, fundador da Exante Data e que já trabalhou no Goldman Sachs, Nomura e Bridgewater.
Apesar da alta desta sexta, o dólar no Brasil ainda caminhava para queda semanal de 2,9%, após saltar 4,34% --maior alta desde junho--, marcando o pior começo de ano para o real desde pelo menos 2003.
Estrategistas do Deutsche Bank ainda veem o real com potencial de valorização, sobretudo contra o peso mexicano. Eles argumentam que a moeda brasileira está "relativamente isolada" dos efeitos de juros mais altos nos Estados Unidos devido à "muito baixa" participação de investidores estrangeiros na dívida pública local.
Além disso, "a moeda é a mais barata do mundo, o resultado somado da conta corrente e da conta de capital está se recuperando e o BC está ficando mais cauteloso com o câmbio devido à inflação em alta", afirmaram George Saravelos e Shreyas Gopal em relatório desta semana.
Desde a última terça-feira --quando bateu uma mínima desde junho de 2004--, o real acumulava ganho de 3,9% frente ao peso mexicano.
(Por José de Castro)