Já em baixa firme desde a abertura dos negócios, o dólar à vista aprofundou as perdas ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 25, em queda de 2,35%, cotado a R$ 5,3697 - primeiro fechamento abaixo da linha de R$ 5,40 desde 11 de julho e maior tombo em um único pregão desde 10 de março (-2,50%). A divisa oscilou mais de 10 centavos entre a máxima (R$ 5,4790), na abertura, e a mínima (R$ 5,3665).
Segundo analistas, o enfraquecimento da moeda americana no exterior, em semana de decisão do Federal Reserve, e a recuperação das commodities, na esteira de medidas de resgate ao setor imobiliário na China, abriram espaço para realização de lucros e redução de posições compradas (que ganham quando o dólar sobe) no mercado futuro. Iniciado pela manhã, esse movimento ganhou força na segunda etapa de negócios, com uma corrida por zeragem de posições turbinada pela liquidez reduzida.
Na semana passada, o dólar chegou a beliscar, nas máximas, o patamar de R$ 5,50 e encerrou a sessão de sexta-feira (22) com valorização acumulada de 5,04% em julho. Havia, portanto, espaço para um ajuste de baixa assim que houvesse um ambiente mais ameno no exterior e arrefecimento das tensões locais, dizem operadores.
"O dólar sobe muito rápido quando tem estresse, mas também cai rapidamente quando o cenário melhora. Teve uma realização forte de ganhos hoje com o mercado 'pequeno'. É muito caro carregar posição em dólar com esse CDI alto", diz o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de divisas fortes - trabalhou em baixa de cerca de 0,25% ao longo da sessão abaixo da linha de 106,500 pontos, com uma ligeira recuperação do euro forte alta da libra. A moeda europeia ficou um pouco menos frágil após o Banco Central Europeu surpreender e elevar a taxa de juros em 50 pontos-base na semana passada. O DXY não tombou mais porque o iene se fortaleceu após dois novos dirigentes do Banco do Japão acenarem em discurso de posse com possível mudança da política monetária expansionista.
É amplamente majoritária a expectativa de que o Fed anuncie na quarta-feira (27) um nova alta da taxa de juros em 75 pontos-base, após flerte momentâneo do mercado com a possibilidade de elevação em 100 pontos-base. As atenções estarão mais voltadas ao tom do comunicado e, sobretudo, a declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva.
Já há quem veja possibilidade de o BC americano amenizar o discurso contra a inflação em meio a indicadores que mostram enfraquecimento de indústria e serviços nos EUA. Na ponta oposta, o mercado de trabalho segue com desempenho robusto. Na quinta-feira (28), sai o resultado preliminar do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre, após retração de 1,6% no primeiro.
"O comportamento do dólar aqui vai depender muito do que o Fed fizer. Mas o cenário ainda é de dólar para cima. Pode voltar a R$ 5,50 porque temos nossas questões fiscais e políticas, com a eleição se aproximando", diz Iha, da Fair.
O dólar também caiu em bloco frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real, que vinha apanhando mais, exibiu os maiores ganhos, seguido do peso chileno, com alta superior a 1%. As cotações do petróleo subiram, com o tipo Brent para outubro, referência para a Petrobras (BVMF:PETR4), em alta de 1,84%, a US$ 100,19 o barril. O minério de ferro negociado em Qingdao, na China, avançou 1,24%, após circularem informações de que o governo chinês pode lançar um fundo imobiliário de até US$ 44 bilhões para lidar com a crise das incorporadoras.
Para a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, eventuais estímulos econômicos na China e a perspectiva de melhora de preços de commodities abriram espaço para uma recuperação das moedas emergentes da qual o real se beneficiou. "Além disso, melhorou a expectativa de fluxo de capital para o Brasil depois que os Estados Unidos e o Reino Único revogaram medidas restritivas a exportação de aço brasileiro. Isso ajudou a animar o mercado", diz.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que o real não conseguiu aproveitar o tropeço da moeda americana lá fora na semana passada, na esteira de dados fracos de atividade nos EUA e da decisão do BCE de subir os juros em 50 pontos. O real sofreu, segundo Damico, em parte em razão da queda dos termos de troca, mas principalmente por conta do cenário político conturbado e dos riscos fiscais. "O cenário para taxa de cambio brasileira segue de alta volatilidade no curto prazo, porém continuamos vislumbrando um maior número vetores para manutenção de um nível depreciado da moeda do que de vetores de apreciação", afirma a economista, em relatório.