Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía acentuadamente frente ao real nesta sexta-feira, depois que dados de inflação norte-americanos em linha com o esperado e um resultado fiscal acima das expectativas do governo central do Brasil impulsionaram o apetite por risco dos investidores.
Às 11:12 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 0,95%, a 4,9437 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,95%, a 4,9440 reais.
Dados de mais cedo mostraram que o núcleo do índice de preços norte-americano PCE, o favorito do Federal Reserve, subiu 0,3% em setembro, em linha com o esperado, depois de aumentar 0,1% no mês anterior. O núcleo do PCE aumentou 3,7% em uma base anual em setembro, menor ganho em mais de dois anos, após um aumento de 3,8% em agosto.
"Não teve tantas surpresas assim, então o comportamento (do dólar) pós-divulgação está em linha com o que já era a expectativa do mercado antes do dado", disse à Reuters Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Além disso, no Brasil, dados mostraram que o governo central registrou superávit primário de 11,548 bilhões de reais em setembro, superando o saldo positivo de 10,0 bilhões de reais projetado por analistas em pesquisa da Reuters e também ficando um pouco acima do superávit de 10,936 bilhões de reais registrado no mesmo mês do ano passado.
"O resultado fiscal de setembro era bem aguardado e, de certa forma, acabou sendo positivo, dá um horizonte um pouco mais positivo para as contas públicas, especialmente para o final do ano", que é um período que geralmente é mais desafiador para a arrecadação, de forma que tem levantado temores no mercado sobre o impacto no déficit primário, disse Pizzani. Ele reconheceu ainda "grande esforço da equipe econômica do governo para mudar a base fiscal do país" e aumentar a arrecadação.
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira o projeto de lei que trata da tributação de fundos exclusivos e offshore, enquanto o mercado aguarda a votação da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
"No entanto, ainda há muitas dúvidas sobre os instrumentos que o governo utilizará para levantar (recursos) estimados como necessários para cumprir a promessa de zerar o déficit em 2024", disse Diego Costa, chefe de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
Corroborando essa incerteza, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse nesta sexta-feira ao comentar os resultados do governo central que o país pode fechar 2023 com um déficit primário pior do que o previsto anteriormente após medidas aprovadas no Congresso e fatores econômicos aumentarem pressões sobre as contas.
Segundo Ceron, o cenário fiscal mais desafiador terá efeitos também sobre 2024, e o governo avalia a possível necessidade de adotar outras medidas para as contas públicas.
Em relação à guerra no Oriente Médio, que continua se arrastando em meio a esforços diplomáticos para impedir uma disseminação do conflito, Pizzani, da CM, disse que permanecem riscos relevantes. No entanto, passado um estresse inicial que pesou sobre o real, a moeda brasileira está conseguindo voltar a "patamar de normalidade", à medida que outras pautas voltam a dominar as atenções dos investidores.
Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a 4,9912 reais na venda, em baixa de 0,21%.