Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía frente ao real nesta segunda-feira, com investidores monitorando a cena política local após um primeiro turno eleitoral amplamente bem-vindo pelos mercados, embora receios internacionais de aperto monetário continuassem no radar e limitassem os ganhos da moeda brasileira.
Às 10:15 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,36%, a 5,1950 reais na venda, depois de mais cedo ter caído até 0,98%, a 5,1631 reais.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:15 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,10%, a 5,2195 reais.
A queda da moeda norte-americana nesta manhã era interpretada por alguns participantes do mercado como uma continuação da tendência recente de depreciação do dólar na esteira do primeiro turno das eleições locais. No acumulado da semana passada, a divisa dos EUA perdeu 3,34%, seu maior tombo semanal em mais de dois meses.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado no domingo retrasado, mas disputará um tenso segundo turno com o atual presidente Jair Bolsonaro (PT), que teve desempenho superior ao estimado pelas principais pesquisas de opinião. Investidores também se tranquilizaram após a formação de um Congresso significativamente alinhado a pautas conservadoras e liberais.
"Os resultados... foram percebidos como não necessariamente uma redução da probabilidade de uma vitória de Lula, mas potencialmente uma diminuição da probabilidade de uma mudança desestabilizadora em direção a uma política (fiscal) heterodoxa no Brasil", disse o Goldman Sachs (NYSE:GS) em relatório desta segunda-feira. Isso desencadeou, ainda que parcialmente, um "ciclo virtuoso" nos mercados locais de câmbio e juros, avaliou o banco.
"Alguns investidores macro podem ter estado esperando por uma redução na incerteza eleitoral antes de se engajarem mais ativamente com uma narrativa macroeconômica positiva no Brasil", disse o Goldman Sachs no documento, acrescentando que o real também tende a se beneficiar da perspectiva de manutenção dos juros locais em patamar elevado por um período prolongado.
FOCUS: Estimativas para inflação caem, enquanto PIB, dólar e Selic ficam estáveis
A taxa Selic está atualmente em 13,75%, após um ciclo intenso e antecipado de aperto monetário do Banco Central, que tirou os juros básicos de uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia.
O grande diferencial de custos de empréstimo entre o Brasil e outras economias torna o real atraente para estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo em país de juros baixos e aplicação desses recursos em praça mais rentável.
Apesar da baixa recente do dólar no mercado doméstico, investidores alertavam para a permanência de um cenário externo adverso.
"Lá fora, novamente alguma apreensão com o aperto monetário do Fed (banco central norte-americano), após dados do emprego por lá virtualmente permitirem uma escalada maior no juro", disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, fazendo referência a um relatório de sexta-feira passada que mostrou a abertura de mais vagas de trabalho do que o esperado nos Estados Unidos em setembro.
Ele também chamou a atenção para uma escalada nas tensões geopolíticas na esteira de novos ataques à capital ucraniana nesta segunda-feira, em aparente vingança depois que o presidente russo Vladimir Putin declarou que uma explosão em ponte para a Crimeia foi um ataque terrorista.
Um índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia 0,17% nesta manhã.
Bergallo chamou a atenção para uma semana atípica, com feriado nos Estados Unidos nesta segunda-feira mantendo o mercado de Treasuries fechado e, no Brasil, o Dia de Nossa Senhora Aparecida prestes a interromper as negociações locais na quarta-feira. "Isso sem dúvida terá algum impacto tanto na liquidez como na dinâmica do mercado."