Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista voltou a subir nesta terça-feira ante o real, na esteira do movimento de alta da moeda norte-americana no exterior, após a divulgação de dados fracos sobre a indústria dos EUA e a queda firme do petróleo e do minério de ferro.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre, bem acima do esperado, chegou a dar algum alento para o câmbio no início do dia, mas não o suficiente para o dólar se manter em baixa ante o real.
O dólar à vista fechou em alta de 0,48%, cotado a 5,6439 reais. No ano, a divisa acumula elevação de 16,33%.
Às 17h05, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,50%, a 5,6595 reais na venda.
Antes da abertura dos negócios o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB cresceu 1,4% de abril a junho deste ano, na comparação com o primeiro trimestre. O resultado ficou bem acima da expectativa conforme pesquisa da Reuters, de alta de 0,9%.
Foi o crescimento mais forte desde o quarto trimestre de 2020, período de recuperação da pandemia de Covid-19, quando o PIB avançou 3,7% na comparação trimestral.
Os números fortes do PIB fizeram as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo subir, em meio à leitura de que o Banco Central será de fato obrigado a elevar a taxa básica Selic este mês para segurar a inflação.
Como uma Selic mais alta em tese favorece o real, o dólar cedeu no Brasil no início do dia. Às 10h07, a moeda norte-americana à vista atingiu a cotação mínima de 5,5771 reais (-0,71%).
O movimento, no entanto, não se sustentou, com o dólar passando a subir ante o real na esteira do avanço da divisa dos EUA ante outras moedas de emergentes e exportadores de commodities no exterior.
“O PIB do Brasil veio forte, com tendência de aumento de juros aqui e possibilidade de corte de juros nos EUA. Isso fez preço no câmbio mais cedo”, comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Agora o dólar acompanha o mercado internacional, que vive um dia de fuga de ativos de risco em função de números piores da economia norte-americana”, acrescentou.
O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou pela manhã que seu Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial subiu para 47,2 em agosto, de 46,8 em julho. Apesar da alta, a leitura abaixo de 50 seguiu indicando contração no setor industrial, que responde por 10,3% da economia dos EUA.
As fortes baixas do petróleo e do minério de ferro no mercado internacional eram outro fator de pressão sobre as moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil.
Durante o dia o petróleo cedia perto de 5%, enquanto o contrato de janeiro de minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), da China, encerrou as negociações do dia com perda de 4,74%, a 703,5 iuanes (98,87 dólares) a tonelada, com a maior queda desde 31 de outubro de 2022.
Neste cenário, o dólar à vista marcou a máxima de 5,6539 reais (+0,65%) às 11h52.
“O dólar acompanha o ambiente global de aversão a risco, com o ISM fraco nos EUA, em conjunto com a queda das commodities”, resumiu Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
No fim da tarde, o dólar seguia em alta ante uma cesta de divisas fortes e ante boa parte das moedas de emergentes. Às 17h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,13%, a 101,790.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024. O BC não realizou nenhuma operação extra de swaps nesta sessão.