Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar firmava alta nesta sexta-feira, recuperando algum fôlego e indo acima de 5,20 reais depois de ter despencado mais de 6% nos últimos quatro pregões e revertido seus ganhos no acumulado do mês, em sessão que promete ser volátil devido à formação da Ptax do fim de julho.
Às 11:11 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,17%, 5,1903.
A moeda norte-americana trocou de sinal várias vezes durante a primeira hora de negociações, e especialistas alertavam para manutenção da instabilidade durante toda a manhã, devido à tradicional "briga" pela formação da Ptax --taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos.
No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.
As menores cotações do dólar nesta sexta-feira, por exemplo, refletiam a pressão de agentes vendidos na moeda, que apostam em sua queda, disse Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora. Mas houve "contragolpe" por parte dos comprados, afirmou o especialista, o que impulsionou a divisa norte-americana. "Dia de disputa da taxa Ptax é briga de cachorro grande."
O dólar fechou a última sessão em 5,162 reais, menor valor para um encerramento desde 21 de junho (5,1533 reais), e teve baixa de 6,10% em quatro pregões, maior desvalorização para esse período de tempo desde novembro de 2020.
CONFIRA: Monitor da Taxa de juros do Federal Reserve
Essa baixa expressiva levou o dólar a devolver completamente os ganhos que acumulava no mês. Nos níveis desta sexta-feira, a moeda norte-americana caminhava para registrar queda mensal de 0,6%, ficando mais de 5% abaixo do maior patamar para encerramento de julho, de 5,4976 reais, atingido no dia 22.
O real tem sido beneficiado por uma série de fatores nos últimos dias, com destaque para a alta no preço de commodities importantes em meio a esperanças de adoção de mais estímulo econômico na China e a perspectiva crescente de desaceleração no ritmo de aperto monetário do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos.
Dados mostrando que a economia dos EUA teve uma segunda contração trimestral consecutiva no período de abril a junho colaboraram para a visão de que o Fed será menos agressivo ao elevar seus juros, de forma a evitar que a economia caia numa recessão.
No entanto, uma leitura desta sexta-feira mostrou que a inflação norte-americana medida pelo índice de despesas de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) voltou a acelerar em junho, registrando o maior salto mensal desde setembro de 2005, o que pode voltar a levantar dúvidas sobre a trajetória futura do Fed. Num geral, quanto mais altos os custos dos empréstimos nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar.
"O ritmo das altas (de juros do Fed) pode até diminuir, mas não vemos como interromper o ciclo tão cedo", o que deve continuar pressionando o real no curto prazo e colaborar para a volatilidade no mercado de câmbio doméstico, disse a RB Investimentos em relatório.
O quadro instável deve ser corroborado pelo processo das eleições presidenciais brasileiras, disse a instituição financeira, ressaltando que o "o pós-eleição deve contribuir para uma valorização do real, com o eventual vencedor amenizando falas da campanha, indicando um compromisso fiscal no próximo mandato".
A RB tem como cenário base uma taxa de câmbio de 5 reais por dólar ao fim deste ano.