O dólar à vista experimentou um recuo mais firme na sessão desta terça-feira, 22, voltando a fechar abaixo de R$ 4,95 pela primeira vez desde o último dia 11. Segundo operadores, houve um movimento de realização de lucros e ajuste de posições no mercado futuro, embalado pelo avanço das commodities metálicas, como minério de ferro, e pelo recuo das taxas dos Treasuries de 10 e 30 anos, que na segunda-feira, 21, haviam atingindo o maior nível desde 2007. Apetite por ações locais muito descontadas, que levaram o Ibovespa a subir mais de 1%, e a perspectiva de votação final do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados ainda nesta terça contribuíram para a apreciação do real.
Em baixa desde a abertura do pregão e com mínima a R$ 4,9265 pela manhã, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,76%, cotado a R$ 4,9407. Com isso, a moeda passou a apresentar queda de 0,55% nas duas primeiras sessões desta semana, diminuindo a valorização em agosto, que chegou a se aproximar de 6%, para 4,47%.
A liquidez foi mais uma vez reduzida, o que sugere falta de apetite por apostas mais contundentes. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto movimentou menos de US$ 10 bilhões.
"O dólar já subiu bastante no mês e, com essa recuperação de parte das commodities, o mercado ficou mais propício para venda e realização. E também temos uma alta do Ibovespa, provavelmente com entrada de estrangeiro", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem "tecnicamente" o dólar tem espaço para voltar para o nível de R$ 4,85.
No exterior, o índice DXY avançava no fim da tarde, operando ao redor dos 103,500 pontos, graças aos ganhos do dólar em relação ao euro. Em relação aos principais pares do real, caía ante os pesos chileno e mexicano e o rand sul-africano, mas subia frente ao peso colombiano. Apesar da decepção na segunda-feira com o nível de corte de juros na China, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado em Dailan subiu mais de 4%.
À espera do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, 25, investidores digeriram nesta terça alerta do presidente do Fede de Richmond, Thomas Barkin, sobre a possibilidade de que "a inflação permaneça alta", uma vez que dados recentes sugerem "reaceleração" da economia americana além do previsto "há três ou quatro meses".
A leitura é a de que pode haver aperto adicional da política monetária. Enquanto as taxas dos Treasuries longos caíam, o retorno da T-note de 2 anos - mais ligado às apostas para o nível dos Fed Funds - subiu e voltou a superar 5%.
Por aqui, as atenções estão voltadas para a agenda econômica no Congresso. O projeto de lei do novo arcabouço fiscal entrou na pauta de votações da sessão desta terça da Câmara dos Deputados.
O relator do projeto, deputado Cláudio Cajado (PP-AL), afirmou que deve retirar do texto a emenda feita no Senado sobre as chamadas despesas condicionadas, que dependem de aval de parlamentares para serem executadas e cujo valor é estimado em R$ 32 bilhões no orçamento de 2024. Fora da versão final do arcabouço, as despesas condicionadas devem ser contempladas no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, as dúvidas sobre a capacidade de cumprimento das metas de resultado primário, calcadas no aumento da receita, dão certa rigidez ao dólar no mercado doméstico. "As resistências no Legislativo são significativas em relação às tentativas do governo de aumentar arrecadação com projetos de tributação de fundos offshore a aplicações no exterior. A aprovação do arcabouço nesta semana não garante o cumprimento das metas fiscais em 2023 e 2024", afirma Velho.