Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, tem uma tarefa difícil pela frente: convencer o eleitorado do país a votar nele para presidente em meio a uma crise econômica com inflação de 138% ao ano.
Com o objetivo de ganhar votos suficientes nas eleições de 22 de outubro para chegar ao segundo turno, o peronista liberal implementou nos últimos meses cortes de impostos e benefícios sociais em tentativa de reverter a insatisfação da população em relação à situação econômica.
Após ser o segundo candidato mais votado nas primárias de agosto passado, atrás do ultraliberal Javier Milei, a maioria das pesquisas de opinião mostra o atual ministro com boas chances de chegar ao segundo turno, em que suas chances de vitória, no entanto, seriam menores.
Caso chegue ao segundo turno, Massa - uma das autoridades mais liberais do partido governista - chegará a última etapa de uma jornada até a Presidência que começou em meados de 2022, quando assumiu o cargo de ministro da Economia em um momento em que as finanças da Argentina pareciam estar à beira do colapso.
"Assumi o cargo em uma situação superdelicada do ponto de vista político e econômico, e minha responsabilidade era e é estabilizar a economia", disse o candidato da aliança União pela Pátria.
Cerca de 40% de pobreza impulsionada pela inflação alta, uma grave escassez de dólares e uma dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) são alguns dos desafios enfrentados por Massa em um ano em que o país agroexportador sofreu a pior seca de sua história.
A situação econômica delicada permitiu que o advogado de 51 anos conseguisse algo impensável há apenas seis meses: a aliança deixou para trás as brigas internas entre o presidente Alberto Fernández e sua poderosa vice-presidente, Cristina Kirchner, para ter uma chance de vencer as eleições.
Além disso, alguns casos de corrupção aprofundaram o cansaço dos argentinos em relação à política e ao peronismo, tornando a tarefa de Massa ainda mais difícil e impulsionando candidatos anti-establishment, como Milei.
Em meio às dificuldades, os setores de esquerda criticam Massa por implementar cortes nos gastos sociais, enquanto os setores mais conservadores acreditam que ele não está fazendo o suficiente para reduzir o déficit fiscal.
Entretanto, a aparente unidade do poderoso peronismo lhe deu uma força inesperada após quatro anos de disputas internas.
"Com Massa, o poder é reconfigurado dentro da aliança. Massa tem sua própria estrutura política, o que torna possível organizar o espaço", disse à Reuters um porta-voz do partido governista.
O ministro de contatos fluidos com o mundo dos negócios prometeu que, se vencer as eleições, convocará líderes de diferentes partidos políticos para participar de um governo de "unidade nacional".
"Massa é o representante ideal do peronismo? Ele não é para um primeiro turno, mas talvez seja em um cenário de segundo turno. Massa é o menos peronista dos peronistas, e isso o coloca em tensão com o 'núcleo duro' desse eleitorado, mas é uma vantagem em um segundo turno", explicou o analista Julio Burdman, da empresa Observatorio Electoral.