BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central discute a possibilidade de fazer intervenções no câmbio em momentos de estresse no mercado, mas não atuou no período recente porque entendeu que não havia disfuncionalidade que justificasse esse tipo de ação, disse nesta terça-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
Em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Campos Neto afirmou que o BC tem grande volume de reservas cambiais e fará intervenção quando considerar necessário, ponderando que seria danoso fazer atuações desse tipo em momentos em que o mercado não tem disfuncionalidade, mas apenas um aumento de prêmio de risco no país.
"Nesses momentos de estresse nós discutimos fazer intervenção, o tempo todo nós discutimos. Em alguns dias a gente ficou olhando o que a gente poderia fazer de melhor, olhando outras variáveis, olhando se outras moedas estavam sofrendo muito, por que o Brasil estava sofrendo mais", disse.
"Não houve decisão de intervir no câmbio, foi uma decisão que nós tomamos olhando todas as outras variáveis e entendendo que naquele momento não tinha uma disfuncionalidade grande no câmbio em relação a outros mercados, o que tinha era uma percepção de piora de risco do Brasil."
O presidente do BC argumentou que intervenções no câmbio em momentos de piora da percepção de risco do país levam agentes de mercado a buscar outros instrumentos de proteção para seus negócios, pressionando os juros futuros.
"Se a taxa de juros longa sobe, compromete todo o financiamento, todos os projetos de infraestrutura, compromete coisas que já estão acontecendo", afirmou.
Na audiência, Campos Neto enfatizou que o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, que é responsável pelas reservas cambiais, foi indicado pelo atual governo. Ele também argumentou que as decisões sobre intervenções cambiais são tomadas após debate entre todos os membros da diretoria.
O presidente do BC afirmou que o real teve uma depreciação mais acelerada no período recente, sendo observado, em certo momento, um descolamento do desempenho do câmbio brasileiro de outros países, indicando que o movimento da moeda foi influenciado por elementos domésticos específicos.
A moeda norte-americana operava no início da tarde desta terça-feira a 5,48 reais, em relativa estabilidade no dia, mas acumulando uma valorização de aproximadamente 13% no ano.
Na segunda-feira, Galípolo disse em evento em São Paulo que não via um problema de liquidez no mercado de câmbio à vista brasileiro e que a instituição também avaliou que não seria correto fazer uma atuação extraordinária no mercado de derivativos nos momentos de pico do dólar.
(Por Bernardo Caram)