Impacto incerto das tarifas gera aversão a risco no Brasil, dizem analistas

Publicado 10.07.2025, 12:51
Atualizado 10.07.2025, 12:55
© Reuters. Moedas de realn15/10/2010nREUTERS/Bruno Domingos

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que imporá uma tarifa de 50% sobre os produtos do Brasil surpreendeu investidores, o que já se reflete na aversão aos ativos do país, e a expectativa é de mais sessões voláteis à frente, em meio às incertezas em torno dos efeitos potenciais da iniciativa na economia, disseram analistas nesta quinta-feira.

"Embora o anúncio de uma tarifa fosse, sem dúvida, esperado até certo ponto, acreditamos que a alta taxa anunciada sobre produtos brasileiros pegou os mercados de surpresa", disseram analistas do banco UBS em relatório.

"Em relação ao câmbio, esperamos que a volatilidade permaneça alta no curto prazo, visto que a situação provavelmente permanecerá fluida", completaram.

Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, Trump anunciou uma taxa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, vinculando a medida ao tratamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem recebido do sistema judicial brasileiro, entre outros assuntos.

O documento ainda acrescentou que o presidente norte-americano instruiu o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, a iniciar uma investigação sobre o que ele chamou de práticas comerciais injustas do Brasil.

Em resposta a Trump, Lula afirmou que qualquer medida unilateral de elevação de tarifas será respondida com reciprocidade, destacando que o Brasil é um "país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém".

A reação inicial dos mercados era de aversão a ativos brasileiros, em meio a questionamentos sobre os impactos que a tarifa elevada pode ter na economia brasileira, particularmente nos setores que exportam para o mercado norte-americano. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China.

Às 12h40, o dólar à vista subia 0,79%, a R$5,5469 na venda, depois de atingir R$5,6212 mais cedo.

Já o Ibovespa recuava 0,64​%, a 136.603,51 pontos, tendo anteriormente alcançado 136.014,47 pontos.

"É uma situação complexa e de difícil resolução por conta desse componente político e que aumenta a imprevisibilidade, aumenta a percepção de riscos para investimentos no Brasil e vai prejudicar os nossos ativos", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Um ponto importante a ser observado nos próximos dias é se haverá medidas retaliatórias por parte do governo brasileiro, disseram analistas, pontuando que isso poderia provocar uma escalada nas tensões, tornando o cenário econômico ainda mais incerto e volátil.

"A retaliação geraria um impacto negativo ainda maior na atividade econômica brasileira", disse Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs (NYSE:GS). "Não está claro como o Brasil retaliaria. A inclinação política pode ser nesse sentido, mas prevemos que os exportadores locais pressionarão o governo a reduzir a tensão."

Por outro lado, há dúvidas sobre o espaço que haveria para negociações entre Brasil e EUA, uma vez que as razões dadas por Trump para a implementação da tarifa são majoritariamente políticas, e não comerciais como em ameaças tarifárias a outros países.

"A ameaça do presidente Trump de impor uma tarifa de 50% sobre as importações do Brasil tem menos a ver com disputas comerciais e mais com desacordos políticos, e por isso é mais difícil ver uma saída para o Brasil", disse William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics.

Para Jackson, a recente queda de popularidade do governo e a aproximação da eleição presidencial de 2026 fornecem motivos para que o Brasil se recuse a "ceder terreno" para os EUA.

Nesse contexto, há a preocupação de que, caso a tarifa afete de forma significativa a economia brasileira, o governo possa responder com um afrouxamento da política fiscal, impulsionando medidas expansionistas e abrindo mão da tentativa de cumprir suas metas de resultado primário.

"Talvez o maior risco para os mercados brasileiros surja se o governo buscar afrouxar a política fiscal para compensar o impacto das tarifas no PIB", disse Jackson.

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