Por Jake Spring
ITAPUÃ DO OESTE, Rondônia (Reuters) - Milton da Costa Junior dirige sua picape por um trecho remoto da Amazônia para verificar seus "bebês". A organização sem fins lucrativos para a qual ele trabalha, a Rioterra, plantou milhões de árvores jovens na floresta como parte de um esforço para reflorestar áreas dizimadas pela extração ilegal de madeira e a pecuária na região.
Enquanto o Toyota avança em direção a uma ponte de madeira em ruínas no caminho de volta para a cidade de Machadinho d'Oeste, no Estado de Rondônia, dois homens mascarados em motos passam por ele e bloqueiam seu caminho. Um dos homens saca um revólver e da um recado: pare de plantar árvores.
Autoridades locais disseram que o incidente de setembro de 2021, o qual Costa descreveu em um boletim de ocorrência policial visto pela Reuters, está sendo investigado. Nenhum suspeito foi identificado.
Ameaças são apenas um dos desafios enfrentados pela Rioterra e outros grupos ambientalistas ao redor do mundo que buscam uma solução aparentemente simples para a crise climática: replantar florestas desmatadas. Esses projetos, sugere a ciência, podem ajudar a retardar o aquecimento global ao reter o dióxido de carbono nas árvores vivas. Os esforços também podem restaurar os habitats da vida selvagem e ajudar a proteger as espécies ameaçadas. Na Amazônia, também protegeria a umidade atmosférica que sai da floresta e leva as chuvas para campos e reservatórios distantes.
Mas, no Brasil, muitos agricultores que desmatam a floresta para buscar o seu sustento temem que grupos ambientalistas queiram expulsá-los. Grupos de plantação de árvores, por sua vez, lutam para cultivar algumas árvores nativas em grande escala. Inundações sazonais, incêndios -- inclusive incêndios criminosos -- são preocupações permanentes.
E é preciso dinheiro. Os ecologistas buscam proteger a Amazônia de um chamado ponto de inflexão -- quando tantas árvores são derrubadas que o ecossistema não pode mais se sustentar como floresta tropical e seca em uma savana. Para isso, a restauração florestal precisa ocorrer em uma área de floresta com o dobro do tamanho da Alemanha, segundo Carlos Nobre, um dos mais proeminentes cientistas climáticos do Brasil. O preço: mais de 20 bilhões de dólares, estima.
Os esforços de replantio no Brasil até agora são operações modestas, embora em rápido crescimento, lideradas principalmente por organizações sem fins lucrativos. Das dezenas de iniciativas de reflorestamento no país, Rioterra e The Black Jaguar Foundation, uma organização brasileira e europeia sem fins lucrativos, estão entre as maiores. A Rioterra reflorestou terras amazônicas quase do tamanho de Manhattan na última década e planeja mais que dobrar isso até 2030, disse Alexis Bastos, que gerencia os esforços de reflorestamento da organização e foi um de seus fundadores. A Rioterra gasta cerca de 12 milhões de reais anualmente em reflorestamento, afirmou.
A Black Jaguar é ainda mais ambiciosa: espera gastar pelo menos 3,7 bilhões de dólares nos próximos 20 anos restaurando uma área florestal do tamanho do Líbano. Por meio de doadores corporativos e privados, levantou apenas 0,2% dessa quantia até agora e plantou apenas 0,03% de sua meta.
Enquanto isso, a destruição da Amazônia continua em um ritmo furioso. Dados do governo mostram que cerca de três campos de futebol de floresta virgem foram desmatados a cada minuto em 2022. Invasores ilegais destroem em horas o que a Rioterra ou a The Black Jaguar levam um ano para plantar.
Ainda assim, os cientistas dizem que se o reflorestamento é possível em algum lugar, é no Brasil. O país tem grandes quantidades de terras anteriormente florestadas prontas para restauração. Muito disso poderia acontecer naturalmente se a selva intacta adjacente pudesse simplesmente recuperar as áreas devastadas. As leis do Brasil determinam um nível de conservação florestal não visto na maioria dos países.
“O reflorestamento é realmente essencial para salvar o planeta”, diz Carlos Nobre. “Nós poderíamos fazer isso. Vamos fazer isso? Essa ainda é uma pergunta que não podemos responder.”
CONSERVACIONISTA ACIDENTAL
No Brasil, as pessoas brigam há séculos sobre o destino da floresta, uma luta que colocou os indígenas da floresta em oposição aos colonos europeus e seus descendentes que buscam explorar suas riquezas.
Durante a maior parte dessa história, o desenvolvimento venceu. O desmatamento explodiu na década de 1970, quando a ditadura militar da época encorajou as pessoas a se estabelecerem no vasto território.
Entre os imigrantes estava Bastos, um dos fundadores da Rioterra, que chegou a Rondônia ainda criança em 1982. Sua família esperava lucrar com a promessa do governo de terras agrícolas gratuitas. Em vez disso, afirmou Bastos, seu pai abriu uma empresa de móveis na cidade de Porto Velho, atendendo aos colonos que chegavam em massa.
Ao crescer, disse Bastos, ele era bastante indiferente ao som de motosserras e à névoa de fumaça dos fazendeiros queimando árvores para pastagem. Aos 20 anos, descobriu a paixão pelo mergulho nas águas amazônicas. Em meio a peixes-elétricos e enormes pirarucus, ele ficou chocado ao ver que o Rio Preto havia se tornado um ferro-velho subaquático de geladeiras descartadas, peças de carros e latas de cerveja.
Ele e seus companheiros de mergulho organizaram limpezas e eventos para aumentar a conscientização sobre o impacto humano na Amazônia. Em 1999, Bastos e seis amigos, a maioria mergulhadores, fundaram o Centro Rioterra de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia como um veículo para garantir financiamento para seus esforços voluntários.
Sua grande chance veio em 2008, quando a Petrobras (BVMF:PETR4) concedeu à Rioterra um patrocínio de 3,5 milhões de reais para fazer algum reflorestamento em Rondônia.
O grupo não sabia nada sobre silvicultura. A curva de aprendizado foi íngreme, lembrou Bastos, hoje com 49 anos. “As pessoas vêm para a Amazônia cortar árvore, não plantar árvore”, disse.
Plantar uma árvore com sucesso requer desvendar os segredos do ciclo de vida daquela espécie. Para a Rioterra, o processo começa na Floresta Nacional do Jamari, próxima ao pequeno município de Itapuã do Oeste, no norte de Rondônia. Nos mapas de satélite, Jamari se destaca como uma ilha de aproximadamente 2.200 quilômetros quadrados de floresta antiga em um mar de desmatamento. Praticamente intocada por milênios, possui uma diversidade enorme de animais e plantas.
Dejesus Aparecido Ramos, ex-trabalhador da Rioterra, disse que avistou porcos do mato, antas e onças durante suas viagens por lá. Mas o verdadeiro alvo da organização sem fins lucrativos são cerca de 900 das chamadas árvores-mãe espalhadas dentro e ao redor da floresta. Com a permissão do ICMBio, autoridade federal de parques do Brasil, os funcionários do Rioterra colhem sementes dessas árvores-mãe e as transportam para o viveiro da organização em Itapuã do Oeste, onde são cultivadas em mudas que podem ser plantadas.
A Rioterra se preocupa especialmente em cultivar árvores ameaçadas, entre elas o cedro rosa, a cerejeira amazônica e a muiracatiara, cuja bela madeira marrom-alaranjada é cobiçada para pisos de design. Poucas dessas árvores raras já foram cultivadas fora da selva.
“As pessoas acham que é só plantar, e não é só plantar. Tem muita técnica por trás disso”, disse Bastos.
Até o momento, a Rioterra plantou cerca de 7 milhões de árvores em mais de 57 quilômetros quadrados de terra. A organização planta árvores em reservas naturais protegidas pelo Estado, bem como em terras privadas pertencentes principalmente a pequenos agricultores.
O Brasil reduziu o financiamento de reflorestamento nos primeiros anos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Seu governo também congelou o Fundo Amazônia, um instrumento criado pelo governo que desde 2008 gastou 300 milhões de reais -- a maior parte fornecida pelos governos da Noruega e da Alemanha -- reflorestando 317 quilômetros quadrados de floresta tropical.
Um advogado que representa Bolsonaro não respondeu a um pedido de comentário.
Seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reabriu o Fundo Amazônia logo após tomar posse. O Ministério do Meio Ambiente, em resposta a perguntas, disse que o governo pretende expandir os incentivos econômicos e a assistência técnica para reflorestamento e aumentar o mercado de produção de sementes e mudas.
HOLANDÊS DA BLACK JAGUAR
A história de origem da Black Jaguar começa no Oriente Médio, onde o empresário holandês Ben Valks disse que ganhava bem vendendo sistemas de filtragem de água com sua empresa sediada nos Emirados Árabes Unidos. Ele contou que vendeu sua empresa em 2004 e decidiu viajar pelo mundo.
Em 2007, ele visitou o Estado do Pará com a ideia de fazer um documentário sobre a onça-preta, uma rara mutação da variedade pintada que foi atingida pela perda de habitat e caça furtiva. Um rastreador de onça conduziu Valks pela floresta desmatada, onde os únicos animais que ele viu foram vacas pastando. Valks ficou preocupado e questionou: “Começo a pensar, qual é o meu propósito?”
Valks conversou com o biólogo brasileiro Leandro Silveira, especialista em onças que revelou seu sonho de criar um corredor de vida selvagem de 2.600 quilômetros ao longo do rio Araguaia. Lá, os grandes felinos poderiam vagar livremente para encontrar comida e parceiros, disse Silveira.
Valks viu potencial nisso. Ele fundou a The Black Jaguar Foundation em 2011 e começou a construir uma organização.
Agora com 52 anos e chefe em tempo integral da fundação, Valks levantou mais de 6 milhões de euros, principalmente de patrocinadores corporativos, de acordo com Valks e relatórios anuais da fundação. Eles incluem a Movida (BVMF:MOVI3), empresa de aluguel de carros de capital aberto, e a Caixa Econômica Federal.
Isso é uma fatia de sua meta de 3,7 bilhões de dólares. Mas foi o suficiente para contratar 122 funcionários em tempo integral que plantaram ou regeneraram 326 hectares de floresta com espécies de árvores nativas. O objetivo de longo prazo de Valks é adicionar 1,7 bilhão de árvores ao longo do rio Araguaia.
“Eu quero ser bilionário. Não do dinheiro, mas de árvores”, disse Valks a um grupo de funcionários em um treinamento de 2021 realizado no Pará.
CONHEÇA OS VIZINHOS
Se cultivar árvores silvestres é um negócio complicado, lidar com os humanos na Amazônia é ainda mais complexo.
Em todo o mundo, a violência e as ameaças são comuns para os ambientalistas que trabalham para preservar a vida selvagem e o habitat. Mais de 200 são mortos anualmente, de acordo com o grupo de vigilância Global Witness. O Brasil ficou em 3º lugar em sua lista em 2021, com 26 mortos.
A Rioterra suspendeu o plantio de árvores na reserva florestal protegida pelo Estado onde Milton da Costa foi ameaçado. A extração ilegal de madeira e a pecuária têm proliferado lá.
A Black Jaguar também busca evitar problemas. Os agricultores hostis aos seus esforços não são pressionados a participar.
Alguns produtores ficam desconfiados, mas estão dispostos a ouvir, disseram as organizações sem fins lucrativos. O motivo: a legislação ambiental brasileira.
O Código Florestal, que dita quanta área florestal pode ser legalmente desmatada, estava de alguma forma registrado desde a década de 1930, mas era amplamente ignorado em áreas remotas da Amazônia.
Uma revisão de 1996 intensificou a proteção da Amazônia ao exigir que pelo menos 80% da maioria das propriedades da região fossem preservadas. Outras mudanças em 2012 dispensaram multas e a proibição da produção agrícola contra agricultores que destruíram florestas ilegalmente se concordassem em adequar suas propriedades ao reflorestamento ou compra de terras virgens para conservação.
Alguns ambientalistas ficaram furiosos com a anistia, que continua em vigor. A destruição ilegal segue generalizada, principalmente em terras públicas.
Ainda assim, a maioria das grandes fazendas comerciais têm respondido aos incentivos para se tornar limpa. Os bancos não estão autorizados a conceder empréstimos a agricultores que violem o Código Florestal, de acordo com o Banco Central. Da mesma forma, grandes comerciantes de soja em 2006 se juntaram ao governo e à sociedade civil em um pacto chamado Moratória da Soja na Amazônia, que proíbe as empresas de commodities de comprar de fazendas com desmatamento recente.
O Código exige que os agricultores brasileiros restaurem coletivamente entre 56.700 quilômetros quadrados e 181.700 quilômetros quadrados de floresta, uma área quase tão grande quanto a Síria, de acordo com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Essa exigência legal ajudará muito o Brasil a cumprir seu compromisso de reflorestar 120.000 quilômetros quadrados até 2030 sob sua meta climática do Acordo de Paris.
“O Brasil está milhões de quilômetros à frente da grande maioria dos outros países” em termos de estrutura de reflorestamento, disse Cristina Banks-Leite, ecologista tropical do Imperial College de Londres.
Mesmo assim, Valks e a Black Jaguar enfrentam uma tarefa difícil: o corredor ecológico que ele sonha em construir contém terras pertencentes a mais de 13.000 proprietários privados que precisam ser convencidos.
Ele começou em Santana do Araguaia, uma cidade de cerca de 45.000 habitantes no sul do Pará, de onde já havia saído em busca da onça-preta e viu uma floresta tropical devastada.
Seu primeiro negócio lá foi com Marcos Mariani, um raro agricultor que fala abertamente sobre questões ambientais. Quando não estava cultivando soja e gado na operação de 577 quilômetros quadrados de sua família em Santana do Araguaia, Mariani fez campanha contra a pavimentação de estradas adicionais na Amazônia que abririam novas áreas para o desmatamento.
Mariani disse que ficou intrigado com a proposta de Valks. “Eu achei ótima a ideia dele e falei que tudo o que for com respeito à conservação, nós temos interesse de apoiar”, afirmou o agricultor.
Os dois assinaram um contrato. A Black Jaguar comprometeu-se a construir um viveiro de árvores na propriedade de Mariani, fornecer todo o know-how técnico e monitorar a área por décadas para garantir que ela renasça. A organização sem fins lucrativos finalmente plantou mudas em 170 hectares ao longo de pequenos riachos na propriedade.
Rapidamente se espalhou a notícia de que algum projeto de árvore havia chegado à cidade, segundo Tânia Irres, que trabalha na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santana do Araguaia. Ela disse que alguns moradores locais opinaram que uma ONG fundada por um estrangeiro destruiria seus meios de subsistência. Outros imaginaram que, se forasteiros estavam presenteando com mudas e mão-de-obra, por que não aproveitar?
“É uma cidade pequena, todos se conhecem”, disse Tânia Irres.
Ela ajudou a conectar a Black Jaguar com mais alguns fazendeiros, incluindo Clovis e Regina Molke, produtores de soja e pecuaristas que buscam se adequar às leis ambientais. Apoiador de Bolsonaro, o casal inicialmente ficou cético em relação a esses ambientalistas, mas as árvores gratuitas eram tentadoras demais para deixar passar.
A Black Jaguar disse que plantou 54.000 mudas na propriedade de Molke entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, depois replantou algumas em 2022 que foram perdidas em uma enchente. Os sombreiros de rápido crescimento já atingem 3,5 metros de altura.
"Quem sabe daqui três anos vejo tudo fechado com grandes árvores vistosas e bonitas”, disse Clovis, cuja família é proprietária de terras agrícolas em vários Estados brasileiros.
Essas vitórias iniciais levaram a acordos com outros agricultores. Ao todo, a Black Jaguar assinou contratos com 26 fazendas e plantou 326 hectares até o momento. A organização sem fins lucrativos pretende que a próxima temporada de plantio, que termina em abril de 2024, seja a maior até agora, com 500 hectares adicionais restaurados.
REGENERAÇÃO
Salvar a Amazônia significa cultivar bilhões de árvores em uma área maior do que muitos países. Salvar o planeta significa fazê-lo várias vezes.
Reduzir o uso de combustíveis fósseis é fundamental para desacelerar o aquecimento global. Mas os cientistas dizem que remover o dióxido de carbono já no ar também é essencial para evitar as piores consequências das mudanças climáticas. E eles concordam amplamente que as árvores são a maneira mais barata e simples de sequestrar carbono.
Limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius -- uma meta estabelecida no Acordo de Paris -- pode exigir até 9,5 milhões de quilômetros quadrados de floresta adicional para ajudar a atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050, de acordo com o principal painel de ciências climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Isso é mais ou menos do tamanho dos Estados Unidos.
O Brasil e os países amazônicos vizinhos podem ser decisivos nesses esforços. Cerca de 18% da Amazônia já foi destruída. Se esse número chegar de 20% a 25% e as mudanças climáticas continuarem piorando, o climatologista Nobre teoriza que a floresta úmida vai secar e virar uma savana degradada, lançando uma bomba de carbono na atmosfera. Esse limiar pode ser alcançado em duas a três décadas no atual ritmo de destruição.
Nobre estima que, além de interromper o desmatamento, cerca de 700 mil quilômetros quadrados no sul da Amazônia precisariam ser restaurados para evitar que uma espiral de morte seja desencadeada. Mais da metade dessa área se regeneraria naturalmente se deixada sozinha para a selva próxima recuperá-la, de acordo com seus cálculos aproximados.
Rioterra e Black Jaguar usam essa abordagem quando possível. Na propriedade dos Molke, por exemplo, além dos 30 hectares plantados ativamente pela Black Jaguar, outros 140 hectares foram deixados para regeneração passiva. Black Jaguar ajuda a natureza cercando essas áreas para manter o gado fora e removendo gramíneas invasoras que podem sufocar o crescimento das árvores. Após alguns anos, animais selvagens e o vento carregarão sementes da floresta vizinha que crescerão sem ajuda.
DOAÇÕES
Em agosto de 2019, os incêndios aumentaram na floresta amazônica. O mundo reagiu com horror quando imagens de chamas crescentes dominaram os noticiários.
Bastos, da Rioterra, disse que doadores particulares começaram a abrir seus talões de cheques.
A empresa francesa Reforest'Action, que combina financiadores com projetos de plantio de árvores, investiu 270.000 euros (290,000 dólares) para patrocinar quase um quilômetro quadrado do novo plantio da Rioterra em Rondônia. Mais tarde, duas organizações sem fins lucrativos europeias também participaram. A Aquaverde, com sede em Genebra, doou o equivalente a 347.000 dólares para a Rioterra. A Tree-Nation, da Bélgica, adicionou 97.000 dólares para reflorestar a reserva protegida de Rio Preto-Jacundá.
A Black Jaguar também recorreu a doadores corporativos.
A empresa brasileira de aluguel de carros Movida assinou em 2020 um acordo com a Black Jaguar para financiar o plantio de 1 milhão de árvores, disse o então presidente-executivo Renato Franklin à Reuters. O programa é financiado em parte pelos clientes da Movida, que têm a opção de pagar 1,99 real por dia em seus contratos de aluguel para compensar suas emissões de carbono.
Até o final de 2022, a Black Jaguar plantou cerca de 250.000 árvores como parte dessa parceria, que a Movida está considerando expandir após o plantio do primeiro milhão de árvores.
“Ben fala em até 1 bilhão de árvores. Temos que pensar grande, pensar à frente”, afirmou Franklin.
A Rioterra também está explorando o mercado dos chamados créditos de carbono, que as empresas podem comprar para compensar suas emissões de gases de efeito estufa. A organização sem fins lucrativos lançou no ano passado um projeto para trabalhar com cerca de 600 pequenos agricultores no Brasil para replantar cerca de 20 quilômetros quadrados com árvores. A Reforest'Action trata da embalagem e venda dos créditos. A fabricante francesa de cosméticos L'Oreal (EPA:OREP) confirmou que é a maior investidora, com mais de 5 milhões de dólares no empreendimento. O Amazon (NASDAQ:AMZN) Biodiversity Fund também investiu no projeto.
Bastos vê os créditos de carbono como o caminho para levantar a vasta soma de dinheiro que cientistas como Nobre dizem ser necessária.
Ainda não se sabe se esses e outros programas de plantio de árvores podem salvar a Amazônia. A resistência em alguns lugares continua feroz.
Em setembro passado, Milton da Costa Junior recebeu uma ligação dizendo que o site de monitoramento de incêndios do governo brasileiro mostrava possíveis incêndios nos projetos de replantio da Rioterra na reserva Rio Preto-Jacundá, onde ele havia sido ameaçado com uma arma de fogo um ano antes.
O plantio adicional estava suspenso ali desde aquele encontro. Milton da Costa voltou ao local, onde as árvores jovens cresciam há mais de um ano. Com um drone bem acima do terreno, ele viu danos impressionantes: 189 hectares agora eram um terreno baldio carbonizado. Os incêndios florestais não ocorrem naturalmente na Amazônia, dizem os cientistas. Uma pessoa deve ter provocado a chama, suspeita Costa.
Enquanto estava ao lado de sua caminhonete usando o drone, pelo menos dois homens escondidos na selva ao longo da estrada gritaram com ele.
“A gente já não falou para você não voltar aqui? Você quer pagar pra ver?”, gritou um dos homens. "Vai assim e a gente vai te eliminar."
Milton da Costa ficou calado. “Esta vez eu fiquei com muito medo”, disse, ao relatar o evento. “Minha filha estava com 20 dias de nascida”. Ele pegou o drone, gritou que estava desarmado, entrou no veículo e foi embora.
Desde então, ele voltou várias vezes para monitorar a rebrota nas áreas que escaparam das chamas, mas sempre com escolta policial. Policiais locais disseram à Reuters que as ameaças contra Costa estão sob investigação, assim como o incêndio. As suspeitas recaem sobre grileiros ilegais não identificados.
Enquanto o plantio na reserva continua suspenso, a Rioterra avança em áreas mais seguras. A próxima missão é recuperar uma área de 3 quilômetros quadrados perto de uma hidrelétrica de Rondônia.
Apesar das ameaças, Costa não quer recuar. Ele diz que as apostas são muito altas.
“Do jeito que está indo, se não tiver alguém com a nossa consciência, um dia não vai ter mais rio, não vai ter mais mato, não vai ter o quê passar para os nossos filhos e netos”, afirmou ele.