Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - Em sua primeira viagem internacional depois de tomar posse como Ministro da Fazenda, Fernando Haddad chegou nesta segunda-feira a Davos, na Suíça, apostando em uma edição do Fórum Econômico Mundial com o Brasil no centro das atenções por conta do retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência e dos atos golpistas na capital do país.
De acordo com duas fontes do ministério, o número de pedidos de agenda com Haddad em Davos aumentou após o episódio de depredação em Brasília por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro no dia 8 de janeiro.
"Não apenas tem um entusiasmo com a eleição de lula, como também uma solidariedade após o episódio em Brasília", disse uma das fontes.
Em apresentações públicas, reuniões bilaterais e encontros com empresários até quarta-feira, o ministro pretende apresentar seu "plano de voo" para a economia e falar sobre as reformas tributária e fiscal, mas sem entrar em detalhes em relação ao que já falou no Brasil, segundo o relato.
A ideia, segundo essa fonte, é mostrar que o país segue focado na pauta econômica e na construção de um ambiente que o faça ter protagonismo internacional, após uma agenda de relações exteriores considerada hostil na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista a jornalistas ao chegar na Suíça, Haddad afirmou que sua participação no fórum será focada em transmitir mensagens de compromisso fiscal, sustentabilidade e defesa da democracia.
Ele disse que defenderá a pauta do novo governo, que prevê “retomada do crescimento com sustentabilidade fiscal e ambiental e justiça social”.
Depois dos atos de teor golpista em Brasília na última semana, ele também afirmou que pretende dar o recado político de que o Brasil reforça o compromisso de combater todo tipo de extremismo.
O ministro disse que a resposta institucional aos atos foi rápida, ressaltando que pesquisas mostraram que os brasileiros se posicionam contra o vandalismo na capital.
"É uma manifestação clara de que o Brasil tem compromisso com o resultado eleitoral, com as regras democráticas, a liberdade, as liberdades individuais, respeitadas as garantias constitucionais", disse.
Haddad, que participará do evento em dobradinha com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o Brasil precisa apostar na reindustrialização com base na sustentabilidade.
A pauta ambiental é considerada ponto crucial da agenda brasileira, com o governo buscando uma virada de imagem no exterior após uma série de atritos da gestão Bolsonaro com a comunidade internacional nessa área.
O ministro estará ao lado de Marina em um painel do fórum, na terça-feira, focado nos desafios do novo governo brasileiro. Na quarta, ele é um dos convidados de outro painel, dessa vez dividindo o palco com autoridades de países da América Latina.
Ainda nesta segunda, Haddad tem encontros com o chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Achim Steiner, e com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Godfajn.
O restante da agenda de reuniões bilaterais e eventos auxiliares ao fórum ainda não foi divulgado pelo ministério.
Lula não irá a Davos neste ano, deixando seus ministros como porta-vozes do governo brasileiro no evento. O presidente decidiu focar em agendas na América Latina, com viagens à Argentina e ao Uruguai na próxima semana.