Risco fiscal, queda da Selic: o que vai determinar o spread no mercado de crédito

Publicado 29.05.2025, 06:55
© Reuters.

Investing.com – O quadro de incerteza é um cenário no qual gestores e investidores têm dificuldades em antecipar tendências para fazer as alocações eficientes para a otimização da rentabilidade futura da carteira. Hoje, os assuntos predominantes que impactam a tomada de decisão de investimento, tanto no Brasil como no mundo, acabam reforçando o posicionamento de caixa.

No exterior, a guerra comercial capitaneada pelos EUA pode trazer efeitos negativos na atividade econômica e na inflação americana que pode levar, no segundo semestre, a uma “escolha de Sofia” pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de manter a taxa de juros em um patamar de restrição financeira, com o objetivo de combater a inflação em alta, ou realizar cortes para estimular a economia.

No Brasil, o risco fiscal com a manutenção de trajetória de alta do endividamento público e a ameaça de aprofundamento dessa tendência com a possibilidade de aumento de gastos públicos, para financiar programas que visam fortalecer a candidatura à reeleição do atual governo, sempre deixa o “freio de mão puxado” na tomada de decisão.

Por outro lado, a perspectiva da possibilidade de uma troca para um governo com maior responsabilidade fiscal nas eleições presidenciais do ano que vem é um fator positivo, junto com a expectativa do início do corte da taxa Selic entre o fim deste ano e o começo do próximo. Além disso, se o Fed adotar uma política monetária flexível, as condições financeiras globais serão favorecidas em prol do risco. Há também neste contexto, para deixar o quadro mais incerto, a heterogeneidade dos impactos da guerra comercial, com o Brasil sendo um dos favorecidos – ou menos impactados negativamente, a depender da visão do estrategista -, especialmente o agronegócio.

Para entender como este cenário impacta no mercado de crédito privado, o Investing.com entrevistou o diretor comercial da WIT Asset, Gustavo Reolon, para avaliar como tomar decisões de investimento com rentabilidade mínima a 100% do CDI neste período de incerteza.

Reolon tem conhecimento de causa: dois fundos da WIT Asset recentemente receberam notas 4 e 5 da Morningstar. As notas foram recebidas na primeira avaliação dos dois fundos da gestora pela empresa global de pesquisa de investimentos.

O Oasis FIC FIM CP recebeu a classificação máxima de 5 estrelas, ficando entre os 10% melhores fundos de investimento do mundo. Enquanto o WIT Genesis FIC FIM CP foi avaliado com 4 estrelas.

Confira abaixo a entrevista de Reolon para o Investing.com a respeito dos dois fundos da WIT Asset bem avaliados e da atual conjuntura econômico-financeira.

Investing.com: Quais são as características principais dos dois fundos que receberam as notas 4 e 5 da Morningstar?

Gustavo Reolon: O Genesis é o fundo de maior liquidez na WIT Asset, com resgate D+2 e compra cotas de outros fundos, majoritariamente crédito privado. Na carteira hoje, tem algumas gestoras de crédito privado. Este fundo recebeu quatro estrelas da Morningstar. Como é um fundo para investidor geral, o Genesis tem 20% em FDICs, que é o limite de investimento em fundos qualificados.

O Oasis é um fundo que recebeu cinco estrelas da Morningstar, o que o coloca entre os 10% dos melhores fundos em termos de rating. É o principal fundo da WIT Asset, com quase R$ 200 milhões de patrimônio. Ele começou no dia 3 de dezembro de 2021. É um fundo que compra majoritariamente cotas de FDICs.

É um fundo que praticamente não tem volatilidade, porque aloca os recursos somente em cotas sênior e mezaninos de FDICs. O fundo está alocado hoje em aproximadamente 75% de cota sênior e acima de 20% de cota mezanino, com 3% em caixa. O resgate é D+72.

Inv.com: Como é feita a seleção do ponto de vista de cenário macroeconômico desafiador com a taxa Selic elevada desde 2021?

GR: Estamos bem atentos com o aumento da taxa de Selic e, principalmente, com os spreads de crédito. No fundo Gênesis, o aumento e a diminuição da exposição ao crédito privado são de acordo de como está a curva de spread. Hoje, a curva de spread está bem fechada, com a probabilidade muito maior de a curva abrir, de estressar, do que de fechar.

A abertura da curva de spread é ruim para os investimentos. A exposição hoje está, por isso, menor, elevando o caixa do fundo para em torno de 25%, 30%.

E o que fazemos para mitigar esse risco? Alocamos em ativos bancários, CDBs, Letras Financeiras (LFs). Esses ativos tendem a ter uma menor volatilidade no período de stress de mercado.

Além disso, procuramos observar quais são os prazos dos ativos dentro dos fundos investidos. A WIT Asset tem, mensalmente, um comitê de investimento, no qual analisamos os ativos e os fundos que estamos investindo, se vale a pena permanecer, diminuir a exposição ou tirar o produto dos nossos fundos. Quanto maior o prazo, conforme a abertura da taxa do spread, maior o prejuízo do ativo no fundo.

Alocamos hoje em fundos que estão com o prazo baixo, de 1,5 a 2 anos de média, e que não estejam muito expostos a debêntures de varejo ou mercados que sofrem mais com a taxa Selic alta.

Com relação aos FDICs, observamos sempre quanto está a subordinação do fundo: quanto há de cota sênior, quanto há de subordinada mais mezanino. E quando está no mezanino, quanto há ali de subordinação. Quanto que está rendendo, quanto que está a provisão duvidosa (PDD), se está aumentando ou diminuindo. Neste momento, a tendência do fundo é alocar nos fundos mais abertos, pois caso vejamos algum problema, fazemos o resgate. Com o fundo fechado, fica um pouco complicado o resgate. Esses são sempre os movimentos defensivos que fazemos no momento de aumento da taxa Selic.

Inv.com: Por que há o risco de abertura do spread abrir neste momento?

GR: A abertura do spread nada mais é do que o risco fiscal que o Brasil corre, os problemas políticos e tudo mais. Sempre que houver um stress de mercado, a consequência disso é queda das ações e aumento do spread.

Se o mercado enxergar uma melhora futura, por exemplo, quem sabe uma troca no governo federal no ano que vem, queda de juros, uma melhora econômica, a tendência é de melhora, com fechamento do spread e melhora da Bolsa.

Inv.com: O risco de aumento do spread não leva em consideração a possibilidade do começo da queda da taxa Selic no fim do ano ou no começo de 2026?

GR: Acompanhamos semanalmente o Boletim Focus, que já diminuiu a projeção da taxa Selic no fim deste ano. A previsão era de 15% antes, agora é que fique no patamar atual de 14,75%. Já é uma visão melhorada para o futuro, com a Selic podendo chegar a 10% em 2028. Estamos vendo um futuro melhor para o nosso país.

Inv.com: Como colocar na balança a possibilidade de uma política monetária mais flexível com maiores riscos fiscal e político?

GR: Nunca vamos com os ‘dois pés’ em único ativo. Quando vemos uma melhora, fazemos um aumento gradual para os ativos que consideramos que vai ter um benefício naquela tendência da Selic.

Com a tendência de queda, os ativos com maior risco tendem a ter uma melhor performance. Não aumentamos a exposição de uma vez nos ativos de crédito, alocamos aos poucos, para não acontecer o mesmo cenário do fim do ano passado, quando houve um stress do mercado, diminuímos a carteira e ela rendeu no mínimo 100% do CDI. E, voltamos a aumentar a exposição no crédito no início deste ano, surfando o fechamento da curva no primeiro trimestre.

Inv.com: Qual é avaliação da gestora para a economia nos próximos 12 a 18 meses do ponto de vista de funcionamento e seleção de ativos pelo fundo?

GR: O cenário não é tão claro, porque realmente vai haver uma melhora, do nosso ponto de vista, se houver a troca na Presidência. O mundo está tendendo mais para a direita do que para a esquerda hoje.

As últimas eleições mundiais mostraram isso. Isso é um ponto bem positivo. A incógnita é, hoje, ver o quanto que o governo atual está disposto a abrir a torneira, por exemplo, para tentar uma reeleição.

A dívida fiscal no Brasil já está altíssima, se o Senado e a Câmara autorizarem uma enxurrada de dinheiro para a reeleição, pode prejudicar muito o crédito e o risco fiscal do Brasil.

Por isso, não colocamos todas as nossas fichas em um único ativo.

Inv.com: Há possibilidade de contaminação externa, com a dúvida se o Fed cortar os juros nos EUA? Como isso impacta na estratégia do fundo?

GR: Os Estados Unidos fizeram uma guerra comercial contra praticamente o mundo inteiro, mas o principal oponente é a China. Isso beneficiou bastante os mercados emergentes e, consequentemente, o Brasil. Este foi, por exemplo, um dos motivos da Bolsa subir aproximadamente 15% nesse começo do ano.

Os investidores ficaram um pouco com medo com essa briga comercial, e colocaram bastante dinheiro aqui no Brasil. A Bolsa nos Estados Unidos sofreu bastante, agora conseguiu se recuperar.

Consideramos que essa guerra é boa para o Brasil, mesmo com a trégua entre os Estados Unidos e China neste mês. E a bolsa brasileira não sofreu, acho que a tendência é bem produtiva para o Brasil.

O mundo inteiro estava com a taxa de juros alta, então, a economia está desaquecendo e, consequentemente, vai favorecer o corte de juros. O mundo tende, com isso, a procurar mais ativos de riscos. Estamos confiantes com a alta das bolsas mundiais.

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