Lula diz que espera encontrar com Trump e que enviou carta convidando para COP30
Por Luciana Magalhaes e Ricardo Brito
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou suas tarifas de 50% contra o Brasil como uma forma de apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas três pessoas próximas ao ex-presidente disseram que ficaram surpresas com a medida e temem que ela possa causar mais danos do que benefícios.
Ao anunciar as tarifas em uma carta na semana passada, Trump as apresentou como uma tática de pressão para ajudar Bolsonaro, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente planejar um golpe para anular sua derrota na eleição presidencial de 2022.
Bolsonaro descreveu as acusações como infundadas e insistiu que concorrerá à Presidência em 2026, apesar de uma decisão judicial que o impede de disputar a eleição. Na carta em que anunciou a tarifa, Trump disse que Bolsonaro é vítima de uma "caça às bruxas".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou Bolsonaro em 2022, não tem interesse nem capacidade de interferir no caso. Na semana passada, ele classificou Trump como um "imperador" indesejado e ameaçou retaliar se as negociações comerciais não avançarem.
Os aliados de Bolsonaro temem que as tarifas elevadas, que provavelmente prejudicarão os setores brasileiros, desde os produtores de café e laranja até a criação de gado e o setor de aviação, possam despertar o orgulho nacional por um Lula desafiador, revertendo a tendência de sua popularidade, que vinha em queda.
A reação contra Trump já deu um impulso a vários de seus inimigos ideológicos no exterior. Os partidos de centro-esquerda alcançaram a vitória nas eleições canadenses e australianas deste ano, aproveitando uma onda de oposição às políticas de Trump, enquanto os aliados de direita do presidente dos EUA tiveram dificuldades na Romênia e na Hungria.
O entorno de Bolsonaro estava ansioso por uma demonstração de apoio de Trump desde que ele retornou à Casa Branca. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), um dos filhos do ex-presidente, licenciou-se do mandato e se mudou com a família para os EUA para reunir apoio ao pai em Washington.
Mas a emoção de chamar a atenção de Trump logo se esvaiu quando os Bolsonaros perceberam o peso esmagador das tarifas ligadas à sua causa, de acordo com as fontes, que disseram que a família esperava sanções direcionadas contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do caso em que Bolsonaro é réu na corte.
Agora, o clã Bolsonaro não tem alternativa a não ser apoiar Trump e sua carta, mesmo entendendo que a medida "poderia provocar reações negativas", disse uma das fontes, pedindo anonimato para discutir conversas privadas.
EDITORIAIS MORDAZES
Na semana passada, na esteira do anúncio das tarifas de Trump, líderes do Congresso brasileiro que vinham combatendo Lula em várias frentes emitiram declarações de apoio a ele.
"A bandeira do nacionalismo tem apelo muito relevante, sobretudo no campo da direita", disse Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas, em Brasília.
Uma associação próxima a Trump pode se mostrar tóxica do ponto de vista eleitoral para os aliados de Bolsonaro, cujo futuro político já estava obscurecido pela ameaça de uma possível sentença de prisão e pela decisão judicial que o impediu de ocupar cargos públicos até 2030.
"É absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump", escreveu o jornal O Estado de S. Paulo em editorial na semana passada. "Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira."
Representantes de Bolsonaro não quiseram comentar o editorial do jornal.
No domingo, o ex-presidente tentou mostrar empatia por seus apoiadores sem alienar Trump.
"Não me alegra ver sanções pessoais, ou familiares, a quem quer que seja. Não me alegra ver nossos produtores do campo ou da cidade, bem como o povo, sofrer com essa tarifa de 50%", escreveu Bolsonaro em sua conta no X. "O tempo urge, as sanções entram em vigor no dia 1° de agosto. A solução está nas mãos das autoridades brasileiras."
Outros políticos conservadores do Brasil também estão tentando encontrar um equilíbrio complicado em seus comentários públicos.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que iniciou sua carreira política no gabinete de Bolsonaro e agora é visto como um possível herdeiro de seu eleitorado, inicialmente culpou a ideologia de Lula pelo aumento da tarifa nas mídias sociais.
Na sexta-feira, ele estava mudando o foco para Washington, dizendo no X que havia se reunido com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília para "abrir diálogo com as empresas paulistas, lastreado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas".
Eduardo Bolsonaro, no entanto, criticou os esforços de Tarcísio para negociar um acordo e atribuiu a culpa pela situação diretamente ao governo Lula, que a direita mais radical procurou caracterizar como uma ditadura de esquerda.
"Lamento, mas não dá para pedir ao presidente Trump -- e nenhuma autoridade internacional minimamente decente -- para tratar uma ditadura como se fosse uma democracia", escreveu ele no X.