BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, cancelou sua agenda da manhã desta quinta-feira, que incluía uma reunião com os ministros da Casa Civil, da Defesa e da Secretaria de Governo, e não foi ao Palácio do Planalto, enquanto aumentam os sinais de que ele não deve continuar no cargo, embora o ministro venha dizendo que não vai sair do posto por vontade própria, segundo uma fonte ligada a ele.
Envolvido em denúncias de que seu partido usou candidatos-laranja a deputado para acessar recursos públicos de financiamento de campanha, Bebianno entrou em um processo de fritura no governo, capitaneado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, e endossado pelo pai.
Bebianno teria uma reunião na Casa Civil para tratar de Venezuela. Pela manhã, o encontro estava na agenda e foi confirmado por sua assessoria. No final da manhã, a agenda foi revisada e não constavam mais compromissos oficiais. De acordo com sua assessoria, o ministro nem mesmo foi ao Planalto.
Contudo, uma fonte ligada ao ministro disse que ele não vai pedir demissão e que espera conversar com o presidente sobre a situação. Segundo essa fonte, que pediu para não ser identificada, até o final da manhã não tinha havido um chamado de Bolsonaro para que ele fosse falar com o presidente.
Na agenda cancelada pela manhã, segundo a fonte, Bebianno foi representado pelo secretário-executivo do ministério, o general Floriano Peixoto. O ministro deve ir ao Palácio do Planalto esta tarde, disse a fonte.
Na segunda-feira, para mostrar que não havia crise no governo por conta das denúncias, Bebianno afirmou que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Carlos usou sua conta no Twitter para negar as conversas e chamou Bebianno de mentiroso.
Em seguida, Carlos coloca um áudio do próprio Bolsonaro falando a Bebianno, em que o presidente diz: “Gustavo, está complicado eu conversar ainda, então não vou falar com ninguém a não ser o estritamente essencial. E estou em fase final aqui de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí.”
O próprio presidente retuitou as mensagens de Carlos no início da noite e, em entrevista ao jornal da Record, afirmou que Bebianno teria que se explicar.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse que o caso envolvendo Bebianno será investigadas.
"O senhor presidente proferiu determinação e ela está sendo cumprida. Os fatos vão ser apurados e eventuais responsabilidades após investigações vão ser definidas", disse Moro, em entrevista após evento em Brasília.
A confusão em torno de Bebianno dividiu a própria bancada do PSL. Parte dos parlamentares saiu em defesa do ministro.
A deputada Joice Hasselmann (SP) afirma que a bancada está esperando uma posição do presidente e do próprio Bebianno, que iriam conversar nesta quinta.
"Mas não há nenhuma definição em relação, pelo menos, que tenha sido comunicada ao partido em relação ao ministro Bebianno", disse Joice.
A deputada, no entanto, criticou a postura de Carlos Bolsonaro.
"Eu já me posicionei que acho que declarações de familiares, do filho do presidente, em coisas que envolvem o núcleo duro do governo, são declarações que podem atrair uma crise desnecessária", afirmou.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello)