O governo busca agora retomar a rotina de votações no Plenário e manter a Câmara dos Deputados em funcionamento, após o aumento da tensão política na Casa, na semana passada. Enquanto isso, a oposição enxergou a possibilidade de retomar o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e prometeu obstruir as votações até que a comissão para tratar do tema seja montada, depois dos episódios da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, que passou 87 dias preso, e da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva para depor na Polícia Federal de São Paulo,
A intenção foi anunciada hoje por líderes oposicionistas. “O nosso desejo, que está sintonizado com o sentimento nacional, é que a Câmara instale o quanto antes o processo de afastamento da presidente Dilma”, disse o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). Antes, a oposição quer que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre os embargos apresentados pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) questionando pontos da decisão do STF sobre o rito do impeachment.
“Nosso propósito é instalar a comissão o quanto antes, mas isso vai depender da dinâmica do processo dentro da Suprema Corte. Nós não podemos ultrapassar uma decisão da justiça brasileira. Nós queremos que tudo seja feito observando a Constituição”, acrescentou Imbassahy.
Segundo o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM) a iniciativa da oposição na Câmara será acompanhada também pelos partidos de oposição no Senado, a partir de amanhã. Para o governo, a estratégia da oposição é criar um clima de “quanto pior, melhor” e de instabilidade no parlamento. “Quem não quer ver o país trabalhando, vai falar de obstrução”, disse o líder do governo José Guimarães (PT-CE).
Para Guimarães, apesar de ser um instrumento regimental, a medida não ajuda o país. De acordo com o líder, o governo não se opõe à instalação da comissão e deseja resolver logo essa questão. “Queremos que a Câmara funcione para mostrar para o país que as instituições estão funcionando e que estamos trabalhando para votar as matérias de interesse do país”, disse.
Questionado sobre como vai proceder diante das divergências entre governo e oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que vai manter sua postura no comando da Casa."A obstrução é um gesto político que os partidos podem fazer e fazem. O que pode acontecer é o seguinte: se tiver número para superar a obstrução, supera-se. Se não houver número, não vota".
Além do funcionamento da Câmara, o governo vai ter que se ocupar com a tentativa da oposição de fazer um aditamento no pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os oposicionistas querem acrescentar ao processo em tramitação a reportagem, divulgada semana passada pela revista IstoÉ, segundo a qual o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo preso, fez delação premiada antes de sair da cadeia e teria dito que a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) revelado pela Operação Lava Jato.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA) disse que a oposição não pode tomar como fato uma suposta denúncia ainda não investigada e que uma possível delação tem que ser apurada: “A opinião pública tem que entender que o combate a corrupção é papel do estado e tem o nosso apoio. Agora, não é verdade que todo mundo do DEM e do PSDB pode ficar isento de investigação porque sobre eles pesam importantes acusações. Quando houver acusação com evidência consistente contra petista deve ser investigada e não é isso que existe nem em relação à presidenta Dilma e nem em relação ao presidente Lula. O que tem em relação a eles é disputa política”.