A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), criticou as declarações do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, de que o partido “perdeu a visão de humanidade” pela manifestação oficial sobre a guerra contra o grupo extremista Hamas.
Segundo Gleisi, não é verdade que o PT apoia o Hamas. “É totalmente falsa a afirmação feita ao Poder360 pelo embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, segundo o qual o PT apoiaria o grupo Hamas. A resolução divulgada ontem [16.out.2023] pelo Diretório Nacional do PT é inequívoca ao condenar a violência contra populações civis”, disse.
Em entrevista ao Poder360 nesta 3ª feira (17.out), Zonshine disse que era “difícil reagir” à nota do PT. O partido condenou as ações do Hamas, mas disse que Israel faz um “genocídio” em Gaza.
- o que disse o PT – “Condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra“, diz trecho do documento. Leia a íntegra da resolução (PDF – 69 kB);
- o que disse Daniel Zonshine – “Isso é maneira [de falar] de um partido que fala de direitos humanos? São direitos humanos matar crianças e estuprar mulheres? Esses são os valores que o PT apoia? O apoio aos palestinos é uma coisa, podemos discutir isso, mas apoiar o Hamas?“.
Assista à fala do embaixador ao Poder360 (1min46s):
Assista à entrevista completa do embaixador ao Poder360 (42min5s):
Leia a íntegra da nota do PT em resposta ao embaixador de Israel:
“É totalmente falsa a afirmação feita ao Poder360 pelo embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, segundo o qual o PT apoiaria o grupo Hamas. A resolução divulgada ontem [16.out.2023] pelo Diretório Nacional do PT é inequívoca ao condenar a violência contra populações civis, venha de onde vier:
“O PT condena, desde sua fundação, todo e qualquer ato de violência contra civis, venham de onde vierem. Por isso, condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra.
“O PT historicamente mantém relações partidárias unicamente com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assim como com a Autoridade Nacional Palestina sediada em Ramallah.
“É inaceitável que uma pessoa com responsabilidades diplomáticas, representante de um país amigo do Brasil, reproduza uma fake news disseminada para exploração política contra o PT e o governo brasileiro.
“Gleisi Hoffmann
Presidenta Nacional do PT”
ENTENDA O QUE É GENOCÍDIO
A palavra “genocídio” frequenta o noticiário político brasileiro em tempos recentes, sobretudo por causa da pandemia da covid-19. Governantes e políticos foram classificados como genocidas por não seguirem o que era o padrão dos procedimentos recomendados para combate ao coronavírus.
Ocorre que ser irresponsável ou tomar decisões contrárias ao senso comum na área de saúde pública ou em locais de conflitos bélicos não configura genocídio, quando se leva em conta o significado real do termo. O Poder360 fez uma reportagem a respeito do que é genocídio: leia aqui.
A palavra genocídio apareceu em 1944, durante a 2ª Guerra Mundial. Foi criada pelo advogado Raphael Lemkin (1900-1959), judeu polonês, para conceituar os abusos sofridos pelas vítimas do governo nazista. Vem da junção de genos, palavra grega que significa “tribo”, com cide, expressão latina para “matar”.
Segundo o professor do Instituto de Direito da PUC-Rio, Michael Freitas Mohallem, “o genocídio é o ato de destruir um grupo, seja étnico ou religioso, mas tem um elemento importante que é a intenção de um agente de erradicar um grupo específico”. Em suma, quem comete genocídio precisa deliberadamente desejar exterminar um grupo populacional.
Em 1948, o genocídio passou a ser definido como crime quando a ONU (Organização das Nações Unidas) realizou um evento para tratar sobre o tema, a “Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio”. No marco do direito internacional, os países-membros da organização se comprometem a fiscalizar e punir possíveis autores.