Governo omite detalhes do corte de verbas em ministérios por motivação eleitoral, dizem fontes

Publicado 06.10.2022, 12:40
Atualizado 06.10.2022, 18:00
© Reuters. Um saruê passa em frente ao Ministério da Educação em Brasília
22/06/2022
REUTERS/Ueslei Marcelino

Por Marcela Ayres e Bernardo Caram e Rodrigo Viga Gaier

BRASÍLIA (Reuters) - O governo decidiu omitir o detalhamento do mais recente bloqueio de verbas em ministérios por motivação eleitoral e receio de uso político das informações, afirmaram à Reuters duas fontes do Ministério da Economia.

Um decreto do governo editado na semana passada impôs o congelamento adicional de 2,6 bilhões de reais para garantir o cumprimento da regra do teto de gastos, totalizando 10,5 bilhões de reais em recursos travados este ano, mas a lista das pastas atingidas não foi apresentada.

De maneira geral, esse detalhamento é prontamente divulgado pela pasta logo após a efetivação dos bloqueios.

Em condição de anonimato, os dois técnicos do ministério disseram à Reuters que a Secretaria de Orçamento não detalhou os cortes, como de costume, por conta do polarizado período eleitoral.

Uma das fontes pontuou que este é um "período complicado" para a divulgação de dados pelo ministério, sob o temor de que as informações possam ser distorcidas para uso político.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta reverter a desvantagem em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após ficar na segunda posição no primeiro turno.

Nos últimos dias, ele anunciou medidas com potencial para lhe gerar impulso eleitoral, como o 13º do Auxílio Brasil a mulheres chefes de família, a antecipação do calendário do programa social e um programa de perdão de dívidas com a Caixa.

Ao longo da atual gestão, limitações de verbas para respeitar o teto de gastos já foram alvo de pressões políticas. Além de travar desembolsos para a operação de ministérios, essas iniciativas atingem emendas parlamentares, usadas por deputados e senadores para implementar obras e projetos em suas bases eleitorais.

Antes do primeiro turno, a campanha de Bolsonaro sofreu ataques após ter enviado ao Congresso o projeto de Lei Orçamentária (PLOA) para o próximo ano sem previsão legal para a manutenção do Auxílio Emergencial em 600 reais, outra promessa de campanha, e com cortes em programas sociais considerados sensíveis, como o Farmácia Popular.

EDUCAÇÃO

Nesta quinta-feira uma nota do Ministério da Economia se limitou a informar que o bloqueio adicional de recursos feito especificamente nas contas do Ministério da Educação foi de 51,3 milhões de reais, mas não apresentou detalhes do restante do corte de 2,6 bilhões de reais em outras pastas.

A nota foi divulgada depois que vieram a público dados coletados por órgãos independentes sobre os cortes na área da educação, com informações que passaram a ser usadas contra Bolsonaro por opositores políticos.

De acordo com a pasta, com o bloqueio adicional, o corte total no Ministério da Educação neste ano atingiu 1,04 bilhão de reais.

O número diverge de levantamento feito pela Instituição Fiscal Independente (IFI, ligada ao Senado), que apontou um bloqueio total de 3 bilhões de reais na Educação com base em dados da programação orçamentária incluídos no decreto publicado na última sexta.

A necessidade do corte adicional de 2,6 bilhões de reais em verbas de ministérios para respeitar o teto foi anunciada em setembro.

A Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento disse nesta quinta que não há previsão de divulgação da tabela detalhada com os cortes em todas as áreas.

Procurado pela Reuters para avaliar as afirmações sobre motivação política do represamento das informações, o Ministério da Economia disse que não vai comentar.

Uma terceira fonte disse à Reuters que, para recompor as verbas de educação, o governo tentará negociar com parlamentares que foram contemplados por emendas de relator --que ficaram conhecidas como orçamento secreto, por não permitirem a identificação dos parlamentares responsáveis-- e que ainda não usaram os recursos.

"Está cheio de cara com RP9 (emenda parlamentar de relator) por aí e não sabe o que fazer com o dinheiro. É um monte de deputado cheio de dinheiro na gaveta e não sabe o que fazer. Do outro lado, falta dinheiro da merenda escolar", disse a fonte, que pediu sigilo.

"Os parlamentares têm verba e podem ajudar nessa composição do Orçamento", adicionou.

© Reuters. Um saruê passa em frente ao Ministério da Educação em Brasília
22/06/2022
REUTERS/Ueslei Marcelino

Em entrevista em Minas Gerais, Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que a decisão da área econômica não foi por um corte, mas por um contingenciamento, determinado pela obrigação de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Ele tentou minimizar o impacto da iniciativa no orçamento do Ministério da Educação.

"O repasse de recurso é em função de entrada de receita, então o que foi adiado até dezembro é uma pequena parcela. Deixo bem claro, o orçamento para a educação, o ensino superior, é quase 1 bilhão (de reais) superior ao ano passado", disse.

"(Trata-se) apenas (de) contingenciamento que todos governos fizeram, não por maldade e vontade própria, mas para cumprir a LRF. Eu tenho algo que outros não tinham, um teto de gastos. O Orçamento será todo ele liberado no corrente ano", destacou.

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.