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Inflação é prioridade do eleitor, diz ex-presidente do BC argentino

Publicado 23.09.2023, 06:15
Atualizado 23.09.2023, 06:40
© Reuters.  Inflação é prioridade do eleitor, diz ex-presidente do BC argentino

Na avaliação de Federico Sturzenegger, que foi presidente do BC (Banco Central) da Argentina de 2015 a 2018, no governo de Mauricio Macri, o debate sobre a dolarização no país deve ser avaliado por representar a prioridade da população hoje.

“É uma mensagem que indica a existência de uma vontade muito forte de reduzir a inflação”, afirmou em entrevista por escrito ao Poder360. O 1º turno da eleição para presidente no país será em 22 de outubro.

A proposta de dolarização é defendida pelo candidato a presidente Javier Milei. Sturzenegger não disse se acha viável colocá-la em prática nem se seria a melhor alternativa. Mas o ex-presidente do BC cobrou os que se opõem a essa ideia: “Deveriam ser mais explícitos em demonstrar a forma como vão reduzir a inflação em vez da ênfase na crítica à proposta”.

Para Sturzenegger, reduzir a inflação passa por tirar o BC “do alcance dos políticos”. Ele quer uma autoridade monetária autônoma. Na sua avaliação, a raiz dos impasses econômicos do país é a manutenção de privilégios de diferentes grupos, incluindo sindicalistas e empresários.

O ex-presidente do BC colaborou com a candidata Patricia Bullrich. Também escreveu no X (ex-Twitter) que tem “uma relação de respeito mútuo” com Milei e que o candidato ajuda o debate. Sturzenegger criticou duramente o governo do presidente Alberto Fernández, que tem como candidato a presidente o ministro da Economia, Sergio Massa.

Poder360 – Quais são os maiores desafios que a economia da Argentina enfrenta hoje?

Federico Sturzenegger – Ao contrário do que normalmente se pensa, o problema da Argentina é que é um país excessivamente estável.

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Estável? Como assim se a inflação está fora de controle?

Sim, é verdade que, superficialmente, a Argentina parece muito instável. Mas, na sua raiz, é muito estável. Se olharmos para os sindicalistas argentinos, veremos que eles são os mesmos década após década. E quando digo os mesmos, quero dizer literalmente. São as mesmas pessoas. Isso também vale para os empresários. Se olharmos para as organizações empresariais, seus líderes são os mesmos. Ano após ano. Ou seja, a Argentina é um país com uma ideia muito clara de como se organizar. Infelizmente, é uma forma muito prejudicial para a maioria dos argentinos, porque é uma organização que privilegia o poder estabelecido e não a inovação, a mudança ou a possibilidade de o mercado encontrar formas de melhorar a produtividade e a qualidade de vida da população.

Esse tipo de organização é uma particularidade da Argentina?

Na verdade, não. Se você ler o famoso livro de Daron Acemoglu e James Robinson, “Por que as nações fracassam”, verá que as sociedades com status quo são a coisa mais comum no mundo. É por isso que nem todos os países são tão ricos quanto a Suíça ou a Noruega. E por que não são? Não seria suficiente copiar o que eles fazem? Claro que seria. Mas quase ninguém quer, porque isso significaria perder os privilégios que o sistema concedeu. Quando uma sociedade entra nesse caminho, fica presa ali. A Argentina está nisso há várias décadas.

Poderia dar exemplos de outros países assim?

Existem milhares. Cuba e Coreia do Norte. São sociedades horríveis para o seu povo e provavelmente deliciosas para os seus governantes. Europa Oriental, comunismo, apartheid na África do Sul etc. É interessante que muitas dessas sociedades tenham mudado por causa de fatores externos. A queda da União Soviética foi o que permitiu a mudança na Europa Oriental, o bloqueio [à África do Sul] a queda do apartheid e assim por diante. Há mudanças internas, com Deng Xiaoping na China, por exemplo, e Margaret Thatcher no Reino Unido. Mas são menos frequentes.

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Essa forte tendência à manutenção do status quo é comum a todos os países latino-americanos?

Eu diria que, em termos gerais, sim. A propósito, muito menos do que na África, mas mais do que em outras regiões. Por isso acho que o crescimento na América Latina deixa tanto a desejar.

O que seria necessário copiar dos países mais ricos para replicar o desenvolvimento?

Acemoglu e Robinson falam sobre instituições econômicas inclusivas: regras que são iguais para todos, em que não há privilégios para ninguém e ganha quem melhor servir a comunidade com seus produtos. Há muitos anos, a Microsoft (NASDAQ:MSFT) bloqueou o mecanismo de busca Netscape em seu sistema operacional. Por essa razão, o governo norte-americano processou a Microsoft. Defendeu o inovador, por menor que fosse e por maior que fosse aquele com quem competia. Na Argentina, as empresas aéreas low cost desafiaram o poder da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas. O governo de Alberto Fernández foi responsável por tornar a vida dessas novas empresas impossível. Exatamente o oposto [do que se fez nos EUA]. Nos nossos países, o governo defende os poderosos, perpetuando o seu poder e desestimulando a inovação. Nos países ricos é o oposto. Mas é claro que mudar isto é dificílimo porque vai contra o status quo.

A Argentina tinha uma economia de destaque no mundo no início do século 20. O que deu errado depois disso?

Existe a fantasia de que a Argentina era muito rica no início do século 20 e está em declínio há um século. A fantasia não é que ela tenha sido rica. Ela foi. O que está errado é o século do declínio. Até o final da década de 1960, o crescimento da Argentina foi muito decente. Obviamente não é comparável ao da Alemanha e do Japão, mas comparado a esses países, os EUA também não tiveram um desempenho tão bom. Na década de 1970, a renda relativa de um argentino, comparada a de um australiano, era semelhante à do início do século. Mas no final dos anos 1960, com o governo militar de Juan Carlos Onganía (1966-1970), a Argentina transformou em lei a estrutura corporativa de interesses que a domina desde então. E ninguém conseguiu mais colocar o guizo no gato. E aí começou o colapso econômico da Argentina.

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Por que a inflação aumentou tanto recentemente?

O atual governo não deixou nenhum desastre inacabado. Acho que não consigo reconhecer nada de bom que tenha feito. A pandemia nos manteve presos durante meses. O pior nem é que as vacinas tenham sido roubadas, mas que rejeitaram uma oferta antecipada da vacina Pfizer (NYSE:PFE) que causou a morte desnecessária de 20.000 argentinos. Espero que um dia alguém cuide disso. Depois se fez uma reestruturação desnecessária da dívida.

O pagamento da dívida não era um problema?

Mais uma loucura deste governo. A dívida que Martin Guzmán [ministro da Economia do governo de Alberto Fernández de dezembro de 2019 a julho de 2022] reestruturou foi de 25% do PIB [Produto Interno Bruto]. Pensem que os gregos reestruturaram uma dívida que era de 200% do PIB. Por que reestruturar uma dívida que representa apenas 25% do PIB? Será porque a taxa de juros era muito grande? Mas não, a taxa média era 5%. Então você reestruturou uma dívida muito pequena que tinha uma taxa lógica. Por quê? A única resposta plausível é porque queriam fazer uma afirmação política, apontar um culpado para não assumirem a responsabilidade pelas suas próprias deficiências. Coisas ridículas. Não sei. Talvez Guzmán quisesse se tornar uma referência internacional no assunto. Escrever artigos. Fez uma bagunça. Porque o mercado percebeu que um país que se reestrutura por razões políticas pode fazê-lo a qualquer momento. E é por isso que o risco país depois da reestruturação passou para 2.000 pontos.

E isso teve consequências, certo?

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Obviamente, o mais importante é que o investimento estrangeiro direto desapareceu. Por exemplo, Vaca Muerta [mega campo de gás argentino] não foi desenvolvido num momento favorável devido à invasão da Ucrânia pela Rússia, o que aumentou o apetite internacional por gás de outras fontes. A Argentina nunca teve um choque mais positivo. Mas a reestruturação de Guzmán tornou essa exploração impossível.

O que seria necessário para reduzir a inflação?

Tornar o banco central independente. Tirá-lo do alcance dos políticos. Hoje, um candidato a presidente diz querer eliminar o banco central. Mas o banco central já desapareceu, hoje existe uma Agem, uma agência governamental emissora de dinheiro. E o governo, sem acesso ao crédito e com um enorme deficit, a financia com um imposto inflacionário. É pior. Como a Agem, que alguns chamam de banco central, não tem acesso ao crédito, emite para pagar os vencimentos da dívida. Agora, o governo optou por desmantelar o seu sistema fiscal, eliminando o Imposto de Renda. Ou seja, reduz ainda mais a arrecadação de impostos. Dado todo esse disparate, as questões fiscais também terão de ser resolvidas. Mas aí voltamos ao início da conversa: se a sociedade é status quo, isso vai ser difícil, porque é conveniente para o status quo obter regalias do Estado. E, para o povo, pagar por isso com um imposto inflacionário. Portanto, até que esse status quo seja desmantelado pela raiz, não haverá possibilidade de mudança.

Em outros países da América Latina ou de outras regiões há risco hoje de a inflação ficar fora de controle?

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Penso que a política monetária está no controle da situação. Especialmente na América Latina, onde temos o risco mais próximo e onde os bancos centrais reagiram de forma muito rápida e correta. O que o Banco Central do Brasil fez, para dar um exemplo, é extraordinário. Mas não só o Brasil. O Uruguai aproveitou a situação para trazer a sua inflação para a meta pela 1ª vez em décadas. Isso merece comemoração.

Critica-se a política monetária dos países desenvolvidos por ter sido recentemente branda demais com a inflação. Qual é a sua avaliação?

Nos EUA a resposta foi um pouco mais lenta. Mas o país veio de 4 décadas sem inflação. Acho que no início foi uma questão de descrença e por isso não se reagiu. Mas houve também uma expansão monetária muito importante durante a covid, que aumentou os agregados monetários em 40% em poucos meses. Acredito que esse golpe monetário inicial ainda não foi revertido e isso produz tensões latentes no processo inflacionário dos EUA. A inflação não terminou por lá.

A dolarização seria uma opção viável na Argentina? Seria desejável?

Sei que é um tema que tem levantado muito debate na Argentina e até fora de suas fronteiras. Penso que na Argentina tem sido assim porque, na realidade, a proposta de dolarização é uma mensagem que indica que existe uma vontade muito forte de reduzir a inflação. Isso é para além da questão se seria implementável ou não, algo que é outro debate. O que me parece indiscutível é que a proposta visa a demonstrar uma forte vontade de eliminar a inflação. A minha impressão é que, quando a proposta é criticada, é como dizer “isso não pode ser feito, é difícil”, ou algo assim. E o eleitor entende que não se quer ou não se sabe baixar inflação. Penso que aqueles que não compartilham da visão [de que a dolarização seria uma boa alternativa] deveriam ser mais explícitos em demonstrar a forma como vão reduzir a inflação em vez de enfatizarem a crítica à proposta.

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