Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta segunda-feira não ter sido sondado para voltar ao governo em caso de vitória do petista nas eleições de outubro, mas deixou a porta aberta para tanto ao ressaltar ter excelentes relações com ele.
"Não tem nada (na mesa)", disse ele à Reuters.
Questionado se aceitaria um eventual convite, Meirelles afirmou que não "perde tempo decidindo sobre hipóteses", acrescentando que, em 2002, quando Lula venceu as eleições pela primeira vez, sua ida para o governo só foi acertada após o resultado do pleito.
Visto como um nome pró-mercado, Meirelles participou de evento nesta manhã em que outros ex-presidenciáveis declararam apoio a Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
O mercado reagiu positivamente à contundente fala do ex-chefe do BC, com o dólar caindo frente ao real e a curva longa de juros também cedendo, após Meirelles ressaltar feitos econômicos dos governos Lula, incluindo controle da inflação, criação de empregos, redução da pobreza e acúmulo das reservas internacionais.
"Fiz um discurso forte exatamente porque eu sou um homem que na minha carreira e na minha vida eu acredito em fatos. E os dois mandatos foram muito positivos para o país", disse.
Meirelles participou da corrida presidencial em 2018, mas recebeu pouco mais de 1% dos votos nas eleições vencidas por Jair Bolsonaro.
Ele afirmou ter sido convidado para o evento, que reuniu ex-presidenciáveis, pelo candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin, o qual passou recentemente a ser cotado para comandar a política econômica em um eventual novo governo do petista.
Questionado se a presença do ex-governador de São Paulo na chapa de Lula teria tido papel na decisão de voto, Meirelles afirmou que "ajuda", mas ressaltou ter "excelentes relações" com o ex-presidente independentemente disso.
Mais longevo presidente do Banco Central do Brasil, Meirelles é lembrado pela atuação na crise de 2008 e pela política monetária focada no combate à inflação.
Ele também comandou o Ministério da Fazenda no governo do ex-presidente Michel Temer, propondo dois marcos fiscais considerados cruciais para a recuperação da sustentabilidade fiscal, mas que já receberam críticas de economistas próximos a Lula: o teto de gastos e criação da taxa TLP para empréstimos do BNDES, que passou a cobrar juros mais próximos dos de mercado em comparação à antiga TJLP.
"Apesar de declarações equivocadas feitas por membros da campanha, eu, baseado na minha experiência de trabalho com ele (Lula) nos dois governos, nos dois mandatos, tomei essa decisão baseado na expectativa de que a realidade iria prevalecer", disse Meirelles.