Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A 2W Energia, empresa que atua na comercialização e geração de energia, está aumentando sua aposta no atendimento a pequenos consumidores do setor elétrico, ao mesmo tempo em que retomou "roadshows" com investidores internacionais com o objetivo de buscar recursos para se capitalizar no futuro, disseram à Reuters executivos da companhia.
A empresa passou a focar desde 2020 nas vendas ao chamado "varejo" do setor elétrico --isto é, consumidores de pequeno porte, geralmente estabelecimentos comerciais ou de serviços, com contas de luz na casa de 30 mil reais por mês.
O valor de contratos fechados neste segmento alcançou 1 bilhão de reais ao final de março deste ano, o que pode ser considerado um marco para um nicho ainda pouquíssimo desenvolvido no Brasil.
Entre o fim de 2020 e o primeiro trimestre de 2022, a 2W viu sua base de pequenos clientes aumentar de 60 para 324.
Segundo o diretor de RI da 2W, Eduardo Portelada, parte desse sucesso vem da capilaridade construída pela companhia em todo o país. A captação de clientes para migração ao mercado livre através da plataforma da 2W é feita através de uma rede de agentes autônomos, que a empresa chama de "consultores de energia".
"Precisamos estar em cidades do interior do Mato Grosso, Goiás, Bahia, Ceará... Para você encontrar o pequemo e médio empresário, ele está numa cidade dessa, você precisa de alguém local que conheça esse cara, que seja capaz de efetivamente convencer essa pessoa da migração (ao mercado livre)", explica Portelada.
Além do potencial inexplorado do segmento varejista, que deve crescer com a liberalização gradual prevista para o mercado de energia nos próximos anos, outro atrativo são as melhores margens obtidas com a venda de energia, disse o diretor.
Em paralelo, a empresa continua buscando acordos de comercialização para clientes de maior porte, no "atacado". Mas, diferente de outras geradoras e comercializadoras, que focam em consumidores eletrointensivos e contratação de longo prazo, a empresa foca em contratos de 4 a 7 anos, que permitem melhores condições de preços.
Na última semana, a 2W anunciou um acordo com a Ambev (BVMF:ABEV3) para fornecimento de energia renovável às fábricas da empresa no Norte e Nordeste. O suprimento virá do complexo eólico Kairós, que a companhia de energia está construindo em Icapuí (CE), com previsão para entrada em operação no primeiro semestre de 2023.
A aposta no segmento de geração, para além das compras de energia de terceiros no mercado livre, foi importante para que a 2W garantisse confiabilidade aos clientes sobre o fornecimento de energia renovável, destacou o CEO, Cláudio Ribeiro.
O primeiro empreendimento de geração da 2W é o complexo eólico Anemus, no Rio Grande do Norte, que deve começar a gerar energia neste ano. Com 138,6 megawatts (MW) de capacidade instalada, o projeto receberá cerca de 700 milhões de reais em investimentos e está sendo construído pela WEG (BVMF:WEGE3), que também é fornecedora dos aerogeradores.
Já o projeto eólico Kairós terá 261 MW de potência e será erguido pela dinamarquesa Vestas. O empreendimento potiguar terá duas fases, que somam ao todo 1,4 bilhão de reais em aportes.
CONTATO COM INVESTIDORES
A 2W Energia chegou a tentar fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2020, mas acabou desistindo do processo em meio à piora do mercado na época --período da primeira onda da pandemia de Covid-19.
Mais recentemente, a companhia intensificou as conversas com investidores estrangeiros, realizando roadshows na Europa e Estados Unidos. O objetivo é criar uma aproximação para uma eventual retomada do IPO, que poderá ocorrer no Brasil ou fora, ou então para uma injeção privada de capital.
O diretor disse ter visto uma boa recepção dos investidores sobre a tese de investimentos da companhia, destacando que houve uma evolução considerável dos negócios desde 2020.
"Parte dos investidores com quem conversamos agora viram a companhia há dois anos, quando não tínhamos nem a dívida para os projetos, só 30 consultores de energia e vendido nada no varejo".
(Por Letícia Fucuchima)