Por Philip Blenkinsop e Martinne Geller
BRUXELAS/LONDRES (Reuters) - As duas maiores cervejarias do mundo concordaram nesta terça-feira em formar um grupo ainda maior, responsável por um terço da cerveja produzida no mundo. O acordo ocorreu depois que a SABMiller recebeu uma oferta melhorada da rival maior AB InBev avaliada em mais de 100 bilhões de dólares.
Se for concluída, a transação será a quinta maior fusão da história corporativa global e a maior aquisição já feita de uma companhia do Reino Unido.
O novo grupo vai unir as marcas Budweiser, Stella Artois e Corona, da AB InBev, com as marcas Peroni, Grolsch e Pilsner Urquell, da SABMiller. Para a AB InBev, a compra também adiciona cervejarias na América Latina, Ásia e abre novos mercados na África.
A AB InBev é parcialmente controlada pelo fundo de private equity 3G Capital, administrado por investidores brasileiros, e controla indiretamente a brasileira Ambev (SA:ABEV3), cujas ações despencavam nesta terça-feira.
Analistas do BTG Pactual (SA:BBTG11) afirmaram em nota a clientes que o papel da Ambev no acordo segue indefinido. "A empresa informou que a transação será financiada por uma combinação de próprios recursos internos financeiros e nova dívida com terceiros. Mas o anúncio da transação contém comentário que não descarta a participação da empresa no acordo", escreveram os analistas.
Procurada, a Ambev não comentou o assunto.
O negócio também representa uma dúvida sobre o destino de um acordo de produção e distribuição da SABMiller acertado em outubro do ano passado com o brasileiro Grupo Petrópolis, que produz a cerveja Itaipava. Ambos os grupos não comentaram sobre o assunto nesta terça-feira.
Enquanto isso, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), afirmou que ainda não foi notificado oficialmente do acordo entre AB InBev e SABMiller e que por isso não vai se pronunciar por ora. Atualmente, a Ambev controla cerca de 68 por cento do mercado brasileiro de cerveja, segundo dados do final do segundo trimestre.
SIM NA 5A TENTATIVA
Depois de rejeitar quatro propostas anteriores da AB InBev, a SABMiller aceitou a oferta melhorada de 44 libras por ação da empresa, com uma alternativa parcial que envolve dinheiro e ações criada apenas para atender os dois maiores acionistas da SABMiller e que prevê valor de 39,03 libras por ação.
Os dois maiores acionistas da SABMiller, que detêm em conjunto quase 41 por cento da companhia, são a fabricante de cigarros Altria, que tem fatia de 26,6 por cento, e a família colombiana Santo Domingo, que possui o restante.
A fatia da oferta de 44 libras por ação é 50 por cento mais alta que o preço da ação da SAB Miller em 14 de setembro, um dia antes de especulações sobre a proposta da InBev surgirem.
Combinada com a oferta em dinheiro a outros acionistas, o preço total que a AB InBev está oferecendo pagar pela SABMiller é equivalente a 68,5 bilhões de libras (104,2 bilhões de dólares) a preços atuais.
As ações da SABMiller fecharam em alta de mais de 9 por cento nesta terça-feira, enquanto os papeis da AB InBev avançaram 1,7 por cento.
A transação prevê uma taxa de 3 bilhões de dólares que a AB InBev terá que pagar à SABMiller se o acordo não puder ser concluído por causa de questões regulatórias significativas ou se os acionistas da AB InBev não apoiarem o negócio.
OBSTÁCULOS SIGNIFICATIVOS
O acordo entre as gigantes da cerveja deve gerar repercussões no restante da indústria, particularmente nos Estados Unidos, onde as duas empresas detém cerca de 70 por cento do mercado.
A Molson Coors é considerada por analistas como a compradora mais óbvia dos 58 por cento que a SABMiller detém em uma joint-venture nos EUA.
Além disso, analistas afirmam que o grupo combinado terá que vender ativos na China, onde a CR Snow, joint-venture da SABMiller com a China Resources, é líder de mercado.
Negócios na Europa também podem ir à venda, afirmaram os analistas, o que pode atrair o interesse das europeias Heineken e Carlsberg.
O analista Trevor Stirling, da Bernstein Research, calcula em 80 por cento as chances da transação ser concluída, com questões de defesa da concorrência sendo o principal risco.
(Com reportagem adicional de Leonardo Goy, em Brasília, e Alberto Alerigi Jr e Paula Arend Laier, em São Paulo)