Aço Brasil defende manutenção de termos comerciais acordados com EUA em 2018

Publicado 11.02.2025, 15:20
Atualizado 11.02.2025, 19:30
© Reuters. Operário em siderúrgica da ThyssenKrupp em Duisburg, na Alemanhan14/11/2022 REUTERS/Wolfgang Rattay

SÃO PAULO (Reuters) -Produtores de aço do Brasil defenderam nesta terça-feira a continuidade de um acordo comercial estabelecido em 2018 com os Estados Unidos que criou cotas de exportação de produtos siderúrgicos do país para os EUA, após o governo de Donald Trump ter anunciado uma sobretaxa de 25% a ser cobrada a partir do início de março.

"O Instituto Aço Brasil recebeu com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos... de estabelecer alíquota de importação do aço para 25%, independentemente da origem, derrubando, no caso do Brasil, acordo firmado no primeiro mandato do presidente Donald Trump, em 2018, para importação do aço brasileiro", afirmou a principal entidade do setor siderúrgico nacional, que reúne empresas como Gerdau (BVMF:GGBR4), Usiminas (BVMF:USIM5) e ArcelorMittal.

A entidade afirmou que tem confiança em uma abertura de diálogo entre Brasília e Washington para a manutenção do comércio de aço entre os dois países "nas bases acordadas em 2018".

Segundo o Aço Brasil, os EUA importaram no ano passado 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, das quais 3,4 milhões vieram do Brasil. Na avaliação da entidade, essas importações norte-americanas ocorreram porque os EUA não têm oferta suficiente de placas no mercado interno para laminação.

A cota a que o Brasil atualmente tem direito, e que o setor tenta flexibilizar desde a criação em 2018, é de 3,5 milhões de toneladas de produtos semiacabados (placas) e 687 mil toneladas de laminados, que não são sobretaxadas em 25%.

As siderúrgicas brasileiras vinham tentando flexibilizar esta cota para que ela fosse flexível, permitindo o envio de mais produtos aos EUA além dos limites rígidos, mas, nesse caso, incorrendo na tarifa de 25% sobre o excedente.

Segundo o Aço Brasil, as exportações brasileiras de aço para os EUA cumpriram as condições do acordo, "não ultrapassando, em momento algum, os volumes estabelecidos tanto para semiacabados como para produtos laminados".

Em 2024, as exportações siderúrgicas totais do Brasil somaram 9,6 milhões de toneladas, uma queda de 18% sobre 2023.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lamentou a decisão do governo norte-americano, afirmando que a medida atinge diretamente a indústria brasileira e seus possíveis impactos causam "enorme preocupação" ao país.

"A CNI está atenta à implementação das taxas e, junto ao governo brasileiro, buscará diálogo com os EUA na tentativa de reverter a decisão", afirmou a associação da indústria em comunicado à imprensa.

O presidente da CNI, Ricardo Alban, disse no documento que a medida é prejudicial tanto para a indústria brasileira quanto para a norte-americana. "Temos todo o interesse em manter a melhor relação comercial com os EUA... mas precisamos conciliar os interesses dos setores produtivos dos dois países."

A entidade destacou ainda que "o Brasil não representa uma ameaça comercial para os EUA", citando a balança comercial entre os países que, desde 2008, é favorável aos norte-americanos, ao contrário da situação em outros países diretamente mirados por Trump, como Canadá, China e México.

Na avaliação do presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, as tarifas de Trump prejudicam as laminadoras dos EUA uma vez que o país faz as importações justamente por não ter capacidade local de produção de aço bruto.

Loureiro citou como exemplo a siderúrgica em Calvart, no Estado norte-americano do Alabama e controlada por ArcelorMittal e Nippon Steel (TYO:5401). A usina tem capacidade para 5 milhões de toneladas anuais de laminados e trabalha com aço bruto importado principalmente da ArcelorMittal Tubarão (ES) e de unidade da empresa no México.

A CNI também notou que as exportações brasileiras, em especial no caso do aço, são complementares à cadeia produtiva existente nos EUA, e reforçou que os produtos exportados pelo Brasil não são concorrentes com a produção norte-americana.

A expectativa de Loureiro é que as exportações brasileiras para os EUA caiam se os termos atuais da medida de Trump não forem revistos devido ao fim da vantagem da cota sem tarifa e a competição com produtores globais, o que tende a achatar os preços no mercado internacional.

Enquanto isso, empresas como Usiminas e CSN (BVMF:CSNA3) -- que atualmente está com um alto-forno parado para manutenção -- tendem a se beneficiar com a possível queda nos preços das placas. "Elas vão encontrar um mercado com menos concorrência com os EUA e um preço até mais barato", disse Loureiro.

Para além das exportações, o setor siderúrgico brasileiro também defende há meses uma intensificação das medidas de proteção comercial do Brasil contra a China. A expectativa do setor é que o governo anuncie medidas antidumping ainda neste trimestre.

Nesse sentido, o Aço Brasil rebateu acusação de Trump de que o Brasil faz parte de triangulação no comércio de aço com a China, em que o país serviria de base de exportação para os EUA de produtos originários na China.

"Ao contrário do alegado na proclamação do governo norte-americano, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os EUA de produtos de aço oriundos de terceiros países", possibilidade também descartada como real por Loureiro, do Inda.

O Aço Brasil ainda citou que o comércio siderúrgico entre EUA e Brasil é superavitário para os norte-americanos. Segundo a entidade, considerando carvão, aço e máquinas e equipamentos, EUA e Brasil possuem um fluxo comercial de US$7,6 bilhões, sendo que os EUA são superavitários em US$3 bilhões.

(Por Alberto Alerigi Jr.; reportagem adicional de Lisandra ParaguassuEdição de Pedro Fonseca e Paula Arend Laier)

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