Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A produtora de etanol Atvos tornou-se nesta quarta-feira a primeira empresa do grupo Odebrecht a pedir recuperação judicial, após o embate com um investidor jogar por terra negociações com bancos para tentar evitar um embate na Justiça.
"A Atvos, segunda maior produtora de etanol do país, entrou hoje (29) com pedido de recuperação judicial na Justiça do Estado de São Paulo com o objetivo de preservar suas operações", afirmou a companhia em seu website.
O movimento confirmou o que havia sido publicado pela Reuters mais cedo, que o pedido de recuperação judicial seria pedido nesta semana, após a norte-americana Lone Star ter conseguido na Justiça uma ordem de bloqueio do caixa da Atvos no início da semana.
A decisão pegou de surpresa credores como Banco do Brasil (SA:BBAS3), Caixa Econômica Federal, BNDES, Bradesco (SA:BBDC4), Itaú Unibanco (SA:ITUB4) e Santander Brasil (SA:SANB11), a quem a Odebrecht vinha oferecendo o controle da Atvos como opção para um processo de reestruturação de dívida do conglomerado.
"Este processo é resultado da investida hostil de um fundo internacional, credor da Atvos, que por meio de processo judicial colocou em risco as operações da empresa", disse a Atvos, sem citar nomes.
Enquanto negociava com credores, a Odebrecht vinha tentando isolar a gestão financeira da Atvos, justamente para evitar que a eventual derrocada dela contaminasse o conglomerado, trabalho que vinha sendo coordenado por Ricardo Knoepfelmacher, também conhecido como Ricardo K, por meio da consultoria RK Partners.
Com outra empresa do grupo, a Ocyan (ex-Odebrecht Óleo e Gás), a solução encontrada foi uma recuperação extrajudicial, modelo em que um alongamento de dívida é pactuado com credores.
O processo da Atvos (ex-Odebrecht Agroindustrial) vinha evoluindo, mas foi atropelado pela movimentação da Lone Star, bloqueando o caixa da Atvos, que por sua vez não viu alternativa a não ser a recuperação judicial.
Ainda nesta quarta-feira, fontes bancárias minimizaram notícias de que a Atvos, com mais de 12 bilhões de reais em dívidas, se preparava para pedir recuperação judicial. A notícia foi vista inicialmente como um blefe, uma pressão da própria Odebrecht para tentar forçar um acordo.
Com o revés, o tom das conversas entre Odebrecht e bancos tende a piorar.
Outras empresas do grupo incluem a empreiteira OEC, a Odebrecht Latinvest e a petroquímica Braskem (SA:BRKM5).
A Atvos enfatizou no comunicado desta quarta-feira ainda sua expectativa de moer cerca de 27 milhões de toneladas de cana na safra 19/20, suficientes para produzir 2,1 bilhões de litros de etanol, 237 mil toneladas de açúcar VHP e gerar 2,9 mil GWh de energia elétrica, numa tentativa de mostrar que seu negócio segue firme.
Após o deferimento do pedido de recuperação pela Justiça, a empresa terá 60 dias para apresentar a primeira versão do plano de recuperação judicial.