SÃO PAULO (Reuters) - A companhia aérea Azul (BVMF:AZUL4) quer levantar capital, após fechar acordo com arrendadores para liquidar cerca de 3 bilhões de reais em obrigações, aliviando as preocupações do mercado sobre sua carga de dívida, afirmou o presidente-executivo da empresa, John Rodgerson, à Reuters nesta terça-feira.
"Nós tínhamos que resolver este problema primeiro, que já está resolvido, e agora nós podemos levantar capital", disse Rodgerson em entrevista. "Agora nós podemos olhar para frente e não olhar mais para trás."
A Azul quer agora captar cerca de 400 milhões de dólares, disse o executivo, com a possibilidade de usar a Azul Cargo para levantar dívida conversível no mercado.
A empresa, que domina a indústria brasileira de aviação junto com a Latam e a Gol (BVMF:GOLL4), também espera a liberação de recursos de uma linha de crédito aprovada pelo governo para apoiar companhias aéreas locais.
"Como nós falamos, nós íamos usar a nossa empresa Azul Cargo para levantar uma dívida, talvez uma dívida conversível no mercado, para nos fortalecer agora, sabendo que o dinheiro não vai para o 'lessor'", disse Rodgerson.
O executivo ressaltou que a empresa está em conversas "amigáveis" com bondholders, mas que há "várias pessoas" dispostas a emprestar dinheiro à Azul, expandindo as opções da companhia aérea enquanto a empresa analisa "vários tipos de dívidas" para uma possível transação.
"REMOVE PRESSÕES DE CURTO PRAZO"
A Azul anunciou na noite de segunda-feira acordo com arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos que envolve a troca de cerca de 3 bilhões de reais em obrigações de dívida por emissão de novas ações da empresa.
O acordo envolveu 92% "das obrigações de emissão de ação existentes", afirmou a Azul em fato relevante, que serão trocadas pela emissão única de até 100 milhões de novas ações preferenciais da companhia.
A ação da Azul encerrou na segunda-feira cotada a 5,75 reais o que implica que a emissão das ações sob o acordo, se fosse realizada na véspera, representaria um valor de 575 milhões de reais. Nesta terça-feira, os papéis da companhia saltavam cerca de 13%, perto de 6,5 reais cada.
O novo acerto com os credores, se concluído, vai substituir um acordo acertado pela Azul no ano passado que previa que os 3 bilhões de reais seriam pagos trimestralmente por meio da emissão de ações ao preço de 36 reais por papel a partir do terceiro trimestre deste ano até o final de 2027. Na época desse acordo, a ação da Azul valia cerca de 15 reais.
"Esses acordos representam uma parte significativa de um plano abrangente projetado para fortalecer a geração de caixa da Azul e melhorar sua estrutura de capital no futuro", afirmou a empresa no fato relevante.
A companhia aérea afirmou ainda que continua em negociações com os detentores dos 8% restantes das obrigações de emissão de ações.
Analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) afirmaram que a emissão das 100 milhões de ações representa uma diluição de cerca de 23% aos acionistas da empresa, com base na cotação de segunda-feira.
"O anúncio veio quase em linha com as expectativas sobre uma potencial diluição de 20% a 25%", afirmou Guilherme Mendes, analista do JPMorgan em relatório. "Damos boas vindas ao anúncio, pois ele remove as pressões de curto prazo sobre um potencial pedido de recuperação judicial da empresa", acrescentou Mendes, citando que o JPMorgan segue com recomendação "neutra" para a ação da Azul.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Gabriel Araujo)