Bolsa ainda atrai estrangeiro mesmo após trégua EUA-CHINA, com Selic menor no radar

Publicado 18.05.2025, 07:10
© Reuters Bolsa ainda atrai estrangeiro mesmo após trégua EUA-CHINA, com Selic menor no radar

O investidor estrangeiro continuou a aportar recursos na Bolsa brasileira mesmo após a trégua nas tarifas entre Estados Unidos e China, que renovou o apetite por ações norte-americanas. Segundo estrategistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a tendência é de que a demanda por ativos brasileiros continue aquecida, apoiada tanto em fatores domésticos quanto externos.

Para eles, a rotação nas carteiras globais de ações iniciada em abril, quando investidores começaram a buscar alternativas aos investimentos nos Estados Unidos, deve continuar por causa da incerteza ainda elevada em relação ao país. Além disso, a Bolsa brasileira segue descontada em termos históricos e em relação às de outros países, e a expectativa de uma Selic mais baixa à frente tende a atrair mais fluxo.

Na segunda-feira, 12, primeiro dia de reação do mercado à notícia de que China e EUA reduziriam tarifas temporariamente, houve entrada líquida de R$ 561,5 milhões em investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira.

Nos dias seguintes, o fluxo continuou favorável: foram R$ 1,8 bilhão na terça-feira, dia em que o Ibovespa renovou a máxima histórica, e R$ 873,1 milhões na quarta-feira, que é onde termina a série de dados mais recente da B3 (BVMF:B3SA3). Na terça-feira, inclusive, os estrangeiros fizeram mais aportes que os investidores institucionais (R$ 1,4 bilhão) na bolsa brasileira.

No acumulado do ano, o saldo de investimento estrangeiro na B3 está positivo em R$ 19,8 bilhões, sendo R$ 9,3 bilhões deste total apenas no mês de maio.

"O fluxo estrangeiro continuará vindo para o Brasil. Não seria loucura sonhar com uma entrada na faixa entre R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em 2025, pois já vimos uma entrada de até R$ 100 bilhões em 2022 e nos últimos três anos tivemos fluxo baixo", diz o responsável pela mesa de ações do BTG Pactual (BVMF:BPAC11), Jerson Zanlorenzi.

Ele ressalta que o aumento da incerteza nos EUA, com ruídos sobre a guerra comercial, é um dos fatores responsáveis por levar investidores a diversificarem posições em outros mercados.

A percepção é de que ficou mais arriscado para o investidor "entrar" nos Estados Unidos, pontua Marcelo Nantes, head de renda variável do ASA. "Há um ano, a confiança em investir em empresas americanas era muito grande. Hoje o prêmio de risco é maior por causa da volatilidade da incerteza devido às mudanças abruptas das políticas americanas", afirma.

Em conversas com investidores no exterior durante a Brazil Week em Nova York, Nantes percebeu que eles estão interessados no Brasil. "Muitos já estão perguntando sobre as eleições de 2026. Senti interesse, mas ninguém se movimentando ainda", afirma. Ele adverte que há um certo viés em sua amostra, pois os investidores com quem conversou são especializados em países emergentes e têm uma certa familiaridade com assuntos do Brasil.

Segundo o head de estratégia Brasil do Bradesco BBI, Pedro Grimaldi, "a diversificação geográfica nas carteiras globais veio para ficar, o que é positivo tanto para mercados desenvolvidos que não são os EUA quanto para emergentes, inclusive o Brasil".

Nos últimos cinco anos os investidores focaram nos EUA porque o mercado do país abriga empresas de tecnologia e inteligência artificial (IA), de modo que a Bolsa americana chegou a ocupar 70% das alocações em portfólios de gestores globais, em todos os mercados, no fim de 2024 e início de 2025, afirma Grimaldi.

Mas o cenário mudou a partir de abril, e "independentemente de ter acordo entre EUA e China as pessoas perceberam que estavam muito concentradas na Bolsa americana e precisavam de diversificação", complementa.

Zanlorenzi, do BTG, avalia que há um otimismo internacional principalmente com mercados emergentes por conta do preço das ações, que "ficaram muito descontados. Quase tudo que é ex-EUA ficou para trás", diz.

Do ponto de vista do mercado de ações global, o Brasil e a América Latina como um todo são alguns dos poucos mercados que negociam com desconto relevante nos múltiplos em relação às médias históricas, enquanto ações globais e o S&P 500 negociam com prêmio próximo a 10%, calcula o estrategista-chefe do Itaú BBA, Daniel Gewher.

O valuation das empresas brasileiras está em níveis menores que a média, e elas apresentam resultados positivos, o que deve estimular novas altas do Ibovespa, segundo o sócio da One Investimentos, Pedro Moreira.

Além disso, a expectativa de que o Banco Central (BC) terá espaço para reduzir o juro básico no fim deste ano ou início de 2026 deve trazer ainda mais investimentos externos ao mercado brasileiro, afirmam os profissionais.

"O fluxo mais positivo deve ser engatilhado com a maior clareza de corte de juros. Acho que há consenso de que deve ser em um momento próximo do fim deste ano. Quando o mercado tiver mais clareza sobre isso, o investidor deve olhar ainda mais para a Bolsa", afirma Zanlorenzi, do BTG.

Para Nantes, do ASA, o ingresso de recursos estrangeiros não está uma "maravilha", mas o Brasil começou a entrar no radar do investidor estrangeiro. "Você percebe um interesse genuíno no momento em que o dólar está enfraquecendo, a bolsa americana ficando menos atrativa", afirma.

Neste cenário, segundo o head de renda de renda variável do ASA, esse novo fluxo não irá para os Estados Unidos. "Mercados emergentes são naturalmente uma área de interesse. E o Brasil chama a atenção principalmente por causa da perspectiva de início de corte de juros", estima.

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.