Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A Bovespa fechou em queda pelo quarto pregão seguido nesta quarta-feira e com o seu principal índice abaixo dos 46 mil pontos, tendo como pano de fundo o cenário externo desfavorável e persistentes preocupações com a situação fiscal do país.
O Ibovespa caiu 2 por cento, a 45.340 pontos, menor patamar em quase um mês. Apenas nos últimas quatro pregões, o índice de referência do mercado acumulou queda de 6,6 por cento. O giro financeiro somou 7 bilhões de reais.
Wall Street também fechou no vermelho, embora longe das mínimas do dia, com dados industriais fracos da China e Estados Unidos, que afetaram mercados emergentes em geral, com o índice MSCI caindo mais de 2 por cento.
O declínio das commodities foi mais um fator de pressão para o Ibovespa, com o índice da Thomson Reuters para tais produtos revertendo os ganhos da primeira etapa do dia e recuando 1,25 por cento.
No front doméstico, o Congresso Nacional manteve, em sessão que se estendeu pela madrugada desta quarta-feira, boa parte dos vetos presidenciais a medidas com potencial impacto nas contas públicas, mas adiou dois dos temas mais polêmicos, entre eles reajuste para o Judiciário.
O gestor Eduardo Roche, da Canepa Asset Management, disse que permanecem os temores com a situação fiscal e o risco de novo rebaixamento da nota de crédito soberana. "Se os vetos fossem derrubados seria o caos, mas a manutenção não muda o panorama."
As expectativas acerca da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que recria a CPMF e da reforma ministerial, bem como a missão da Fitch Ratings no país, também seguiram endossando cautela no mercado brasileiro.
Para a equipe de estratégia da Itaú (SA:ITSA4) Corretora, as ações não estão baratas como parecem e é muito cedo para comprar papéis brasileiros. No ano, o Ibovespa acumula queda de 9,33 por cento em reais e de 42 por cento em dólar.
Em relatório a clientes, o estrategista da corretora Lucas Tambellini disse discordar do senso comum de que revisões de ratings para cima ou para baixo criam oportunidades de compra ou venda de ações, por serem considerados indicadores defasados.
Para ele, a Standard & Poor's, que retirou o grau de investimento do Brasil na segunda semana de setembro, "está, na verdade, à frente do que está por vir".
DESTAQUES
=ITAÚ UNIBANCO e BRADESCO caíram 3,97 e 3,39 por cento, respectivamente, respondendo pela principal pressão negativa no Ibovespa, com dados de crédito no mercado brasileiro também no radar dos investidores. "Nossa visão é negativa em relação aos bancos privados, dado que o aumento de 20 pontos básicos nas provisões sobre carteira indica que mais despesas por provisões serão feitas no terceiro trimestre", disse o Credit Suisse em nota a clientes comentando os números.
=PETROBRAS reverteu os ganhos da manhã e encerrou com as preferenciais em queda de 2,15 por cento, renovando mínima desde junho de 2004, conforme os preços do petróleo no exterior passaram a cair e o dólar avançou ante o real, encostando em 4,15 reais. A estatal também informou no final da manhã que um incêndio paralisou nesta quarta-feira as atividades no terminal portuário da cidade de Madre de Deus, na região metropolitana de Salvador (BA).
=VALE encerrou o dia com recuo de 2,80 por cento nas preferenciais de classe A, diante do noticiário chinês desfavorável, com dados fracos da atividade industrial e declínio dos preços à vista do minério de ferro na China.
=CSN desabou 20,5 por cento, em dia de realização de lucros no setor siderúrgico no Ibovespa. Até a véspera, o papel acumulava em setembro alta de mais de 45 por cento. USIMINAS (SA:USIM5), que contabilizava no mês até terça-feira ganho superior a 30 por cento, fechou em baixa de 15,35 por cento. GERDAU (SA:GGBR4), que somava uma valorização de 17 por cento, encerrou com declínio de 3,59 por cento.
=JBS fechou em alta de 3,72 por cento, amparada na forte alta do dólar ante o real que também beneficiou BRASKEM, que subiu 3,82 por cento, e as fabricantes de celulose FIBRIA e SUZANO, com ganhos respectivos de 1,85 e 0,78 por cento.
=KROTON EDUCACIONAL subiu 1,83 por cento, em dia de alta do setor de educação como um todo, recuperando-se de fortes perdas na véspera em meio à notícia sobre possível CPI do programa de financiamento ao ensino do governo federal, o Fies.