Por Duncan Miriri
NAIRÓBI (Reuters) - Uma iniciativa para aumentar a produção de créditos de carbono da África em 19 vezes até 2030 atraiu centenas de milhões de dólares em promessas nesta segunda-feira, quando o presidente do Quênia, William Ruto, abriu a primeira cúpula climática do continente.
Em um dos acordos mais esperados da cúpula, os Emirados Árabes Unidos (EAU) se comprometeram a comprar 450 milhões de dólares em créditos de carbono da Iniciativa de Mercados de Carbono da África (ACMI, na sigla em inglês).
"Devemos ver no crescimento verde não apenas um imperativo climático, mas também uma fonte de oportunidades econômicas de vários bilhões de dólares que a África e o mundo estão preparados para capitalizar", disse Ruto.
Vários palestrantes da cúpula, no entanto, disseram que viram pouco progresso na aceleração do financiamento climático.
"Não houve nenhum sucesso para um país africano na atração de financiamento climático", disse Bogolo Kenewendo, consultora climática das Nações Unidas e ex-ministra do comércio de Botsuana.
Ela disse que a África ainda está lutando para atrair capital, apesar das melhorias significativas no ambiente de investimento em muitos países, em grande parte devido à percepção de que o continente é muito arriscado.
Espera-se que mais de 20 presidentes e chefes de governo participem da cúpula a partir de terça-feira. Eles planejam emitir uma declaração descrevendo a posição da África antes de uma conferência climática da ONU no final deste mês e da cúpula da COP28 nos Emirados Árabes Unidos no final de novembro.
INVESTIMENTOS
Os Emirados Árabes Unidos, grandes produtores de petróleo, têm se posicionado como líderes em financiamento climático na África. A empresa emiradense Blue Carbon, está em discussões com a Libéria e a Tanzânia para estabelecer o comércio de créditos de carbono, supervisionando a conservação de seus recursos naturais.
O compromisso de 450 milhões de dólares foi anunciado por Hassan Ghazali, um funcionário dos Emirados Árabes Unidos responsável por investimentos climáticos.
A Climate Asset Management -- uma joint venture entre o HSBC Asset Management e a Pollination, uma empresa especializada em consultoria e investimentos em mudanças climáticas - também anunciou um investimento de 200 milhões em projetos que produzirão créditos ACMI.
Também nesta segunda-feira, o Rawbank, um dos principais bancos da República Democrática do Congo, e o comerciante global de energia Vitol anunciaram um investimento de 20 milhões em energia renovável, cozinha limpa e conservação florestal no Congo.
O Reino Unido disse que projetos apoiados no valor de 62 milhões serão anunciados durante a cúpula. A Alemanha anunciou uma troca de dívida de 60 milhões de euros com o Quênia para liberar dinheiro para energia renovável e agricultura sustentável.
Muitos ativistas africanos se opuseram à abordagem da cúpula em relação ao financiamento climático, e cerca de 500 pessoas marcharam no centro de Nairóbi na segunda-feira para protestar.
Eles afirmam que os créditos de carbono são um pretexto para a continuidade da poluição por parte dos países mais ricos e das corporações, que deveriam, em vez disso, pagar sua "dívida climática" por meio de compensação direta e alívio da dívida.
Sultan Al Jaber, presidente da COP28, disse que os mercados de carbono são uma ferramenta importante para mobilizar os trilhões de dólares necessários para enfrentar as mudanças climáticas, mas reconheceu que eles enfrentam uma "crise de confiança".
"A falta de um padrão acordado em comum está minando sua integridade e diminuindo seu valor", disse ele em um discurso.
(Reportagem adicional de Jefferson Kahinju)