Por Sabrina Valle
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal executou mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira como parte de uma investigação de corrupção no mercado global de combustíveis marítimos, após três executivos ligados à Cockett Marine, de Dubai, admitirem o pagamento de propinas a um funcionário da Petrobras (SA:PETR4), mostraram documentos judiciais, no mais recente desenrolar da operação Lava Jato.
Documentos tornados públicos nesta quinta incluem mandados de busca e apreensão contra um ex-executivo da Petrobras, aprovados com base nas delações de três executivos ligados à Cockett Marine Oil --cuja propriedade está dividida em 50% entre a Vitol, maior trading de commodities do mundo, e a companhia de logísticas Grindrod.
Os executivos disseram a procuradores que pagaram 2,2 milhões de dólares em dinheiro a um funcionário da Petrobras entre 2009 e 2015 para que fossem favorecidos em centenas de contratos de bunkers e diesel marítimo com a empresa brasileira, de acordo com registros judiciais.
"Os funcionários associados a irregularidades deixaram a empresa", disse a Vitol em nota enviada por email.
A trading acrescentou que não tolera corrupção ou práticas comerciais ilícitas, e que exige que as empresas nas quais investe cumpram essa política e implementem os processos e controles apropriados.
A Cockett nomeou uma nova equipe de liderança e implementou uma nova e abrangente estrutura de "compliance", disse a Vitol.
A Cockett e a Grindrod não responderam de imediato a emails e ligações com pedidos de comentários.
A confissão de executivos ligados a uma nova trading de combustíveis no caso é mais um passo importante em um ramo da Lava Jato que surgiu em 2018, quando investigadores brasileiros começaram a sondar negócios obscuros envolvendo alguns dos maiores operadores de commodities do mundo.
O depoimento de executivos ligados à Cockett ocorreu após acordos semelhantes de colaboração premiada com outros traders que admitiram o pagamento de propina a funcionários da Petrobras quando empregados pela Vitol e pela Trafigura, segundo os documentos judiciais.
Os executivos da trading concordaram em colaborar com as investigações em troca de penas reduzidas no Brasil. Em comentários anteriores sobre o caso, a Trafigura negou irregularidades. Nenhuma das três empresas participou dos acordos.
Em outubro, um ex-executivo da Vitol admitiu ter subornado funcionários da Petrobras para obter contratos, fornecendo gravações secretas para sustentar seu testemunho.
O juiz Luiz Antonio Bonat tornou públicos os novos documentos nesta quinta-feira, depois de autorizar a Polícia Federal a executar mandados de busca e apreensão contra uma pessoa que trabalhava na Petrobras no período investigado.
A Petrobras afirmou via email que é vítima dos indivíduos envolvidos e reconhecida pelos procuradores como tal. A empresa disse que está cooperando com as autoridades.
A Cockett Marine Oil foi fundada no Reino Unido em 1979 como uma empresa independente especializada no fornecimento de serviços de combustível marítimo para a indústria de navegação, de acordo com o website da companhia.
A empresa, que reportou receita anual de 2 bilhões de dólares, pertence à Vitol e à Grindrod desde 2012, com escritórios nos Estados Unidos, Brasil, África do Sul, Holanda, Turquia, Índia, China, Cingapura e Austrália.