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Com risco fiscal doméstico, Ibovespa cai 3,28%, a 110.672,76 pontos

Publicado 19.10.2021, 14:54
© Reuters.  Com risco fiscal doméstico, Ibovespa cai 3,28%, a 110.672,76 pontos
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O Ibovespa teve uma terça-feira que se assemelhou ao 8 de setembro, em que cedeu 3,78% no que foi a pior perda do índice desde 8 de março (-3,98%), quando o mercado começava a colocar no preço a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à política, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Da ameaça de ruptura institucional nos discursos de 7 de setembro à solução para se tornar viável eleitoralmente em 2022 contra Lula, o caminho antevisto pelo presidente Jair Bolsonaro e pela ala política do governo parece ser a flexibilização do limite de gastos, com solução "extra teto" para acomodar parte do volume de recursos destinados ao Auxílio Brasil.

Contudo, o anúncio oficial do novo programa social, que havia sido programado para as 17 horas desta terça-feira, acabou sendo cancelado de última hora sem maiores explicações, retirando parte da pressão sobre os ativos brasileiros vista desde cedo.

Com dólar a R$ 5,61 na máxima do dia e pressão na curva de juros, o Ibovespa nem teve como mirar nesta terça-feira o céu azul do exterior, com o S&P 500 se reaproximando aos poucos de máxima histórica, embalado pela temporada positiva de resultados trimestrais nos Estados Unidos.

Aqui, pressionado pela aguda percepção de risco fiscal, que pode colocar em questão a lealdade de parte da equipe econômica à agenda de reeleição, com rumores sobre possíveis baixas no quadro técnico, a referência da B3 (SA:B3SA3) chegou a mostrar perda de 3,92% no pior momento da tarde, aos 109.947,21 pontos, mas rapidamente recuperou o nível de 110 mil e mesmo o de 111 mil pontos ao se confirmar o cancelamento do anúncio.

Ao final, o Ibovespa colheu perda de 3,28%, aos 110.672,76 pontos, saindo de máxima, na abertura, a 114.422,23 pontos, com variação de 4.475,82 pontos entre o pico e o piso do dia. Na semana, o índice tem perda de 3,47%, anulando os ganhos que haviam se acumulado ao longo de outubro, agora transformados em perda de 0,28% no mês, estendendo a série negativa iniciada ainda em julho.

Desde o intervalo entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, o Ibovespa não acumula quatro perdas mensais consecutivas. No ano, as perdas voltam agora para 7,01%, com o Ibovespa no encerramento desta terça no menor nível desde 7 de outubro (110.585,43 pontos). O giro desta terça-feira foi de R$ 36,8 bilhões.

"Brasília parece ter encontrado a chave do cofre. O mercado está preocupado com a falta de disciplina para manter o teto ou, se realmente passar disso, que as despesas 'extra teto' com o auxílio não fiquem muito além dos R$ 30 bilhões indicados o correspondente a R$ 100 de cada R$ 400 a serem concedidos aos beneficiários em 2022", diz Scott Hodgson, gestor de renda variável na Galapagos Capital, acrescentando que o valor de R$ 400 ressurgiu sem aviso prévio, como uma "fênix renascida das cinzas". "A conjuntura é desafiadora, com inflação em alta, real fraco, juros subindo, e um ano de 2022 que será complicado, com eleição", diz o gestor, observando que o interesse estrangeiro por Brasil mostrava alguma recuperação nas últimas semanas, e agora deve voltar a indicar cautela.

"A cena política pesou forte no mercado brasileiro: juros futuros disparando, com a parte mais curta (da curva) projetando Selic próxima da faixa de 10% no ano que vem - sem falar do dólar retornando para R$ 5,60", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Crescente risco fiscal, fraco crescimento e juros altos" são uma combinação "nada atraente", que "justifica a forte queda do mercado", acrescenta o analista.

Entre as ações de maior liquidez, mesmo com o desempenho positivo dos preços da commodity na sessão, Petrobras (SA:PETR4) puxou a fila de perdas, com a PN em queda de 4,89% e a ON (SA:PETR3), de 4,37% no fechamento, enquanto Vale ON (SA:VALE3) mostrava perda de 1,15%, as siderúrgicas, de até 3,05% (Usiminas (SA:USIM5) PNA), e as de grandes bancos chegavam a 4,91% (BB (SA:BBAS3) ON), refletindo a aversão ao risco fiscal que se impôs desde cedo na sessão. Apenas uma ação da carteira teórica conseguiu se desgarrar do mal-estar geral: Getnet (+17,88%), que havia estreado nesta terça tanto na B3 como no Ibovespa. Na ponta negativa do índice, Azul (SA:AZUL4) (-10,36%), Cielo (SA:CIEL3) (-9,20%) e Méliuz (SA:CASH3) (-8,47%).

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