A escalada do dólar nas últimas semanas tem ampliado a defasagem do preço dos combustíveis Petrobras (BVMF:PETR4) na comparação com o mercado internacional. O cenário resulta em perdas econômicas para a estatal, mas também tem afetado cada vez mais os agentes privados, como refinarias e importadores, que têm a operação inviabilizada por causa do preço descolado do resto mundo.
Nesta 3ª feira (2.jul.2024), a diferença nos valores chegou a 19% na comparação com o PPI (Preço de Paridade de Importação), que considera a cotação do petróleo e o câmbio. No caso do diesel, há um gap de 17%. Os dados são da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
Em 2024, o dólar já subiu 16,73%. Nesta 3ª feira, fechou a R$ 5,67, com alta de 0,22%. É o maior valor para a moeda dos Estados Unidos desde 10 de janeiro de 2022. A moda tem se valorizado sobre o real depois de sucessivas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que causaram incerteza no mercado quanto ao cenário fiscal brasileiro.
Por outro lado, o petróleo tem oscilado pouco. Nas duas últimas semanas, a cotação do brent ficado praticamente estável de US$ 83 a US$ 86. No entanto, na conversão, o barril da commodity que antes custava R$ 440 agora está em R$ 487.
REFINARIAS PRIVADAS
Para a Refina Brasil, associação que representa as refinarias privadas no país, a situação beira o insustentável. Como a Petrobras tem a maior fatia do mercado, os produtores menores precisam seguir os preços da estatal para conseguirem competir. Com isso, achatam suas margens de lucro e chegam a registrar prejuízo.
Ao Poder360, Evaristo Pinheiro, presidente da Refina Brasil, diz que o cenário torna a operação das refinarias privadas inviável. Algumas têm reduzido a produção ou tentado exportar parte dos derivados para ter melhores margens. Também buscam adquirir petróleo mais barato do exterior e realizado melhorias operacionais, o que nem de longe sana o problema.
“É uma situação muito difícil. Quando o preço se descola quase 20%, pode fazer o que quiser que não consegue cobrir essa diferença. Mas nós vamos continuar lutando pela sobrevivência”, afirma o executivo, que explica que o cenário dá uma sinalização ruim para o investidor.
Segundo Pinheiro, a situação expõe os erros da atual política de preços da Petrobras, a qual chama de um subsídio cruzado. Para o executivo, o modelo causou um “perde-perde” para o Brasil, incluindo para estatal, governo (seu maior acionista), mercado e também consumidores.
“As concorrentes perdem, o etanol perde, mas também perdem os acionistas da Petrobras. E o governo, que está catando os centavos atrás de aumento de arrecadação. O subsídio para a gasolina e diesel via Petrobras em muito pouco impactaria o índice de inflação se fosse praticado o PPI [Preço de Paridade de Importação]. E ainda tentam mitigar isso aumentando mais que o necessário o óleo combustível e o QAV [combustível de aviação]“, diz.
O presidente da Refina Brasil ainda afirma: “A disparidade afasta o investimento privado, inclusive para suprir o nosso deficit de armazenagem e refino. Não tem segurança jurídica. Então o país precisa discutir essa política de preços”.
PETROBRAS SEGURA PREÇOS
A Petrobras mudou sua política de preços em maio de 2023 para deixar de se guiar pelo PPI. Segundo estimativas da Refina Brasil, a empresa já deixou de faturar R$ 10 bilhões com os valores praticados desde então. Em 2024, por exemplo, a petroleira ainda não fez nenhum reajuste nos combustíveis.
O último reajuste da Petrobras foi há mais de 3 meses, em dezembro de 2023, quando reduziu o preço do diesel em R$ 0,30 por litro para as distribuidoras e o valor passou para R$ 3,48. No caso da gasolina, a última mudança foi em 21 de outubro, quando houve redução de R$ 0,12 por litro.
Embora a Petrobras tenha abandonado o PPI como política de precificação, passando a dar mais peso aos custos internos, a cotação do petróleo e o câmbio ainda têm influência sobre os preços. Isso porque 25% do diesel consumido no Brasil é importado, assim como 15% da gasolina. Essa compra no exterior é feita pelo preço do PPI.
Como os preços praticados no mercado interno inviabilizam importadores privados de atuarem, a própria Petrobras precisa aumentar suas importações para suprir a demanda nacional. Ou seja, a defasagem também acarreta em custos para a companhia.
O PPI foi adotado como política de preços da Petrobras na gestão Michel Temer (MDB) e vigorou durante todo o governo Jair Bolsonaro (PL). A metodologia trazia flutuações constantes aos preços internos, repassando as variações do dólar e do petróleo.
Quando foi eleito, Lula obrou um “abrasileiramento” da política de preços como forma de reduzir os valores. Com o novo método, quando o barril de petróleo tem altas expressivas, a Petrobras não repassa os aumentos imediatamente, provocando as defasagens.