Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A italiana Enel (BIT:ENEI) anunciou nesta quarta-feita que decidiu suspender temporariamente a análise e prospecção para potencial venda de sua distribuidora de energia elétrica no Ceará, a Coelce (BVMF:COCE5).
A companhia havia divulgado no fim do ano passado um plano de alienação de ativos que envolvia o desinvestimento da concessionária cearense, em um movimento para concentrar esforços em distribuição nas áreas metropolitanas de São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ao comentar nesta quarta-feira o novo plano estratégico da Enel até 2026, o presidente-executivo da Enel, Flavio Cattaneo, disse que o processo foi colocado em suspensão para aguardar uma decisão do governo sobre a renovação da concessão.
"No momento, ainda está em vigor, mas teremos que ver como as discussões prosseguem, se vamos aliená-la", disse o executivo a jornalistas.
Com uma base comercial de 4,38 milhões de unidades consumidoras atendidas, a Enel Ceará é uma das distribuidoras de energia com contratos vencendo nos próximos anos e que poderá renová-los sob novas regras definidas pelo Ministério de Minas e Energia e que estão em análise pelo Tribunal de Contas da União.
O processo para definição das regras para renovação das concessões está em etapa final e, segundo as distribuidoras, avança normalmente, apesar de ruídos surgidos após o apagão de larga escala ocorrido em São Paulo após fortes chuvas no início deste mês.
DIFICULDADES EM SP E RJ
O diretor da italiana Enel para negócios no restante do mundo, Alberto De Paoli, comentou nesta quarta-feira os apagões causados por eventos climáticos extremos que deixaram sem luz, por dias, milhões de clientes das concessionárias do grupo em São Paulo e no Rio de Janeiro.
"Fizemos o impossível, mobilizamos nossas equipes, estabelecemos uma espécie de interdependência entre nossas redes em busca de ajuda. No entanto, como foi dito, precisamos lembrar que isso é resultado das mudanças climáticas e novas necessidades estão surgindo, exigindo a busca por novas soluções", afirmou o executivo.
A Enel São Paulo, segunda maior distribuidora de energia do país, que atende a capital paulista e região metropolitana, sofreu fortes críticas pela demora para restabelecer a energia aos clientes no apagão do início de novembro. Segundo a empresa, os trabalhos foram dificultados pela grande quantidade de árvores que caíram sobre a rede elétrica.
A Prefeitura de São Paulo chegou a solicitar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o cancelamento do contrato da distribuidora, mas advogados entendem que o caso não justifica a princípio um processo de caducidade da concessão.
Já no Rio de Janeiro, os serviços da concessionária foram afetados por fortes chuvas e ventania no sábado passado, com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) tendo ajuízado uma ação na terça-feira pedindo o restabelecimento imediato da luz a todos os consumidores de Niterói, sob pena de multa.
Assim como a fluminense Light (BVMF:LIGT3), a empresa da Enel enfrenta dificuldades operacionais em áreas dominadas por milícias e traficantes, sobretudo com índices altos de perdas não técnicas de energia, popularmente conhecidos como "gatos". Na baixa tensão, as perdas chegam a 30%.
De Paoli disse que a Enel está disposta a "fazer sua parte" para evitar que novos casos como esses ocorram, tanto buscando protocolos de gerenciamento de crises mais avançados, quanto discutindo planos de investimento que contribuam para uma maior resiliência das redes.
(Por Letícia Fucuchima em São Paulo e Francesca Landini em Milão)