Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A norte-americana AES segue em busca de aquisições de projetos de geração renovável no Brasil mesmo após fechar duas compras de ativos no segmento neste ano, disse à Reuters o presidente da companhia no país, Julian Nebreda.
Ele disse que a unidade de geração do grupo, AES Tietê (SA:TIET4), tem avaliado oportunidades e mantido negociações por ativos, além de trabalhar no desenvolvimento de novos projetos a partir do zero, para serem inscritos nos próximos leilões do governo para a contratação de novas usinas.
Os movimentos fazem parte da estratégia da AES Tietê de chegar a até 2020 com 50 por cento de sua geração de caixa proveniente de ativos não hidráulicos e com contratos de longo prazo.
"Estamos trabalhando. Não quero criar expectativas desnecessárias, mas há conversações avançadas... acho que, após este primeiro ano de execução dessa nossa estratégia, estamos muito confiantes de que iremos alcançar nossa meta", disse Nebreda.
Com um parque hidrelétrico de cerca de 2,5 gigawatts, a AES Tietê já fechou neste ano a compra de um complexo eólico de 386 megawatts e de um projeto de usina solar com 91 megawatts-pico.
Nebreda não quis comentar mais detalhes sobre os próximos negócios no radar da companhia, mas disse que pretende avaliar ativos renováveis, como parques eólicos e usinas solares.
Em paralelo, a AES também quer sair na frente com suas operações de armazenamento de energia no Brasil, após implementar projetos de baterias em mercados como Estados Unidos, Holanda, Chile e outros.
A companhia estima que o mercado para projetos de armazenamento no Brasil pode partir do zero para uma capacidade de cerca de 300 megawatts nos próximos cinco anos.
"Nós queremos uma boa porção desse mercado", disse Nebreda. "Acho que temos algumas vantagens. Uma é que somos operadores de ativos elétricos, e nossos concorrentes não. Temos nossa própria tecnologia, e temos experiência, estamos trabalhando com isso em vários países."
O executivo destacou que as baterias podem servir como reserva para a geração de fontes intermitentes, como as usinas eólicas, ou outras funções, como levar energia a regiões distantes e reduzir custos em operações de transmissão e distribuição.
ELETROPAULO
A AES Brasil também está animada com a evolução de um plano estratégico traçado para recuperar o valor de sua distribuidora de eletricidade AES Eletropaulo, responsável pelo fornecimento na região metropolitana de São Paulo, região de maior demanda no país.
A companhia teve aprovada por seus acionistas nesta semana a migração para o segmento de listagem Novo Mercado da B3, o que segundo Nebreda melhora a governança e facilita o acesso da companhia à captação de recursos no mercado, embora nenhum movimento nesse sentido esteja programado no momento.
No lado operacional, a Eletropaulo tem investido para reduzir a frequência e duração das falhas no fornecimento de eletricidade. Em um ano, a companhia reduziu em 33 por cendo a duração média das interruções nos últimos 12 meses (DEC), enquanto a frequência dos incidentes (FEC) caiu 5 por cento no período.
Mesmo com a melhora, os indicadores de desempenho continuam abaixo dos níveis exigidos pelo regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas a Eletropaulo acredita que isso está perto de mudar.
"Estamos indo muito bem, melhorando a cada dia. Achamos que vamos alcançar a meta regulatória em 2018", apontou Nebreda.
Além das melhorias de governança e na operação, a estratégia da AES para a Eletropaulo passa também pela solução de problemas regulatórios e jurídicos, como uma dívida de quase 2 bilhões de reais que a Eletrobras (SA:ELET3) alega ter a receber da empresa.
A Eletropaulo questiona o débito, que vem de 1989, quando a empresa ainda era estatal, mas o assunto está em uma longa discussão judicial.
"No vetor de redução de riscos da companhia, estamos vendo esses litígios, os assuntos regulatórios, e tentando reduzir os riscos... mas não há novidades que possamos falar agora", disse.
As ações preferenciais da AES Eletropaulo acumulam alta de mais de 35 por cento neste ano, negociadas a cerca de 15 reais nesta sexta-feira.
Os papéis foram impulsionados em parte por uma expectativa de que a Eletropaulo possa ser vendida ou alvo de aquisição num futuro próximo, o que a AES nega até o momento.
Segundo Nebreda, o desempenho dos papéis é sinal de que as ações da AES para reestruturar a Eletropaulo estão tendo resultado. "Isso mostra que o mercado vê valor em nosso plano para a companhia", disse.