Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A demanda de empresas nacionais por consultoria senior na busca por investidores estratégicos, que não tem sido atendida pelos maiores bancos, está fazendo o Brasil seguir a tendência global de grandes fusões lideradas por boutiques especializadas, disse uma executiva da A:10 Investimentos.
Aqui, esse movimento está sendo fermentado por um mercado de fusões ainda relativamente vigoroso, mesmo com o fraco ritmo da economia, o que tem levado as grandes grifes financeiras a concentrar seus principais executivos nas operações de maior vulto, disse à Reuters Ana Cabral-Gardner, que ajudou a fundar a A:10 há 18 meses, após mais de 20 anos como executiva em bancos como Barclays, Goldman Sachs e Credit Suisse.
"Num grande banco de investimento, as empresas que atendemos em geral não seriam acompanhadas pelos executivos principais", disse ela.
Criada sob medida para atender empresas de consumo e do ramo farmacêutico, a A:10 se vale dos contatos formados ao longo de décadas pelos sócios, todos egressos dos diferentes elos da cadeia de uma fusão.
Numa ponta estão Hugo Bethlem, ex-Grupo Pão de Açúcar e Carrefour; Luis Schiriak, ex- Votorantim, Claro, C&A e Euroforma; e Luiz Kaufmann, ex-Kroton, Medial e Aracruz. A bagagem de investidor estratégico tem Marcelo Paiva, ex-gestor do fundo da família Mittal e do Millennium Fund. E Maria Helena Pettersson foi ex-auditora independente na EY.
A receita tem dado frutos. Nos últimos 12 meses, a A:10 assessorou a venda da rede de farmácias Onofre para a norte-americana CVS Caremark, o fechamento de capital do Bob's e a venda da empresa de cosméticos Niele para a francesa L'Oréal, entre outras.
Com isso, em 2014 até junho, a consultoria ficou em sexto no ranking da Anbima de assessores financeiros para fusões, com 11,4 bilhões de reais, superando nomes como Morgan Stanley, BofA Merrill Lynch, Goldman Sachs e Citi.
E a resiliência do mercado, mesmo com a economia brasileira patinando, parece justificar a tese de que as muitas empresas estão preterindo bancos em favor das boutiques. De janeiro a setembro, o volume financeiro das transações anunciadas no Brasil subiu 46 por cento, para 50,24 bilhões de dólares, segundo dados da Thomson Reuters.
"Com a queda recente dos preços dos ativos, o mercado está propício para mais operações acontecerem", disse Ana Cabral.
A receita de apostar nos relacionamentos de um time enxuto, mas senior, estende uma tendência dos últimos anos. Na Europa, boutiques de fusões assumiram 32 por cento de participação no setor no começo do ano, ante 6 por cento no mesmo período de 2013. A fusão de 60 bilhões de dólares das cimenteiras Holcim e Lafarge foi liderada pela Zaoui & Co.
As chamadas boutiques também participaram de três quartos das 20 maiores fusões nos Estados Unidos em 2013. No Brasil, desde 2009 pelo menos 5 empresas independentes ficaram entre as maiores no ranking de assessores em fusões.
CAMINHO PRÓPRIO
Para evitar repetir o caminho de outras boutiques, que começaram especializadas, mas depois abriram o leque de atuação para gestão de ativos de terceiros, a A:10 vai se manter apenas em fusões, garante a executiva.
"Não queremos ser um mini banco de investimentos", disse a executiva.
Mas a consultoria está criando um braço para investir em empresas de menor porte, uma espécie de private equity. O objetivo é comprar participação em empresas com faturamento anual de até 300 milhões de reais, também na área de consumo e farmacêutico.
Serão usados recursos próprios dos sócios, de family offices e de outros investidores institucionais, disse ela, acrescentando que a ideia é fazer não mais do que dois ou três investimentos por ano.
"É um mercado com boas oportunidades, mas mal atendido", disse ela.