Investing.com - O ensaio de reequilíbrio dos três Poderes da República a partir do café-da-manhã entre lideranças de cada um nesta terça-feira em Brasília trouxe um princípio de retomada do apetite ao risco do investidor brasileiro. Sucessivas notícias vindas do Planalto Central deixou as incertezas do exterior de lado para que o Ibovespa chegasse, no meio da sessão, a anular as perdas do mês.
O principal índice acionário brasileiro subiu 1,61% a 96.392 pontos, acima dos 96,3 mil pontos em que iniciou o mês. Foi a primeira vez em que o índice encerrou no azul no acumulado do mês. O dólar também acompanhou o ensaio do otimismo e caiu após a alta na sessão anterior. A moeda americana teve uma baixa de 0,27% a R$ 4,0242.
O Ibovespa retorna ao patamar anterior ao recrudescimento da guerra comercial entre EUA e China e os atritos entre Palácio do Planalto e Congresso para tramitação das MPs que estão para caducar entre fim de maio e início de junho. Em maio, o índice acumula um pequeno ganho de 0,04%, após chegar a afundar 6,6% na sessão do dia 17, quando atingiu a mínima intradia de 89,4 mil pontos e encerrou a 89,9 mil pontos. A reação do Ibovespa na última semana do mês pode acabar com a sina de registrar um maio positivo desde 2009, reforçando o lema típico de Wall Street “sell in May and go away” (venda em maio e se mande).
Quais foram as novidades de Brasília?
O presidente Jair Bolsonaro cumpriu sua palavra após as manifestações favoráveis a seu governo no domingo e se reuniu com as lideranças dos outros Poderes da República. Bolsonaro tomou café-da-manhã com presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), com presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o presidente do STF José Antônio Dias Toffoli.
Após o encontro, o ministro-chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni afirmou que houve um acordo para um pacto em prol do crescimento econômico, sem revelar quais medidas serão adotadas. O anúncio do pacto simboliza a diminuição das tensões entre os três poderes e uma pausa de tensionamentos a partir da Presidência da República, que estimulou as manifestações de domingo cuja uma das pautas era ataques ao STF e ao Congresso.
Após o café-da-manhã com Bolsonaro, Maia se reuniu com ministro da Economia Paulo Guedes e conversaram sobre mudanças da regra de ouro, dispositivo fiscal que impede o governo de realizar empréstimos para honrar gastos de custeio. Caso o Congresso ao menos não vote autorização de crédito suplementar para o governo honrar R$ 248 bilhões em gastos no segundo semestre, há possibilidade de o governo paralisar ou violar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Maia também foi protagonista nas novidades da reforma da Previdência. O presidente da Câmara confirmou o aceno do relator da Previdência na Comissão Especial, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), de apresentar o texto antes de 15 de junho, o que pode viabilizar a votação no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar de julho.
Em relação à Medida Provisória da reforma administrativa, o presidente Bolsonaro ordenou os senadores de seu partido a não votar destaque que retorna o Coaf ao Ministério da Justiça. Os senadores acataram e impede de, com a MP aprovada com o destaque no Senado, retornar ao plenário da Câmara, com risco de a votação não acontecer em até 3 de junho, dia que caduca a reforma. Caso ela não seja aprovada até essa data, a estrutura administrativa do governo Michel de Temer de 29 pastas retorna.
Exterior
Houve poucas novidades relacionadas à guerra comercial entre EUA e China. Mesmo assim, o prolongamento da disputa comercial dos EUA com a China, que já dura há um ano, pode impactar no crescimento econômico e trazer instabilidades no mercado, levando investidores se refugiam em ativos portos-seguros, entre os quais o título do Tesouro americano com vencimento em 10 anos.
A demanda pelo título continuou a crescer nesta terça-feira. Os rendimentos, conhecido também por yield, caíram 2,64%, para 2,268%, menor nível desde 2017. O yield cai quando sobe a demanda, e vice-versa. A queda sinaliza que os investidores apostam que o Federal Reserve (Fed) vai reduzir as taxas de juros nos EUA para sustentar a economia diante a tensão comercial.
Em Wall Street, os índices terminaram no vermelho com as incertezas. O índice Dow Jones despencou 0,93%, S&P 500 perdeu 0,84% e Nasdaq caiu 0,39%. O índice VIX, conhecido como índice do medo e é um termômetro da volatilidade do mercado, subiu 10,41%. Quanto mais alto o índice, maior é a tendência de volatilidade.
Ações
- MAGAZINE LUIZA avançou 6,18%, enquanto CARREFOUR BRASIL ganhou 5,4%, após as empresas anunciarem na véspera parceria por meio da qual o Magazine Luiza (SA:MGLU3) venderá eletrodomésticos e produtos eletrônicos em duas lojas do grupo supermercadista por um prazo de seis meses.
- B2W (SA:BTOW3) subiu 6,57%, após três pregões consecutivos de queda, enquanto LOJAS RENNER valorizou-se 3,58% e VIA VAREJO elevou-se 3,52%, em sessão positiva para o setor varejista. "O bom humor quanto à aprovação da reforma da Previdência é um fator de impulso para as ações do setor de varejo, que será um dos grandes beneficiados em caso de sucesso", afirmou Guimarães, da Levante.
- EDP (SA:ENBR3) BRASIL teve alta de 2,19%, na esteira de anúncio da companhia de acerto com a CEE Power e Brafer para aquisição da Litoral Sul Transmissora de Energia, que possui linhas de transmissão em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A operação está sujeita à aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) ganhou 2,13% e PETROBRAS ON (SA:PETR3) subiu 1,36%, em linha com a alta do preço do petróleo no exterior. A estatal embarcará petróleo em junho e julho para armazenamento na China visando responder mais rápido à demanda de refinarias independentes do país, disseram fontes. Além disso, reverberou a notícia de que a Petrobras está perto de vender dois campos de petróleo offshore, processo que pode alcançar cerca de 1 bilhão de dólares.
- CSN (SA:CSNA3) recuou 4,23%, um dia após encerrar em seu maior nível de fechamento desde 7 de abril de 2011. As ações têm sido beneficiadas por relativo otimismo de investidores sobre as perspectivas da empresa, que anunciou recentemente reajuste de preços de aço e que se beneficia com alta dos preços do minério de ferro na China e pela desvalorização do real contra o dólar.
*Reuters contribuiu com essa matéria