DETROIT/SÃO PAULO (Reuters) - A Ford (NYSE:F); (SA:FDMO34) anunciou nesta segunda-feira que vai fechar suas três fábricas restantes no Brasil neste ano e assumir encargos antes de impostos de cerca de 4,1 bilhões de dólares, como parte de uma reestruturação que a empresa afirma ser global e que já havia atingido em 2019 a histórica unidade da companhia em São Bernardo do Campo (SP).
A produção cessará imediatamente nas fábricas da Ford em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), com a produção de alguns produtos sendo ainda mantida por alguns meses para sustentar os estoques para vendas de reposição. A unidade que monta o utilitário Troller, em Horizonte (CE), continuará operando até o quarto trimestre.
A maior das três fábricas da empresa fica no polo de Camaçari (BA), onde a empresa emprega cerca de 10 mil funcionários e fabrica os modelos Ecosport e Ka, afirmou um diretor do sindicato local, acrescentando que a unidade até agora tem trabalhado em dois turnos.
A empresa estava convocando dirigentes das fábricas para uma reunião "de emergência" nesta tarde, segundo as entidades.
Em mensagem gravada e distribuída por redes sociais, o presidente do sindicato de metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, convocou uma assembleia "de urgência" de trabalhadores para a terça-feira para discutir o anúncio de fechamento da fábrica.
"É um comunicado que para a gente é muito difícil de absorver...Amanhã vamos tentar fazer algum direcionamento, isso bateu nas nossas costas de forma muito forte. Nunca imaginamos que isso aconteceria no Brasil: o fechamento da produção de veículos de uma empresa como a Ford."
Em Taubaté, a montadora norte-americana emprega cerca de 800 funcionários, informou o sindicato local. A fábrica produz motores e transmissões.
Procurada, a Ford informou que emprega no Brasil 6.171 funcionários. Em São Paulo são 1.652, na Bahia 4.059 e no Ceará 460. A empresa não se manifestou além da publicação de comunicado à imprensa.
"Como resultado, a companhia vai parar as vendas do EcoSport, Ka e do T4 assim que os estoques forem vendidos. As operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as vendas em outros países sul-americanos não serão afetadas", informou a Ford em comunicado.
"A Ford vai continuar a facilitar alternativas razoáveis para as partes interessadas assumirem as fábricas", acrescentou a companhia.
A Ford afirma que foi a primeira indústria automotiva a se instalar no Brasil, em 1919. A empresa inaugurou uma fábrica na cidade de São Paulo em 1953, e o primeiro veículo Ford, o caminhão F-600, saiu da linha de montagem em agosto de 1957.
A anúncio da Ford ocorreu cerca de um mês depois que a alemã Mercedes-Benz divulgou o fechamento da produção de carros em Iracemápolis (SP) após concluir que a unidade não se enquadra mais no processo de reestruturação do grupo.
Procurada, a associação que representa as montadoras de veículos no Brasil preferiu não se manifestar sobre o assunto, mas afirmou em breve comunicado que respeita e lamenta a decisão da Ford. "Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o 'Custo Brasil'", declarou.
A Anfavea informou na semana passada que espera que as vendas de veículos novos no Brasil cresçam 25% este ano, para 2,52 milhões de unidades. Apesar do crescimento, o volume projetado ainda representa uma ociosidade de cerca de 50%, uma vez que a capacidade nominal da indústria nacional é de produção de 5 milhões de veículos por ano. Em 2020, as vendas caíram cerca de 26%.
(Com reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr. e Leonardo Benassatto, em São Paulo)