Por Guillermo Parra-Bernal e Tatiana Bautzer
SÃO PAULO (Reuters) - O valor de fusões e aquisições no Brasil no segundo trimestre teve o maior aumento em mais de um ano, impulsionado por otimismo envolvendo redução nas tensões políticas e econômicas que atraiu investidores de volta ao país.
Companhias anunciaram 9,591 bilhões de dólares em transações no trimestre até 30 de junho, segundo dados da Thomson Reuters. Esse valor é mais que o dobro do total do primeiro trimestre, quando as tensões em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff mantiveram compradores fora do mercado.
Com as expectativas de que o Senado confirme o impeachment da presidente Dilma em agosto, encerrando meses de incertezas sobre a continuidade de seu governo, executivos de bancos e advogados afirmam que as companhias estão retomando a busca por alvos de aquisição.
Fundos soberanos e empresas de investimentos em participações estão contando que o governo do presidente interino Michel Temer elimine políticas intervencionistas do governo anterior, algo que alguns investidores culpam por levar o Brasil à recessão.
Além da redução das turbulências políticas, a redução nos preços dos ativos nos últimos meses tornou empresas do país alvos mais atraentes para investidores, o que deve ajudar a movimentar os acordos de fusão e aquisição nos próximos meses.
"O sentimento negativo que resultou em adiamento de acordos no começo do ano praticamente desapareceu", disse Marco Gonçalves, encarregado pela área de fusões e aquisições do BTG Pactual (SA:BBTG11), que lidera o ranking de assessorias de operações do tipo no país este ano.
"Sentimos que os anúncios (de negócios) estão finalmente ganhando impulso", acrescentou.
PERÍODO DE ESTABILIDADE
Em junho, a Ultrapar (SA:UGPA3) anunciou a compra da rede de postos de combustíveis Ale por 2,17 bilhões de reais.
Nesta sexta-feira, a segunda maior empresa de educação superior privada do Brasil, Estácio (SA:ESTC3), anunciou que aceitou termos financeiros melhorados oferecidos pela rival maior Kroton (SA:KROT3) para sua aquisição, em uma operação avaliada em 5,5 bilhões de reais.
Uma onda de venda de ativos estatais deve ocorrer nos próximos meses, afirmou Maria Cristina Cescon, sócia fundadora do escritório de advocacia Souza Cescon.
Serviços financeiros, eletricidade e saúde, setores que se mostraram resistentes à crise do país, devem passar por atividades de fusões e aquisições neste ano, disse Alessandro Farkuh, diretor da área no Bradesco (SA:BBDC4) BBI.
"Compradores potenciais estão mudando de mentalidade e se preparando para um novo período de estabilidade", disse Farkuh, que estima que empresas de investimentos em participações têm até 50 bilhões de reais em fundos disponíveis para aquisições.
VALOR DE FUSÕES SOBE
No primeiro semestre, os anúncios de fusões e aquisições subiram 25 por cento, para 13,682 bilhões de dólares, segundo os dados da Thomson Reuters. O número de acordos anunciados, porém, caiu de 302 um ano antes para 258.
O BTG Pactual liderou os rankings de assessorias tanto em valor quanto em número de operações, depois de trabalhar em 16 transações avaliadas em 4,637 bilhões de dólares.
Gonçalves afirmou que sua equipe no BTG Pactual está assessorando a Estácio e a Inbrands, que discute uma proposta de aquisição pela rival Restoque.
O Itaú Unibanco (SA:ITUB4) ficou em segundo nos rankings em valor e em número de operações. Os acordo assessorados pelo banco incluíram a compra da AES Sul pela CPFL Energia (SA:CPFE3).
"Investidores estratégicos de longo prazo estão vendo os desafios do Brasil como uma oportunidade", disse Roderick Greenlees, diretor global da área de banco de investimento do Itaú.
Rank em Assessor Valor de Nº de
valor transações acordos
(em US$)
1 BTG Pactual 4,637 bi 16
2 Itaú BBA 4,565 bi 15
3 Morgan Stanley (NYSE:MS) 2,278 bi 5
4 Rothschild 2,234 bi 4
5 Citigroup 1,670 bi 2
6* Barclays (LON:BARC) 1,500 bi 1
6* Deutsche Bank 1,500 bi 1
6* Goldman Sachs 1,500 bi 1
6* Industrial Securities 1,500 bi 1
10 Lazard 1,390 bi 3
Total da indústria 13,682 bi 258