Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O governo enxerga com tranquilidade o momento vivido pela companhia aérea Azul (BVMF:AZUL4), apesar dos desafios financeiros da empresa, disse o secretário nacional de aviação civil do Ministério de Portos e Aeroportos, Tomé Franca.
"O ministério tem acompanhado o tema com tranquilidade porque a Azul é uma empresa extremamente consolidada e estruturada no mercado aviação, com forte alcance regional", afirmou à Reuters.
As ações da Azul desabaram desde a semana passada, conforme aumentaram as preocupações sobre a alavancagem da companhia, pressionada pela desvalorização do real, e eventuais alternativas para lidar com suas dívidas.
Na última quinta-feira, o presidente-executivo da Azul, John Rodgerson, afirmou que a companhia aérea está saudável financeiramente, recebendo novas aeronaves, e que não tem planos de fazer um pedido de recuperação judicial.
Em fato relevante no mesmo dia, a empresa reafirmou uma série de negociações que havia divulgado anteriormente envolvendo ações para melhoria de sua estrutura de capital.
O gatilho para o tombo dos papéis foi uma reportagem da Bloomberg News de que a Azul está avaliando opções que vão desde uma oferta de ações até à apresentação de um pedido de recuperação judicial para fazer frente às obrigações de dívida. De acordo com a Azul, a notícia foi "mal interpretada".
Desde então, contudo, os papéis acumularam até a véspera uma queda de cerca de 33%, tendo renovado mínimas históricas. Nesta quarta-feira, por volta de 15h50, as ações avançavam 4,73%, a 5,09 reais, enquanto o Ibovespa tinha alta de 1,4%.
No começo desta semana, a S&P cortou o rating global Azul para "CCC+", afirmando que os resultados no primeiro semestre foram mais fracos do que esperavam, ampliando seu déficit de fluxo de caixa operacional no ano e enfraquecendo a liquidez.
No radar da Azul, está o projeto que reformula a Política Nacional do Turismo e, entre outros prontos, reabre a possibilidade de empréstimos garantidos pelo Fundo Nacional da Aviação Civil (Fnac) para companhias aéreas.
De acordo com o presidente da Azul, na última quinta-feira, "com certeza" a empresa vai recorrer aos recursos do Fnac, que prevê 5 bilhões de reais anuais em crédito ao setor. Já aprovado no Congresso, ele aguarda a sanção presidencial.
Rodgerson não citou valores, mas mencionou que a Azul pode se candidatar a receber "um terço" do montante do fundo. "É uma dívida um pouco mais barata do que conseguiríamos no mercado."
Pelas regras do projeto, os recursos do Fnac não poderão ser usados para abatimento ou alongamento de dívidas, mas dão mais fôlego às empresas. De acordo com o secretário nacional de aviação civil, é uma solução usada por outros países, especialmente no período da pandemia, quando as receitas das companhias aéreas despencaram.
"Estados Unidos, França, Alemanha, Portugal, todos concederam milhões de dólares para as empresas aéreas no período da pandemia", disse o secretário.
Franca acrescentou que demanda aérea segue forte no país bem como a atividade econômica, o que cria perspectivas positivas para o setor da aviação.
"O movimento aéreo no Brasil continua muito forte, com crescimento perto de 5% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado, a economia brasileira mostra força, cresce acima das expectativas", citou.
"Acredito que as empresas aéreas terão aqui um cenário ideal para ampliar sua capacidade de atendimento e se equilibrarem financeiramente."