Na contramão da retomada em Nova York, o Ibovespa estendeu a série negativa pelo terceiro dia, alongando a sequência abaixo dos 100 mil pontos pela quinta sessão, um degrau a mais afastado da linha dos seis dígitos, agora aos 98 mil pontos. Hoje, a referência da B3 (SA:B3SA3) foi aos 97.775,07 pontos na mínima, no menor nível intradia desde 4 de novembro de 2020, então aos 95.987,42 pontos durante aquela sessão. No encerramento desta quinta-feira, também o menor desde 4/11/20, cedeu 1,45%, aos 98.080,34 pontos, tendo chegado na máxima aos 100.231,96, saindo de abertura aos 99.523,39 pontos. Na semana, cai 1,75%, colocando as perdas do mês a 11,92% e as do ano a 6,43%. Moderado, o giro financeiro ficou em R$ 24,7 bilhões.
A persistente incerteza sobre o que o governo fará em relação à pressão dos combustíveis sobre a inflação, e o custo fiscal decorrente de eventual atuação sobre os preços, seja de forma direta ou por concessão de benefícios, mantém o apetite por risco contido na B3, no momento em que o câmbio reflete não apenas o avanço dos juros no exterior, mas também as dúvidas sobre a trajetória local para as contas públicas. Hoje, o dólar à vista fechou em alta de 1,02%, a R$ 5,2298, tendo chegado na máxima do dia aos R$ 5,2355.
Apesar da recuperação vista em Nova York - onde os ganhos chegam agora a 4,02% (Nasdaq) na semana -, os dados de atividade no exterior, como os PMIs preliminares de junho divulgados hoje na Europa, têm reforçado a cautela dos investidores, em meio à expectativa para a elevação dos custos de crédito mesmo em áreas onde há muito a política monetária permanecia afrouxada, como a zona do euro.
"O Banco Central Europeu iniciará no próximo mês o aperto monetário (que já começou para o Banco da Inglaterra), o que, combinado aos PMIs fracos desta quinta-feira, deixou as bolsas europeias em terreno negativo na sessão", observa Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3.
Além disso, "os PMIs dos Estados Unidos para junho trouxeram mais uma surpresa negativa, tanto no de manufatura como no de serviços, ambos muito ruins, em mínimas de dois anos. Acendem sinal amarelo de recessão. Na Europa, os PMIs estão em mínimas de mais de um ano, o que completa o quadro de desaceleração global e possível recessão", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Aqui, a elevação do "voucher" em estudo para os caminhoneiros, de R$ 400 para R$ 1.000, tem causado apreensão no mercado porque "mexeria muito no fiscal", observa Esteves, da Blue3.
"O ambiente permanece bem negativo para o mercado depois da última semana, que já havia sido muito ruim. O cenário internacional também ficou mais negativo, não temos conseguido nos desvencilhar desde que o Federal Reserve tem se mostrado mais empenhado em promover altas expressivas nos juros. Há receio em torno de uma recessão a caminho nos Estados Unidos. O cenário global está pesado, o que deixa o Ibovespa preso, mesmo com os descontos", diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.
Ainda assim, na B3, algumas ações conseguiram se descolar da aversão a risco que pesou forte sobre os papéis e segmentos mais líquidos, de maior ponderação no Ibovespa. Na ponta de ganhos do índice, destaque hoje para Locaweb (SA:LWSA3) (+9,01%), BRF (SA:BRFS3) (+7,80%) e Petz (SA:PETZ3) (+6,26%), à frente de Magazine Luiza (SA:MGLU3) (+4,51%), Americanas ON (SA:AMER3) (+4,42%) e Via (+3,49%), com o segmento de varejo ainda acumulando fortes perdas no mês como no ano. No lado oposto do Ibovespa, apareceram hoje SLC Agrícola (SA:SLCE3) (-6,67%), Qualicorp (SA:QUAL3) (-4,32%) e Ultrapar (SA:UGPA3) (-4,05%).
Entre as ações e setores mais líquidos, destaque para perda de 3,65% em Vale ON (SA:VALE3), de 2,12% e de 1,85% respectivamente para Petrobras ON (SA:PETR3) e PN, enquanto as quedas no setor de siderurgia chegaram a 3,65% (Usiminas (SA:USIM5) PNA) e a 2,64% entre os grandes bancos (Bradesco (SA:BBDC4) PN).