O Ibovespa colheu apenas perdas nesta primeira semana completa de junho, estendendo a série negativa pelo sexto dia e elevando a 5,06% a queda acumulada nas últimas cinco sessões, após retração de 0,75% na semana anterior. O intervalo é o pior desde as sete perdas seguidas observadas na segunda quinzena de abril. Hoje, a {ecl-56||inflação}} a 8,6% ao ano nos Estados Unidos em maio, no maior nível desde 1981, derrubou os mercados no exterior, que já vinham de aversão a risco ontem, quando prevaleceram sinais mais duros do Banco Central Europeu (BCE) quanto à orientação da política monetária na zona do euro para os próximos meses.
Assim, em dia de moderada leitura positiva sobre as vendas do varejo no Brasil - ainda em expansão na margem, mas em desaceleração de ritmo frente aos três resultados anteriores a abril, agora 4% acima do nível pré-pandemia -, a referência da B3 (SA:B3SA3) acompanhou o mal-estar externo e fechou em baixa de 1,51%, aos 105.481,23 pontos. Nas últimas seis sessões, a perda acumulada chega a 6,15% ante o último dia 2, data em que o Ibovespa, a 112.392,91 pontos, obteve seu melhor nível de fechamento desde 20 de abril.
Nesta sexta-feira, oscilou entre mínima de 104.647,59, menor nível intradia desde 12 de maio (103.578,58), e máxima de 107.092,37, quase equivalente à abertura do dia (107.091,09). Em relação ao fechamento de maio, o índice tem agora retração de 5.869,28 pontos, acumulando perdas diárias acima da marca de 1% nas últimas três sessões. O nível de fechamento, hoje, foi o menor desde 11 de maio (104.396,90 pontos). Mostrando evolução desde ontem, o giro financeiro subiu hoje para R$ 30,6 bilhões. No mês, o Ibovespa acumula queda de 5,27%, limitando o ganho do ano a 0,63%. A perda desta semana foi a maior desde outubro passado, quando o Ibovespa havia cedido 7,28% entre os dias 18 e 22 daquele mês.
"A inflação acumulada em 12 meses nos Estados Unidos, a 8,6% em maio, veio acima da expectativa do mercado, com mediana ao redor de 8,2%. Quando se olha para o núcleo, que exclui itens mais voláteis, como alimentação e energia, a leitura foi de 6% em 12 meses, ainda bem acima da meta de inflação no país. O núcleo mostra que, para além da guerra no leste europeu, que acentuou a inflação global pelo efeito sobre commodities agrícolas e de energia, há uma atividade econômica forte nos Estados Unidos, com inflação de 5,2% no setor de serviços, excluindo o setor de energia, no acumulado em 12 meses", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
"O dado de inflação nos Estados Unidos, com alta de 1% no mês, foi horrível, pior do que o esperado, e os mercados, como era de se esperar, azedaram ainda mais" neste fechamento de semana, observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "Inflação rodando a 8% ao ano nos Estados Unidos e na Europa não é qualquer coisa: estamos falando de inflação em dólar, em euro. Os BCs estão reagindo. Semana que vem tem a reunião do Federal Reserve, com aumento de meio ponto (nos juros de referência) já precificado pelo mercado."
"A inflação americana preocupa, e isso impactou todas as bolsas hoje. A perspectiva é de juros ainda mais altos nos Estados Unidos, o que é muito ruim para ativos de Bolsa", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.
No front corporativo, as ações da Eletrobras (SA:ELET3) passaram hoje por correção (ON -4,74%, PNB -6,59%) após o fechamento da oferta da estatal, ontem. As ações foram vendidas aos investidores a R$ 42, desconto de 3,4% em relação ao preço de fechamento do dia 27 de maio, a R$ 43,46, quando a transação foi protocolada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Securities and Exchange Comission (SEC), dos EUA. A operação atraiu grandes fundos internacionais, respondendo por 45% da demanda. Foram movimentados R$ 33,7 bilhões nesta que foi a maior oferta de ações em bolsa neste ano no Brasil, reportam Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt, do Broadcast.
"A expectativa do mercado é de que as ações da Eletrobras cheguem a um preço médio de R$ 50, R$ 55 por unidade, o que representa valorização de 20% em 2022, até dezembro. E por que caiu hoje? Investidores que não estão confortáveis com esse preço, os que duvidam do ganho de 20% neste ano, mostram desconforto e vendem os papéis. Dada sua posição, optam por se retirar", diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, acrescentando que, de forma geral, a precificação foi bem recebida no mercado.
"Há apetite por Eletrobras, a despeito dessa queda de hoje, dos investidores que mostraram incompatibilidade com essa precificação de R$ 42, antes do início da colocação no mercado de capitais", observa a economista da Reag, casa que projeta avanço de 10% a 15% no ano para as ações da empresa.
"Ontem à noite saiu o preço do 'bookbuilding' nesse lote do governo, de R$ 42. E todos os que trabalharam essa oferta levaram integralmente o valor solicitado. Algumas corretoras e bancos solicitaram talvez valor acima do que gostariam, contando que a oferta poderia ter algum tipo de rateio, para que coubesse todo mundo. Alguns usaram essa estratégia de entrar pedindo mais do que deveria, e acabaram levando tudo. E isso gerou um fluxo grande de venda desse papel hoje para poder ajustar para o valor correto", diz Alves, da Valor Investimentos.
Na ponta negativa do Ibovespa nesta última sessão da semana, além de Eletrobras PNB (SA:ELET6), destaque também para Americanas ON (SA:AMER3) (-10,63%), Banco Inter (SA:BIDI4) (-6,87%) e Azul (SA:AZUL4) (-6,62%). No lado oposto, Qualicorp (SA:QUAL3) (+7,39%), CSN Mineração (SA:CMIN3) (+3,98%) e Raia Drogasil (SA:RADL3) (+0,73%). Entre as blue chips, o desempenho foi amplamente negativo, à exceção de Vale ON (SA:VALE3) (+0,02%). Petrobras ON (SA:PETR3) e PN fecharam, respectivamente, em queda de 1,26% e 1,40%, enquanto as perdas entre os grandes bancos chegaram a 2,19% (Itaú (SA:ITUB4) PN).
As expectativas do mercado financeiro estão mais conservadoras sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, mas a previsão de alta para a próxima semana ainda prevalece. Entre os participantes, 50,00% acreditam em ganhos para o Ibovespa; 30,00%, em estabilidade; e 20,00%, em queda. No levantamento da semana passada, a expectativa de alta tinha fatia de 60,00% e a de variação neutra, 26,67%. Os que esperavam baixa eram 13,33%.