MP 1303 caiu: comemoração ou preocupação do mercado, eis a questão?
SÃO PAULO (Reuters) - A comercialização de cimento no Brasil este ano deve crescer 2% sobre o forte desempenho de 2024, impulsionada em parte pela expansão do Nordeste, que mostra uma evolução no acumulado do ano até setembro de mais de 6%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela associação de fabricantes do insumo, Snic.
A expectativa é ligeiramente melhor que a estimativa de início de ano da entidade, que apontava para o desempenho positivo de cerca de 1%.
"O programa Minha Casa Minha Vida lá (Nordeste) está forte, tem demanda alta por construção habitacional popular e saneamento, cujas obras finalmente estão saindo dos projetos", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna, em entrevista sobre o desempenho do setor no trimestre passado.
As vendas de cimento no Brasil em setembro cresceram 4,6%sobre um ano antes, para 6,07 milhões de toneladas, acumulando no terceiro trimestre crescimento de 1,7% sobre a comercialização do mesmo período de 2024, a 18,2 milhões de toneladas, segundo a entidade.
No acumulado do ano, as vendas mostram crescimento de 3%, a 50,2 milhões de toneladas, o que significa que a entidade espera uma desaceleração da comercialização no restante deste ano.
"Normalmente o segundo semestre tem uma sazonalidade positiva, mas estamos vendo uma desaceleração e a tendência é que o crescimento se reduza", disse o presidente do Snic, citando fatores que incluem queda nos lançamentos do programa MCMV e os juros elevados da economia.
Questionado sobre a expectativa para 2026, marcado por eleições, Penna se mostrou cauteloso, apesar das previsões de queda da Selic a partir do início do próximo ano.
"Tradicionalmente, ano de eleição tem uma movimentação maior da economia, mas não se espera nada muito grandioso que justifique otimismo maior para o ano que vem", disse o presidente do Snic. "Já estamos em uma base forte, de dois anos seguidos de alta (das vendas). Qualquer crescimento para o ano que vem já será um esforço importante."
Penna afirmou que o MCMV poderá atingir a contratação de 2,5 milhões de moradias entre 2023 e o final de 2026, o que implica em uma adição às vendas de cimento no Brasil de 12 milhões a 13 milhões de toneladas. A expectativa anterior de 10 milhões era baseada em um avanço do programa habitacional para uma contratação de 2 milhões de moradias até o fim de 2026.
"Vai superar a marca dos 2 milhões com folga", disse o presidente do Snic.
Para além de habitação e moradia, o setor está se movimentando para acelerar a substituição do asfalto pelo concreto como pavimento de ruas, avenidas e rodovias do país, disse Penna, citando como destaque o Paraná, que tem projetos para 800 quilômetros de rodovias com concreto.
A vantagem do concreto é que permite uma durabilidade maior que o asfalto, reduz a temperatura ambiente e precisa de menos infraestrutura de iluminação por ser mais claro que o material derivado de petróleo, segundo o Snic.
Além do Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal e algumas cidades do Nordeste têm desenvolvido projetos de pavimento rodoviário com concreto, disse Penna.
"É um mercado que estamos com muita expectativa de ocupar", disse o presidente do Snic, referindo-se ao pavimento rodoviário.
Sobre a realização da cúpula climática COP30 em Belém em novembro, Penna afirmou que a entidade deve apresentar um plano para o setor neutralizar suas emissões de carbono até 2050. A indústria de cimento é uma das que mais emitem gases causadores do efeito estufa.
REGIÕES
No recorde regional, as vendas de cimento no Nordeste em setembro cresceram 10% sobre um ano antes, a 1,3 milhão de toneladas. A segunda região com maior expansão no período foi o Sul, com alta de 5,8%, a 991 mil toneladas.
Segundo os dados do Snic, o maior mercado do país, a região Sudeste, registrou vendas em setembro de 2,75 milhões de toneladas, alta de 2,3% sobre um ano antes. O Centro-Oeste cresceu 3,5% e o Norte apurou expansão de 2,2%.
No acumulado do ano, o Nordeste mostra crescimento de 6,4% nas vendas, enquanto o Sul sobe 3,8%. O Sudeste registra expansão de 1,5%, Norte cresce 2,4% e o Centro-Oeste, 2%, afirmou o Snic.