SÃO PAULO (Reuters) - A principal unidade do grupo Ultrapar (SA:UGPA3), Ipiranga, mantém suas estimativas de desempenho para o ano mesmo depois de ter registrado uma forte queda de margem de lucro no segundo trimestre, algo que a companhia espera que seja revertido com uma maior demanda por combustíveis no terceiro trimestre.
O resultado, apresentado na noite de quarta-feira, desagradou o mercado e pesava sobre as ações do grupo, que às 12h50 desta quinta-feira mostravam tombo de mais de 12%, liderando as quedas do Ibovespa.
"Com o volume se mantendo mais firme e a gente mantendo nossa participação de mercado, teremos uma recuperação gradual nos próximos meses", disse o presidente da Ipiranga, Marcelo Araújo, em teleconferência com analistas nesta quinta-feira.
"Estamos absolutamente convictos de que nossos planos são bastante robustos... Claramente vemos recuperação da margem, mas não vai ter grandes saltos de um mês para o outro porque os preços (dos combustíveis) estão altos e a demanda ainda está se aquecendo", acrescentou o executivo.
Segundo ele, a Ipiranga vai manter sua estratégia de defesa de participação de mercado e como espera um aumento no consumo de combustíveis no país nos próximos meses, até acima do previsto pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as metas da empresa definidas no início do ano são "perfeitamente possíveis de serem atingidas. Não vemos motivo para revisão do número."
Em fevereiro, a Ultrapar divulgou que espera que a Ipiranga apresente este ano um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2,1 bilhões a 2,5 bilhões de reais. No acumulado do primeiro semestre, a conta é de cerca de 985 milhões de reais.
Diante dos números, analistas fizeram múltiplos questionamentos sobre o desempenho da companhia e suas perspectivas durante a teleconferência, com alguns mencionando dificuldade em manter aposta de que as metas serão atingidas.
"Não mais acreditamos que nossa curva de margem para a Ipiranga é alcançável, então reduzimos as expectativas de margens futuras", escreveram em relatório analistas do Bradesco BBI.
"A Ipiranga apresentou um Ebitda de 76 reais por metro cúbico (53 quando excluídos eventos não recorrentes) ante nossa estimativa de 86 reais", afirmaram os analistas do BBI sobre o resultado do segundo trimestre. Eles citaram que, apesar do setor ter sido impactado por lockdowns e aumento de preços da Petrobras (SA:PETR4) no período, a diferença entre o resultado apresentado pela Ipiranga em relação à expectativa foi "significativamente maior quando comparada à BR Distribuidora (SA:BRDT3)".
Questionado sobre as duas medidas provisórias editadas pelo presidente Jair Bolsonaro que mudam regras do setor de distribuição de combustíveis, Araújo afirmou que o momento e a forma como os textos foram editados "causaram um pouco de surpresa", mas disse que os impactos de ambas as medidas para o grupo não devem ser relevantes.
No caso da medida que permite que os postos que exibem bandeiras de uma distribuidora possam comercializar combustíveis de outros fornecedores, o presidente da Ipiranga disse que o texto não "prejudica cláusulas contratuais já existentes ou futuras...O que o governo está propondo é mais uma alternativa possível aos dois modelos já existentes no setor".
Já no caso da MP que permite usineiros venderem etanol diretamente aos postos, Araújo afirmou que "a medida pode causar algum ruído na questão tributária, mas o alcance dela é muito limitado, não vai fazer grandes estragos".
REFINARIA
O presidente da Ultrapar, Frederico Curado, afirmou durante a teleconferência que o grupo segue negociando com a Petrobras a compra da refinaria Refap, mas que as negociações "estão levando mais tempo do que gostaríamos".
A compra da refinaria é uma das principais peças da estratégia de reestruturação da Ultrapar, que decidiu rever seu portfólio de ativos para se concentrar mais fortemente nas cadeias de petróleo e gás.
A empresa tinha uma expectativa de concluir as conversas com a Petrobras em julho, mas agora avalia que o processo poderá ser concluído até o final de outubro.
"Evidentemente, nossa proposta que foi selecionada pela Petrobras dá um bom equilíbrio entre retorno e risco e até o final de outubro é um prazo suficiente para encerrar as negociações a contento. Ainda não chegamos na conclusão."
(Por Alberto Alerigi Jr.)