Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após o forte recuo da véspera, as taxas dos DIs fecharam a terça-feira em alta, em especial entre os contratos mais longos, com investidores voltando a demonstrar ceticismo em relação à capacidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de equilibrar as contas públicas, em meio à cautela global quanto aos próximos passos do Federal Reserve.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,142%, ante 11,132% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,6%, ante o ajuste de 12,546%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,735%, ante 12,659%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,68%, ante 12,585%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,6%, ante 12,509%.
Na segunda-feira, a curva a termo brasileira passou por um forte movimento de retirada de prêmios, após a Reuters ter noticiado que o governo prepara medidas de contenção de gastos obrigatórios, a serem apresentadas após a realização do segundo turno das eleições municipais, no fim deste mês.
As taxas ensaiaram uma continuidade do movimento no início da sessão desta terça-feira, chegando a oscilar em baixa ante os ajustes da véspera. Entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, publicada pela Folha de S.Paulo, reforçou a defesa do cumprimento do arcabouço fiscal por parte do governo.
Mas, ainda pela manhã, as taxas migraram para o território positivo, refletindo certo esgotamento na curva do impulso de retirada de prêmios, com a alta do dólar ante o real, superior a 1%, também dando sustentação às taxas.
“Ontem (segunda) teve um pouco de realização (das altas recentes), em meio à notícia de contenção de gastos. Hoje (terça) volta o ceticismo de que o governo vai entregar, de fato, o corte de despesas necessário”, comentou durante a tarde Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos.
Além disso, conforme Rostagno, o mercado seguiu cauteloso em relação à próxima decisão de política monetária do Fed, em novembro, mantendo a perspectiva de corte de apenas 25 pontos-base -- e não de 50 pontos-base, como em setembro.
Comentários da presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, foram neste sentido. Segundo ela, mesmo com o corte do mês passado, a política monetária ainda está atuando para reduzir as pressões inflacionárias.
Embora Daly não tenha dito o que deseja ver na política monetária daqui para frente, ela disse que o Fed "deve permanecer vigilante e ser intencional", trabalhando para manter a inflação dentro da meta.
Neste cenário, após marcar a mínima de 12,49% às 9h07, em baixa de 10 pontos-base ante o ajuste da véspera, a taxa do DI para janeiro de 2031 atingiu a máxima de 12,69% às 16h12, em alta de 11 pontos-base.
Na ponta curta, o avanço das taxas se traduziu em apostas um pouco maiores de que o Banco Central do Brasil poderá subir a taxa básica Selic em 75 pontos-base em novembro.
Perto do fechamento desta terça-feira, a curva precificava 92% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em novembro, contra 8% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na segunda-feira os percentuais eram de 98% e 2%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries curtos subiam no fim da tarde, mas os longos cediam. Às 16h47, o yield do Treasury de dois anos--que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- tinha alta de 1 pontos-base, a 3,954%. Já o retorno do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4 pontos-base, a 4,032%.